Todos os dias, pouco antes das 6 horas, a cena se repete. De uma a duas centenas de pessoas fazem fila em frente ao Núcleo de Gestão Assistencial (NGA) da Várzea do Carmo, em São Paulo, para retirar remédios de alto custo, fornecidos pelo governo do Estado. Os portões abrem apenas às 7 horas, mas as pessoas ficam em pé, na fila, esperando sua vez. "Saí de casa às 4h30, em Guarulhos, peguei duas conduções e caminhei 20 minutos para buscar remédio para o meu filho", diz a dona de casa Olindina do Nascimento, que chegou às 6h45 ao local. "Esse remédio só tem aqui." Segundo ela, se pagasse, o medicamento custaria cerca de R$ 200. Em um dia de chuva do início deste mês, cerca de 150 pessoas aguardavam na fila. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, há nove núcleos que prestam o serviço de distribuição de medicamentos de alto custo na Região Metropolitana, cinco em São Paulo e quatro nas cidades vizinhas. "O atendimento no NGA Várzea do Carmo é totalmente informatizado e pode ser realizado rapidamente. Dizemos aos cidadãos que podem comparecer em qualquer horário do dia", informou a secretaria. Naquele local, são atendidas cerca de 2 mil pessoas diariamente. "Existe uma cultura de comparecer cedo aos órgãos públicos que, neste caso, não é necessária", complementa o órgão. Mas os usuários do serviço dizem que não adianta comparecer em outros horários. "O problema é aguardar cerca de 4 horas lá dentro para ser atendido", diz o aposentado Pedro de Souza, que veio de Guaianazes. "Se não chegar cedo, fica aí o dia todo." A cozinheira Zenilze Bezerra concorda. "O pessoal que atende é muito lento. Tinham de colocar mais gente neste horário, porque a maioria das pessoas precisa vir aqui antes de ir trabalhar." Na opinião de dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde do Estado, há um problema de gestão no núcleo. "Deveria haver um esforço para reforçar o atendimento neste horário", diz o diretor do sindicato Angelo D?Agostini. "O ideal seria descentralizar a distribuição dos remédios, criando mais pontos de entrega em outros bairros. Cinco pontos numa capital do tamanho de São Paulo é pouco."A secretaria informou que, por enquanto, não há plano de expansão.