Desde 2015, o mercado pet friendly desponta nas principais capitais do Brasil com ênfase na cidade de São Paulo e alguns municípios turísticos. Apesar da imensa evolução que o setor passou, vivemos um verdadeiro caos. Ironicamente, isso é bom. Fazendo uma analogia: saímos da poça de água parada e chegamos na tempestade em mar aberto. Chegou a hora de saber navegar.

De um lado, temos os locais que dizem ser pet friendly, mas recebem mal os clientes com pets. Do outro, os tutores de cães que perderam o bom senso e agem como se fossem os donos do mundo. O que eles têm em comum? Não querem aprender e, na realidade, isso é o que mais me preocupa.
Entretanto, o tempo cumprirá seu papel de ajustar todas as coisas e, inevitavelmente, estabelecimentos e pessoas se darão conta que conhecimento e educação são libertadores.
Utopia? Talvez. Porém se não dermos um voto de confiança à evolução do mundo e pensar que as coisas podem melhorar, só nos resta apagar as luzes e ir embora. Sendo assim, é melhor ficar e ajeitar a casa.
O profissionalismo que falta
Os estabelecimentos, que por ingenuidade ou achar besteira ter uma assessoria sobre com receber cachorros, tendem a achar que basta colocar um pote de água coletivo (mal sabem que água parada e compartilhada por vários cães é um grande transmissor de giárdia) e utilizar as mesas da calçada. Grande engano, pois o público não aceita mais isso.

Sair em dias extremamente quentes - quando o ar condicionado não é apenas um conforto e, sim, necessidade - frios ou com chuva é uma façanha, afinal, poucos oferecem mesas úteis em qualquer condição climática.
No caso de hotéis, o absurdo se dá pela limitação do porte de cães, apenas os pequenos têm acesso, e devido a proibição que circulem pelo hotel, ou seja, é quase uma "prisão domiciliar", pois nada é permitido, além de ficar no quarto.
O comportamento que nos atrasa
É de conhecimento geral que muitos cães deixaram de ser meros animais de estimação e ganharam o posto de filhos. Até aí tudo bem. O que não pode acontecer - e está ocorrendo - é a falta de limites de alguns tutores, que simplesmente ignoram o vizinho e agem como bem entenderem.

No final de semana passado, eu fui a um restaurante pet friendly com a Ella (minha filha pet) e tinha um cachorro latindo sem parar. Era um latido agudo, que incomodava. Resolvi levantar e investigar o motivo daquele cão latir constantemente e descobri: um passarinho em busca de restos de comida. O tutor do cachorro puxava sua guia e mandava ele parar de latir, mas é óbvio que não surtia nenhum efeito. O que ele deveria ter feito? Trocado de mesa ou levado-o para dar uma volta: tirado seu cachorro do gatilho. O que ele fez? Nada. Deve ter pensado: "ah, cachorro late mesmo". O certo? Adestrar este cão, caso seu tutor deseje frequentar locais com outras pessoas e animais e agir com respeito pelos demais.
Também, recentemente, em um estabelecimento da serra da Mantiqueira, uma cliente colocou seu cão em cima da cadeira e o deixou comer no prato do restaurante. O episódio foi reportado para a vigilância sanitária por outro cliente, que ficou indignado ao presenciar a cena. Resultado? A área pet friendly, que ficava na parte de dentro, passou a ser no jardim. E mais uma vez, os bons pagarão pelos maus, pois no inverno é o frio que nos espera, por mais que haja aquecedores e mantas. Sem falar nos dias de chuva: é óbvio que o toldo não dará conta. Em outras palavras: menos um bom local na nossa lista para almoçar ou jantar com nossos pets.
Revolta necessária
Não há mudança sem protesto. O público pet de São Paulo não está calado e já não aceita o pior, a sobra, o que ninguém quer e isso é ótimo.
Como o movimento pet friendly por aqui acontece desde 2015, quando o IBGE divulgou e a Veja publicou na capa: "há mais animais de estimação nos lares brasileiros do que crianças". Antes, ser aceito era motivo de comemoração. Hoje, queremos saber como, onde, o que há para nós. Os estabelecimentos terão que apostar em hospitalidade e segurança.
Capacitação
A Universidade Pet Friendly oferece um curso de capacitação, ou seja, não aprende quem não quer. Além de certificar os locais devidamente preparados. E uma série de treinamentos, realizada para o Better Cities for Pets, da Mars Petcare ajuda os estabelecimentos a darem os primeiros passos no mundo realmente pet friendly.
Por outro lado, é igualmente fundamental os tutores terem a consciência de que em um local pet friendly seu cachorro não pode fazer o que quiser.
Estamos em uma encruzilhada, onde o único caminho viável é aprendizado para ambos os lados: estabelecimentos e tutores. Os cães são consequência do treinamento recebido. É isso ou vamos estagnar e perder acesso. E o pior: seremos rotulados de mau-educados e público indesejado. E os locais de oportunistas, que de fato realmente são quando não nos recebem devidamente.