Ana Paula Garrido - O Estado de S.Paulo Certamente, um dos desafios ao construir na praia é atingir as condições ideais de conforto térmico sem abrir mão da brisa do mar percorrendo os ambientes. Nesta casa na Praia da Baleia, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, esse objetivo foi plenamente alcançado. Os aparelhos de ar-condicionado até estão lá, na área íntima, mas pouco são usados. Ela é toda fresquinha e durante os dias mais quentes fica ainda melhor com as portas fechadas. O segredo? Uma técnica sugerida pelo proprietário, preocupado com questões ambientais, e adaptada pelo arquiteto Gustavo Calazans na reforma radical deste imóvel: a geotermia, segundo a qual a temperatura é constante em qualquer lugar da Terra a 2 m de profundidade. Para tanto, ele projetou um andar técnico localizado 2,20 m abaixo do nível do terreno, que, além de já contar com temperatura amena, é ventilado pela brisa que entra pelas aberturas no topo ? a casa fica ?suspensa?, a 30 cm acima do nível do terreno. Essas frestas garantem uma constante corrente de ar no piso subterrâneo. A colocação de grelhas (com controle de abertura e tela mosqueteira para proteção) em pontos específicos do chão da sala ? perto das portas ? e da cozinha, que estão justamente sobre o porão, garante que a brisa percorra todo o andar, por sucção. Janelas basculantes sobre as portas de correr são responsáveis por expelir o ar quente de dentro da casa. ?Durante os dias de mais calor é melhor deixar as portas fechadas até por uma questão de impulso: o ar quente quando sai pelas janelas puxa o ar frio que vem de baixo?, explica Calazans. O andar técnico ? de acesso camuflado pelo mancebo perto da escada ? ainda esconde outras funções importantes para o dia a dia. Lá estão a máquina da piscina, a adega e a estação para tratar a água da chuva, que depois é usada nos vasos sanitários e também para regar o jardim. Se no andar técnico tudo fica escondido, no térreo, cercado por portas de vidro, tudo fica bem às claras. Calazans optou pela laje nervurada, que ?permite vencer grandes vãos com poucos pilares?. O teto inusitado conta com outras funções: além de criarem um efeito estético, os nichos servem para acomodar a iluminação e ainda camuflam caixas de som. A estrutura, com cubos de diferentes profundidades, também permite embutir as instalações elétricas e hidráulicas do andar de cima. ?Ela tem a funcionalidade de um forro de gesso?, compara Calazans. Outra vantagem da laje aparente é que ela facilita a visualização dos possíveis pontos de oxidação nas ferragens (veja mais dicas de materiais para uma casa na praia na página 12). Os beirais de concreto da laje formam a varanda de todo o andar superior, onde ficam os quartos. ?Essa cobertura barra o sol na área social, ajudando a manter a casa fresca?, comenta o arquiteto. A mesma ideia de circulação de ar usada no térreo foi adaptada para o primeiro andar. No corredor, Calazans instalou janelas elétricas estreitas nas laterais, que, quando estão abertas, criam uma corrente, capaz de puxar o ar quente para fora da casa. A única mudança feita para atrair o sol e o calor foi na posição da piscina, que veio para a frente da casa para ?aproveitar melhor a insolação no período da tarde, quando os moradores voltam da praia?, explica Calazans. Acabamentos. A opção foi por materiais mais rústicos para os revestimentos, mas nem por isso menos especiais. A cerâmica de Francisco Brennand percorre todo o piso interno, com variações de tamanho e estampas que fazem as vezes de tapete na sala de TV e se destacam na bancada da cozinha. Na área externa, Calazans usou um piso com pedras de granito não lixadas para criar atrito. O mobiliário reúne objetos vindos da reforma que o arquiteto fez no imóvel dos proprietários em São Paulo e peças marchetadas criadas pelo designer Maurício Azeredo. Os mancebos que imitam troncos de árvores nos quartos são do artesão Morito Ebine. Nos banheiros, o destaque funcional fica por conta dos aquecedores elétricos que, apesar de não serem muito ecológicos, como o arquiteto reconhece, garantem a toalha seca nos dias de chuva, comuns na praia. A outra solução está no teto do mezanino, na parte da frente da casa. Lá há placas, da Ecotelhado, feitas de resíduo de calçadas e resina vegetal, que suportam um pequeno jardim e também ajudam a resfriar o imóvel. Além disso, o telhado tem um reservatório, semelhante a ?forminhas de gelo?, que retêm a água da chuva, que vai evaporando ao longo do tempo. ?Assim, as plantas conseguem sobreviver aos possíveis períodos de estiagem.?   CUIDADOS À BEIRA-MAR Piso: Segundo Calazans, materiais frios, como a cerâmica, são mais indicados por causa do calor. Sem contar que é confortável para pisar descalço e fácil de limpar, já que o contato com a areia e a maresia ? ?que mela tudo? ? é inevitável. Armários: O modelo sem porta evita o cheiro de mofo. Os de alvenaria também são indicados. Os fechados, mesmo com venezianas, devem ser evitados. Seja qual for a escolha, um desumidificador é sempre bem-vindo. Móveis: Prefira os de madeira, já que os de ferro oxidam facilmente e os de vidro sujam muito com a maresia. Estofados com tecidos devem ter capa para serem lavados. Vegetação: O ideal é uma casa sombreada e bem ventilada, para não deixar o ar úmido parado. Jardins próximos a terraços e piscinas criam um microclima ameno, diminuindo a necessidade de sistemas de resfriamento.