Foto do(a) blog

Uma alimentação consciente no paraíso da comilança

Estudantes de escolas públicas estão consumindo mais alimentos naturais

PUBLICIDADE

Por Juliana Carreiro
Merendeiras de escola pública de São Paulo. Crédito: Marcelo Chello.  

Ampliação do acesso a alimentos naturais e da oferta de frutas, verduras e legumes estão entre principais conquistas da Resolução 06

PUBLICIDADE

No post anterior, o Comida de Verdade apresentou um panorama do cumprimento da Resolução 6 de 2020 nos Estados e municípios do País, segundo o Fórum Nacional dos Conselhos de Alimentação Escolar. O documento publicado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) atualizou as normas para a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar, PNAE, para garantir um cardápio mais saudável em escolas públicas de todo o País. Hoje a ideia é trazer mais informações sobre este tema. 

Além da retirada de açúcar, para crianças até 3 anos, e de produtos como a margarina, há muitas outras conquistas importantes, como a exclusão de: bebidas de baixo valor nutricional, cereais com aditivos ou adoçados, balas e similares, confeito, bombons, chocolate, biscoito recheado, bolo com cobertura ou recheio, barra de cereal com aditivo ou adoçada, gelatina, gelados comestíveis, temperos com glutamatos monossódico, maionese e outros alimentos fontes de gordura trans.

A Resolução define que, no mínimo, 75% da verba da alimentação escolar devem ser destinados à aquisição de alimentos in natura ou minimamente processados. A oferta de frutas e hortaliças passou a ser de 280g por aluno, por semana para as escolas de período parcial e 520g para as de integral. Foram incluídos alimentos fonte de ferro heme (proteína animal), no mínimo, quatro dias por semana e os alimentos fonte de ferro não-heme (grupo do feijão) são acompanhados dos facilitadores de absorção (laranja). Alimentos fonte de vitamina A (couve, abóbora, cenoura), aparecem pelo menos, 3 dias por semana.

Benefícios dos alimentos in natura 

Publicidade

Segundo a Coordenadoria de Alimentação Escolar do município de São Paulo, CODAE: "Substituir embutidos, ultraprocessados e alimentos açucarados por versões mais naturais é crucial. Alimentos ultraprocessados estão associados a várias doenças crônicas, como obesidade e diabetes. Alimentos naturais como frutas, legumes, verduras e grãos integrais, são ricos em nutrientes essenciais como vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes. Esses nutrientes são fundamentais para o funcionamento adequado do organismo, ajudando a prevenir deficiências nutricionais e promover a saúde geral".

Ainda de acordo com o órgão: "Ensinar as crianças a consumirem alimentos saudáveis desde cedo pode formar hábitos alimentares positivos para toda a vida. Educá-las sobre a importância de escolher alimentos mais nutritivos e evitar os ultraprocessados contribui para o desenvolvimento de uma relação positiva com a comida, promovendo uma alimentação consciente e equilibrada".

O Conselho de Alimentação Escolar de São Paulo, CAE, aprova as mudanças. De acordo com a presidente da entidade, Márcia Fonseca Simões: "Há muitos anos São Paulo tem projetos de educação alimentar nutricional. Em relação ao cardápio dos CEI, Centro de Educação Infantil, realmente cresceu muito a oferta de frutas e de legumes, tem todo tipo de verdura, as crianças comem de três a quatro frutas por dia, comem cará, inhame, polvilho...Para os bebês, tem bolo de banana com cacau sem açúcar, o pão é feito nas unidades escolares, agora estão estudando opções de pães e biscoitos mais saudáveis".

Aumento da presença da agricultura familiar

Segundo a Coordenadora Geral do Pnae, Karine Silva dos Santos: "A Resolução 06 define que os cardápios da alimentação escolar devem ser elaborados pela nutricionista responsável técnica do PNAE em cada entidade executora (estados, municípios e distrito federal), tendo como base a utilização de alimentos in natura ou minimamente processados, de modo a respeitar as necessidades nutricionais, os hábitos alimentares, a cultura alimentar da localidade e pautar-se na sustentabilidade, sazonalidade e diversificação agrícola da região e na promoção da alimentação adequada e saudável". 

Publicidade

Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deve ser utilizado na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da Agricultura Familiar e do Empreendedor Familiar Rural ou suas organizações. Desde 2018 a média nacional alcançou o mínimo. Em 2022 a média de aquisição de alimentos da agricultura familiar foi de 45,15%, totalizando 1,6 bilhões em compras da agricultura familiar.

PUBLICIDADE

A CODAE serve diariamente cerca de 2,7 milhões de refeições para mais de um milhão de estudantes na Rede Municipal de Ensino de São Paulo, segundo o órgão: "Desde 2009, mantemos o compromisso e reconhecemos os benefícios multilaterais da política pública de incentivo à agricultura familiar, conforme a Resolução Federal que exige, no mínimo, 30% da verba do FNDE. Os investimentos ocorrem ao longo do ano e estamos empenhados em alcançar o percentual previsto na resolução até o término de 2024".

Educação nutricional nas escolas

A Resolução 06 também defende a ampliação da Educação Nutricional nas escolas públicas. O CGPAE, Coordenação-Geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar, do FNDE atua no monitoramento das Entidades Executoras e também em diversas ações de formação e elaboração de materiais para gestores, nutricionistas, conselheiros da alimentação escolar e outros atores para apoiar e qualificar a sua atuação (boa parte dos conteúdos e materiais podem ser encontrados no site do PNAE: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/pnae).

Karine complementa: "Ainda há desafios na execução do PNAE, como a estrutura física, material e de pessoal para preparo e oferta de refeições aos escolares, o financiamento da alimentação escolar nos estados e municípios, a curricularização da educação alimentar e nutricional. Mas cada alteração na legislação do PNAE tem causado impacto positivo nas refeições oferecidas para os escolares do País. Observamos o aumento de ações de Educação Alimentar e Nutricional. Em 2023, foi reconstituído o Comitê Gestor e Grupo Consultivo do PNAE, formado por diferentes representantes do governo federal e da sociedade civil, que  busca garantir uma alimentação saudável para os estudantes, ao mesmo tempo em que procura ampliar o acesso para os agricultores familiares".

Publicidade

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.