Ícones do design mobiliário que nasceram em São Paulo

Design e arquitetura engataram parcerias afiadas, como a cadeira de Lina Bo Bardi projetada para a primeira sede do Masp

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Por Marcelo Lima
3 min de leitura
Casa de Vidro de Lina Bo Bardi, no bairro do Morumbi, em São Paulo Foto: Hélvio Romero/Estadão

Ao longo do século 20, arquitetos de todo o mundo se dedicaram à tarefa de desenhar móveis. Uma atividade, a princípio, tomada como complementar ao projeto do edifício, mas que logo passou a ser vista como necessária, uma vez que o mobiliário tradicional não mais se ajustava ao ideário da arquitetura moderna. Global desde então, São Paulo não ficou alheia ao processo. Por aqui, design e arquitetura engataram parcerias afinadas e o resultado salta aos olhos: móveis que se destacam não só por suas características particulares, mas por se vincularem diretamente à memória da cidade.

Primeiro a chegar, o ucraniano Gregori Warchavchik desembarca no Brasil um ano após a Semana de Arte Moderna de 1922 e, já em 1928, inaugura no bairro da Vila Mariana a primeira casa modernista do País.

Determinado a ver seu projeto livre de qualquer vestígio de passado, ele decide se ocupar de todas as etapas da obra e se encarrega pessoalmente da construção ao paisagismo, passando pelo desenho dos móveis e das luminárias do imóvel.

Tombada após a sua morte pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), a antiga residência do arquiteto pode hoje ser visitada, embora seu acervo original, composto por móveis peculiares como um porta-partituras e uma mesa de discos de madeira – hoje editados pela Etel Interiores – não estejam mais por lá. 

Cadeira com Bola de Latão, de Lina Bo Bardi Foto: Lina Bo Bardi

Outra recém-chegada, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi encontrou em São Paulo terreno fértil para o desenvolvimento de sua arquitetura e seu design. Em 1948, projeta sua primeira cadeira para a sede do Museu de Arte de São Paulo (Masp), então instalado na Rua Sete de Abril. Um móvel dobrável e empilhável, de madeira e couro, revolucionário para os padrões da época, inspirado nas cadeiras de circo. 

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Pouco tempo depois, em 1951, Lina desenha aquela que é considerada por muitos como sua peça de mobiliário mais enigmática, a Cadeira com Bola de Latão. Desta vez, para compor os interiores de sua Casa de Vidro, no Morumbi. Seu primeiro projeto na cidade, atual sede do Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, que exibe hoje grande parte do acervo do casal, incluindo quatro modelos do móvel, também reeditado pela Etel.

Carrega, igualmente, DNA modernista – e tradicional endereço de São Paulo – uma das poltronas mais difundidas pela mídia nos últimos anos: Paulistano, desenhada em 1957 pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha (Prêmio Pritzker 2006) para compor os salões do Clube Athletico Paulistano, nos Jardins, cuja sede também leva sua assinatura.

Poltrona Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha Foto: Futon Company

Constituída por uma única barra de aço dobrada sobre a qual se encaixa uma espécie de capa – de couro ou lona – a poltrona que levou o primeiro lugar na edição de estreia do Prêmio de Design Museu da Casa Brasileira, no ano de seu lançamento, há muito tempo deixou de frequentar os salões do clube.

Em compensação, graças a uma parceria de seu criador com a Objekto, desde 2004, passou a ser produzida e comercializada em vários países, além de ganhar uma nova casa: a sede do MoMA, em Nova York, onde, desde 2009, integra, merecidamente, a coleção permanente de design.

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