Uma superfície plana, estável e suspensa, pronta para servir de apoio às mais diversas atividades: eis, em resumo, a gênese de uma mesa. Isso, claro, no que ela tem de mais particular e essencial. Já resolvidas as questões de seu nivelamento e sustentação, tudo o mais pode mudar. Do seu tamanho e função ao número de pés. Ou, em se tratando de Milão, até mesmo funcionar como escultura, como aconteceu com muitos dos lançamentos apresentados nesta edição. ?Me inspirei na estrutura dos cristais naturais para compor mesas que parecem flutuar no ar?, descreve o designer japonês Tokujin Yoshioka, que acaba de apresentar Element, uma coleção de mesas e aparadores desenvolvida para a Desalto que parece desafiar a lei da gravidade, se inserindo como uma autêntica obra de arte dentro dos ambientes. Em essência, são móveis que contam com um único apoio central, inclinando-se em ângulo entre o topo e a base, de forma proposital, apenas para romper com o equilíbrio visual sugerido pela perpendicularidade. Uma ousadia só tornada possível pela habilidade da empresa em trabalhar o aço, que, não se vê, mas está no meio do revestimento de madeira. Isso permitiu ao designer dar forma a um projeto nada fácil em termos construtivos. Um ideal de subversão estética também exercitado por outra designer presente em Milão, a iraquiana Zaha Hadid, que se propôs a retrabalhar o mármore em uma série de mesas desenvolvidas para a Citco, que em nada remetem ao uso convencional que se faz da rocha. ?Livre de arestas, o mármore se torna um material mais abordável e visualmente mais leve?, desafia Zaha.
/MARCELO LIMA
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