Muitas meninas de diferentes gerações já sonharam em ser uma Barbie. Para Paola Antonini, influenciadora e atriz, a hora chegou. Aos 30 anos, a mineira foi selecionada para fazer parte do seleto grupo do projeto Mulheres Inspiradoras (Role Models, em inglês) ao lado de Kelen Ferreira, sobrevivente do incêndio da Boate Kiss. Elas são as primeiras brasileiras PCDs a virarem a boneca.

Em 2014, aos 20 anos, Paola Antonini sofreu um acidente de carro, que resultou na amputação de sua perna esquerda. Sua vida mudou completamente. Desde então, ela tem se tornado símbolo de empoderamento e inclusão, utilizando suas redes sociais para incentivar milhares de pessoas a superarem momentos desafiadores.
“Passa um filme na cabeça porque a Barbie sempre significou muito para mim, lembro da minha infância brincando com a casa da Barbie e eu nunca imaginaria tudo que aconteceria na minha vida da forma que foi”, diz ela em entrevista ao Estadão.
“Eu não imaginava que ganharia uma Barbie minha. Acho que esse momento me mostra que às vezes a gente não entende direito como a vida vai ser, né? Mas a vida é cheia de incertezas, surpresas. E olha que legal olhar pra trás e ver que a minha caminhada, apesar dos desafios, foi muito linda”, diz com o sorriso iluminando seu rosto.
Em 2020, Paola decidiu que era hora de criar seu próprio instituto e assim nasceu o Instituto Paola Antonini, dedicado à reabilitação gratuita para crianças e jovens de até 21 anos com deficiência física. Ao longo da entrevista, ela fala sobre o quanto pensa nas “criancinhas do instituto” e de como cada passo na sua trajetória é simbólico.
“Quando eu vi minha Barbie com minha perninha rosa brilhante, fiquei muito feliz. É algo muito legal. Como pessoa com deficiência, é importante saber que a gente pode estar ali, que nossos corpos serão representados da forma que forem. E é muito importante a Barbie mostrar a diversidade, com a beleza do jeitinho que é.”

O principal é poder olhar para as crianças e falar ‘ó, você pode ser uma Barbie, você pode ser o que você quiser’. É mostrar que a pessoa com deficiência pode, sim, ter seus desafios, suas adaptações - mas ‘impossível’ é uma palavra na qual não acredito"
Paola Antonini
O acidente de Paola Antonini
A trajetória de Paola mostra que a palavra ‘impossível’ não faz parte do seu vocabulário. Desde o dia do acidente, quando acordou e recebeu a notícia de que sua perna tinha sido amputada, até os dias atuais ela não deixa o pessimismo e o desânimo chegarem perto. Ela lembra que a primeira coisa que falou no dia seguinte do acidente foi: “Graças a Deus estou viva”.
“Perder uma perna não é algo simples, né? É uma mudança física e mental muito grande. São adaptações que até hoje preciso lidar, mas eu acho que naquele momento, aos 20 anos, o susto de quase perder minha vida foi muito grande”, relembra.
A atriz não sabia o que a esperava após o acidente: “Fui vivendo e pensando ‘vamos ver como vou estar amanhã’. E eu ainda estava grata, pensando ‘que bom que estou aqui’. O que é uma perna perto disso tudo, né? Sempre foi um pensamento que me acompanhou”.
Sempre tive essa vontade de aproveitar a vida. Eu estou aqui, preciso aproveitar cada segundo, tentar coisas novas, me desafiar"
Paola Antonini
O pai de Paola sentiu muito o baque, e ela conta que um dia o chamou para conversar e disse que se Deus lhe desse a chance de ele voltar atrás e impedir o acidente que não era pra impedir. “Não quero voltar atrás. Aprendi tanta coisa, minha vida mudou tanto e eu estou ganhando um propósito enorme”, comenta. “E ele entendeu”, diz ela com os olhos marejados.
Sobrevivente da tragédia da Boate Kiss também vira Barbie
O ano de 2013 foi marcado pelo trágico incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria. Mais de 250 jovens morreram. Kelen Ferreira sobreviveu. Numa recente série da Netflix, Paola Antonini foi escolhida para interpretar Kelen. As duas não se conheciam até às vésperas das gravações - e as trocas que tiveram, lembra Paola agora, foram essenciais para o projeto, claro, mas foram de extrema importância para a vida da atriz e influenciadora.

“A série foi um super desafio de atuação, mas não só. O trabalho também me colocou em contato com muitas coisas sobre mim mesma. Foi um processo de crescimento muito especial. Falo para Kelen que ela foi muito importante para mim — direta e indiretamente. Cresci muito com a história dela, me inspirando e vendo toda a trajetória que ela teve”, diz.
A amizade entre as duas foi instantânea, e começou quando Paola foi até Santa Maria antes das filmagens. As histórias dos acidentes e da sobrevivência das duas eram muito diferentes. Os desafios, porém, eram comuns.
“Eu não estava sozinha, tinha alguém na mesma caminhada que a minha. Continuei acompanhando ela e quando surgiu a oportunidade da Barbie, de nós duas sermos Role Models, foi um marco gigante”, fala.
Acho que hoje essa Barbie representa que tudo é possível para mim, que a gente pode chegar muito além do que a sonhamos. Podemos alcançar todos os nossos objetivos independentemente de tudo. Então, é um marco muito grande. E me deixa muito emocionada"
Paola Antonini
O projeto Barbie Role Model

O projeto Mulheres Inspiradoras da Barbie visa homenagear grandes mulheres ao redor do mundo. No Brasil, nomes como IZA, Rebeca Andrade, Maira Gomez e outras personalidades já foram inspirações para a sua versão Barbie.
Para os fãs da boneca, infelizmente essa é uma edição única onde apenas as mulheres convidadas para o projeto ganham o brinquedo. Paola espera que a sua boneca passe de mão em mão na sua família - que, de geração em geração sua história inspire filhas, sobrinhas, netas, bisnetas. “Isso tudo é muito forte”, finaliza.