Estudo publicado anteontem na revista Cell aponta uma ligação entre a serotonina - neurotransmissor que, entre outras funções, regula o sono, o apetite e o humor - e a formação do tecido ósseo. A pesquisa demonstrou que quanto mais serotonina chega ao osso, mais frágil ele se torna. E, inversamente, quanto menos serotonina, mais denso e forte o tecido se torna. Especialistas em osteoporose avaliam que a descoberta pode permitir a criação de um tratamento que promova a recuperação dos ossos fragilizados pela doença. Com uma exceção, os tratamentos atuais contra osteoporose apenas desaceleram o aumento da perda óssea, mas não estimulam o crescimento do tecido. A exceção - o hormônio paratiróide -, além de muito cara é recomendada só para o uso em prazos curtos. Mas a equipe de Gerard Karsenty, presidente do departamento de genética e desenvolvimento da Universidade de Colúmbia, reporta a descoberta de um sistema inesperado que parece controlar a formação óssea. No seu centro está a serotonina - produzida pelo intestino e não pelo cérebro. Cerca de 95% da serotonina do corpo é produzida pelo intestino e não pode entrar no cérebro, pois é impedida por uma membrana chamada barreira sangue-cérebro. Ao desacelerar a produção de serotonina, o pesquisador conseguiu até impedir a osteoporose induzida pela menopausa em camundongos. "Estou muito animado com esse trabalho", disse Christopher Gallaghen, especialista em osteoporose e professor de medicina na Universidade Creighton. "Nós ficamos absolutamente surpresos." Ethel Siris, que dirige o Centro de Osteoporose Toni Stabile, em Colúmbia, advertiu porém que o trabalho não se baseou em humanos, mas em camundongos geneticamente modificados para ter genes humanos. "Essa coisa é pesquisa básica. É realmente excitante, mas é básica", disse. A pesquisa sobre a conexão entre a serotonina e a formação dos ossos começou com relatos de uma condição hereditária rara que causava fragilidade óssea e cegueira. O problema se revelou uma mutação que desativava um gene chamado LRPS. Alguns anos depois, outra mutação foi descoberta no LRPS produzindo o efeito oposto: ossos extremamente densos e resistência à osteoporose. Nesse caso, o LRPS estava hiperativo. As pessoas com essa mutação genética, disse Karsenty, tinha maxilares tão densos que era difícil extrair seus dentes. Os pesquisadores de osteoporose se debruçaram sobre as descobertas, percebendo que o LRPS poderia conter chaves para a doença. Mas a maioria supunha que a ação do LRPS era no próprio osso. Com o trabalho de Karsenty, disse Bjorn Olsen, pesquisador de crescimento ósseo da Faculdade de Medicina de Harvard, "ficou comprovado que isso era absolutamente errado". Karsenty descobriu que o LRPS age nas células produtoras de serotonina no intestino. Ele bloqueia uma enzima que converte o aminoácido triptofano em serotonina. Quanto mais LRPS, mais a enzima é bloqueada e menos serotonina é produzida. O gene aparentemente não causa nenhum efeito nas células cerebrais que produzem serotonina. "Produzimos camundongos com o gene desativado", disse Karsenty, nos quais "as células formadoras de ossos estão em greve". As células simplesmente não cresciam, e os camundongos desenvolveram uma osteoporose grave. Mas as células ósseas em si estavam ótimas. Quando Karsenty as cultivou em laboratório, onde não foram expostas à serotonina, elas se desenvolveram normalmente. Isso mostrou que o problema não estava nas células ósseas, mas em alguma molécula na circulação dos camundongos. E isso, diz Karsenty, o levou à serotonina. Os camundongos tinham quatro a cinco vezes mais serotonina no sangue que camundongos sem a mutação.