Os sintomas eram escandalosos; eu devia ter me tocado. Passei a escutar mais Roberto Carlos que Led Zeppelin. Ia nas festas e já queria voltar pra casa. Eu olhava apartamento pra alugar considerando você no meu quarto e um metrô perto, pra facilitar o ir-e-vir. As pessoas notavam que eu estava mais calmo, mais puro, mais caseiro. Perdi até a vontade até de comer alho. E cebola crua. E gorgonzola.
A quantidade de Bloody Mary que eu precisava para ficar calmo ao seu lado. A vontade de te buscar de novo, cinco minutos depois de ter te deixado em casa. A sensação de ter me esquecido com você, que nem aquela música do Quintanilha. Como eu pude cair nessa outra vez ? Sempre que isso acontece eu me ferro no fim - sozinho, embaixo da chuva, catando bituca no chão, briaco.
Mas não teve jeito. Na hora que percebi a tragédia acontecendo bem diante da minha aorta, saí atrás das relações antigas. Até no linkedin eu fucei. Busquei ocupar meu cérebro com outros assuntos. Aprendi a jogar bridge. Comprei os livros do Murakami, mil e trezentas páginas de distração. Nunca joguei tanto futebol. Continuava bom de cama, mas de outro jeito: eu virava pro lado e dormia. Torcendo pra você aparecer nas minhas REMs.
Bom, agora já era. Apaixonei. Te peço desculpas antecipadamente.
Já vejo tudo. Como você nunca namorou - só ficou - deixa eu te contar como vai ser esse começo. Vou ter que conhecer sua mãe e ela vai ter que gostar de mim. Não pode haver outra opção. Sou bom nisso, fique tranquila. Sei cozinhar, sei me comportar, sei tocar as músicas que ela gosta no violão. Elba Ramalho, inclusive. Quando necessário, sou super simpático.
Tem também seus amigos. Sei que você já falou de mim pra eles. Espero que não tenha contado todos meus podres. Que eu tomo tarja preta, tudo bem. Não escondo. A vida é cheia de golpes, e de vez em quando preciso de ajuda mesmo. Só não conte logo de cara que sou escritor. Eles vão achar que eu não tenho onde cair morto.Ou, pior: podem dizer que eu sou metido. Normalmente sou mesmo, mas por você faço de conta que sou viável socialmente. Serei mais humilde que o Papa Francisco.
Vou chegar pianinho no seu círculo pessoal. Nada de medir amigas conferindo bundas, nem desprezar amigos por achar todos eles uns franguinhos. Quer dizer, desculpa. Eles não são franguinhos. São só bem magros. Mas deixa comigo: vou convidar todos para irem em casa e vou encher os caras de nhoque ao sugo. Vou fazer que nem a bruxa do João e Maria.
Prometo nunca mais largar da sua mão ao encontrar com outra mulher bonita. Nem bater o telefone na sua cara. Nem dizer que a sua saia é curta. Nem fazer ciuminho de graça. Ainda tenho arroubos de imaturidade se estou assim. Mas a culpa desse comportamento juvenil é sua. Quando estou com você, me sinto feito um Pastor Alemão de quatro meses - desengonçado, sem jeito, querendo pular no seu colo e te proteger dessa cidade e de todas as pessoas e de todo mundo.