
Sempre digo que por mais que estejamos atentos ao que as pessoas nos falam, sempre podemos ser influenciados. Isso pode ser um grande problema, principalmente se essas falas chegam através de familiares e amigos que são pessoas das quais normalmente confiamos e temos vínculos de afeto. Você já se pegou com medo de ir a um determinado lugar porque alguém disse que era perigoso? Ou mesmo ficou com receio de arriscar mudar de área de trabalho após conversar sobre esse assunto com alguém?
Pois então, precisamos conversar, não acha? É importante entendermos que cada pessoa carrega uma mala repleta de experiências de vida, me refiro a experiências emocionais. É claro que tudo o que vivemos faz parte de uma experiência concreta na maior parte dos casos, mas o tom que fica marcado a nível emocional muda todo o contexto. Isso porque cada pessoa tem uma experiência única que pode suscitar cargas tanto positivas, quanto negativas. Essa é uma questão bem delicada e completamente compreensível, então quanto mais atentos e conscientes estivermos, mais fácil será ouvir sem que isso nos influencie negativamente.
Há poucos dias eu passei por uma experiência assim, decidi subir um morro e uma amiga disse que seria muito perigoso, mandou fotos, falou que já havia subido diversas vezes e que sabia o que estava falando. Em um primeiro momento pensei se eu estava realmente preparada para participar dessa aventura, afinal eu havia começado a subir morros somente há dois meses. Mas eu respirei, avaliei a situação e decidi prosseguir com o meu plano. Que experiência maravilhosa eu me permiti, assisti o pôr do sol em alto estilo.
Aqui eu expus somente uma entre muitas situações que todos nós passamos diariamente, temos por hábito tecer opiniões, contar nossas experiências e nem sempre estamos atentos ao impacto que podemos causar no outro. Isso porque não tomamos o cuidado de passar uma informação limpa, o que pode impactar negativamente. É certo que como temos o livre -arbítrio, temos a responsabilidade por tudo o que escolhemos fazer, isso é um ponto positivo a ser considerado, mas a falta de presença nos faz escorregar nessas situações. Se não estivermos atentos o suficiente podemos entrar na experiência negativa do outro e abrir mão de viver belas experiências, inclusive de mudar a forma de lidar com situações desafiadoras.
O medo paralisa, nos impede de arriscar novos caminhos, isso porque a sensação é de ameaça, e naturalmente temos a tendência a recuar para nossa proteção. Desde que nascemos estamos correndo riscos, quando ouço relatos de pessoas que passaram fome, sofreram abusos ou mesmo que cresceram ouvindo que o mundo é perigoso, é esperado que o medo do novo transforme muitas experiências que seriam agradáveis em situações aversivas. No caso relatado acima, mesmo que a pessoa tenha passado por uma experiência com êxito e nada tenha acontecido que a ameaçasse concretamente, o registro que fica como pano de fundo de suas experiências é de perigo.
Por isso o mais importante é deixar com o outro o que não nos pertence, cada um com a sua própria história, lidando da forma que for possível com as suas sombras. Aqui o foco é separar-se da percepção alheia e focar nos próprios objetivos. Ao conseguirmos avaliar todo o contexto da situação almejada, poderemos sim tomar decisões com mais segurança, sabendo que somente arriscando poderemos experimentar o verdadeiro prazer de uma conquista.