Uma alimentação consciente no paraíso da comilança

Seis mitos e verdades sobre o leite materno

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Por Juliana Carreiro
Atualização:

 

Começa hoje a Semana Mundial do Aleitamento Materno, promovida pela Organização Mundial da Saúde, em parceria com a Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, que busca divulgar os benefícios da amamentação e incentivar a sua prática, em 170 países. De acordo com a agência de notícias da ONU, se todos os bebês fossem amamentados nos seus dois primeiros anos, seria possível salvar a vida de mais de 820 mil crianças com menos de cinco anos no mundo, todos os anos. 

 

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No Brasil, um dos principais problemas relacionados ao tema é o tempo curto de amamentação exclusiva. De acordo com o Programa dos Mil Dias, da OMS, é fundamental que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses de vida e, de forma complementar, até os dois anos. Este ato colabora com a prevenção de doenças crônicas não-transmissíveis durante toda a vida, estas doenças estão entre as principais causas de mortalidade no mundo. Porém, por aqui, apenas 38,6% deles mamam até o sexto mês. 

 

Como já fiz em anos anteriores, vou aproveitar a data para apontar alguns benefícios pouco divulgados sobre a amamentação e para desmistificar algumas ideias erradas sobre o tema.

 

01-O colostro não é tão importante. 

Mito

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O colostro possui 700 espécies de bactérias saudáveis, que irão fazer a colonização inicial do intestino dos bebês e isso é fundamental para que ele tenha um sistema imunológico eficiente durante a vida toda. Estas bactérias são responsáveis pela formação de 70% das nossas células de defesa. Esta colonização adequada também auxilia o organismo na prevenção de processos alérgicos e de doenças crônicas não-transmissíveis, como diabetes, por exemplo, pelo resto de nossas vidas. É muito importante ressaltar que quando a criança não tem contato com o peito materno assim que nasce, na amamentação de primeira hora, muito provavelmente, receberá um soro com glicose no hospital e por conta disso terá sua primeira colonização intestinal feita com bactérias hospitalares, o que irá enfraquecer seu sistema imunológico desde o seu primeiro dia de vida.  

 

02-Depois dos 6 meses é bom substituir o leite materno por outros leites

Mito

Já é um consenso entre as Sociedades de Pediatra que se deve evitar a introdução de leite de vaca ou de leite de soja até que o pequeno complete seu primeiro ano de vida. Isso ocorre porque os dois alimentos têm alto potencial alergênico, são compostos por proteínas que ainda não são bem digeridas e causam processos inflamatórios no organismo. Mas o que vemos em muitos consultórios pediátricos é a recomendação para que as mães substituam o próprio leite por um de vaca ou pelas fórmulas, que quase sempre têm ele como base, antes mesmo do bebê completar seis meses de vida. No primeiro sinal de dificuldade das mães em amamentar, que são bastante comuns, a orientação costuma ser a do uso de alternativas. Quando é feita a substituição logo aparecem os primeiros sintomas, que podem se manifestar por meio de cólicas, refluxos, otite, bronquite, prisão de ventre e dermatite, entre muitos outros efeitos desagradáveis. De fato quando a criança já consome todos os grupos alimentares o leite materno já não é imprescindível para a sua nutrição. Porém, a sua função não acaba aí. É só a partir dos seis meses que o sistema imunológico dos pequenos ficará independente do materno, neste período de transição ele precisa dos fatores imunológicos que serão transmitidos pelo leite da mãe. Alguns órgãos não nascem totalmente prontos para cumprirem suas funções, como o rim, por exemplo, e quem irá colaborar com o término desta tarefa são substâncias presentes exclusivamente no leite materno. Este órgão, assim como o estômago e o intestino, só está preparado para lidar com as características deste alimento e qualquer outro que for oferecido irá prejudicar suas funções. 

 

03-O leite materno está fraco e não está suprindo as necessidades do bebê

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Falso

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Apesar desta afirmação ser falsa, durante a gestação e principalmente durante a fase da amamentação, a mulher precisa de uma imensa quantidade de nutrientes, esta é a etapa na qual ela terá a maior demanda de micronutrientes, como vitaminas e minerais, de toda a sua vida. Além de ter pouco tempo ou disposição para cozinhar e para se alimentar bem nos primeiros meses de vida do bebê, a falta de sono, comum nesta época e a ansiedade causada pela nova responsabilidade podem gerar uma situação de estresse, que elimina nutrientes do organismo. Portanto, ao mesmo tempo em que há um baixo consumo, o pouco que é ingerido também pode ser descartado. Por isso, em grande parte dos casos, estas quantidades não são alcançadas apenas com a alimentação e precisam ser suplementadas por profissionais da área. Se a mãe não tiver o aporte de vitaminas necessário para ela e para o bebê, o ideal é procurar um profissional para melhorar a alimentação, aumentando o consumo de frutas, verduras, legumes, cereais como arroz e leguminosas como o feijão e reduzindo a quantidade de ultraprocessados na rotina, fazer uma reposição, caso necessária e continuar amamentando, sem procurar substitutos para o seu leite, estas mudanças irão colaborar com o desenvolvimento do bebê. 

 

 04- A amamentação é fundamental para o desenvolvimento cerebral 

Verdade

O pico da nossa formação cerebral acontece entre o terceiro trimestre da gestação e o décimo oitavo mês de vida do bebê. O principal nutriente responsável por essa formação é o Ômega 3. Mas para que a mãe consiga suprir as necessidades nutricionais do feto e depois do bebê, é imprescindível que ela também esteja bem nutrida. Apesar do ômega 3 ser um nutriente fundamental, o seu consumo é muito baixo entre todos nós, isso ocorre porque os alimentos de onde ele viria são principalmente os peixes criados livremente, que se alimentam de plânctons, que não é o caso da maioria dos que são comercializados no País. Também já está comprovado que carências nutricionais da gestante na primeira metade da gravidez podem predispor o bebê a doenças neurocomportamentais como TDAH e autismo. Por outro lado, uma amamentação prolongada pode prevenir esses males.   

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05-A alimentação da mãe não interfere no bem-estar do bebê

Mito

Como vimos, os nutrientes ingeridos pela mãe ou a falta deles influenciam diretamente no desenvolvimento do seu filho. O mesmo acontece com o consumo de alimentos alergênicos, como o leite de vaca. Mesmo que a criança não tenha contato com ele, ela sofrerá as consequências quando os anticorpos gerados pela mãe chegarem até ela por meio do aleitamento, ocasionando os mesmos sintomas de quando o bebê ou a criança os ingerem. Muita gente diz até que o pequeno está com alergia ao leite materno, mas as reações indesejadas se referem ao que a mãe está comendo. Outro exemplo é a necessidade da suplementação de probióticos durante toda a gravidez e a fase de amamentação para a mãe e até para o bebê. A recomendação é das Sociedades Americana e Canadense de Pediatria. Os probióticos são os responsáveis pela criação de uma flora intestinal saudável. Aquela que será transmitida da mãe para o bebê por meio do colostro. 

 

06- Uma amamentação bem feita irá colaborar com a introdução de alimentos

Verdade

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O sabor de todos os alimentos que a mulher consome durante a gestação e a amamentação passa para os filhos por meio da placenta e depois do leite materno. Portanto, quanto mais ela consumir frutas, verduras e legumes variados, mais familiaridade a criança terá com estes alimentos na hora da introdução alimentar. 

 

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