Não há como negar que um dos principais reflexos da pandemia tem sido o deslocamento e integração do espaço casa/trabalho. Se tempos atrás, iniciamos uma uma batalha contra o "levar trabalho para casa" para conquistar melhor qualidade de vida, a partir do ano passado, esta relação parece estar mais próxima que nunca.
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Em 2007, passei a ir com frequência para a cidade de Detroit, em Michigan, a trabalho. Caracterizada pelas fábricas e casas abandonadas, consequência do declínio local da indústria automotiva e desemprego, Detroit registou um êxodo populacional de quase 2 milhões de habitantes a partir da década de 1950 até hoje. Só não se tornou uma cidade-fantasma devido às recentes iniciativas de trazer a população jovem para revitalizar, a baixíssimo custo, os galpões e espaços comerciais que foram deixados para trás ao longo dos anos.
Guardadas as devidas proporções - uma vez que Detroit baseava sua economia na indústria, enquanto por aqui a predominância está na oferta de serviços -, a cidade de São Paulo tem vivido um processo semelhante: dependendo do segmento, um a cada cinco escritórios está fechado. São andares inteiros desalugados, projetos de empreendimentos comerciais cancelados e lojas de rua com as portas baixadas. Muitas empresas já declararam o home-office permanente, permitindo que muitas famílias pudessem, finalmente, deixar o caos e o alto custo de vida paulistano para se estabelecer no interior ou na praia.
De acordo com arquitetos e urbanistas, uma das possíveis soluções para evitar um cenário fantasmagórico nos prédios comerciais é transformá-los em espaços residenciais do tipo estúdio, uma vez que o que o fato de já contarem com a rede hidráulica facilita a instalação de banheiros. Ou, como já tem ocorrido nos últimos anos, mesclar as unidades residenciais com as comerciais, facilitando a programação de escalas e rodízios para quem habita e trabalha no mesmo lugar.
Não há como ignorar que a pandemia tem mudado drasticamente os deslocamentos dentro das cidades. As lojas estão na tela do computador, restaurantes chegam à porta de casa, escolas estão na sala de estar. O momento agora é planejar e adequar estes estabelecimentos para que, no futuro, São Paulo não tenha o mesmo destino que Detroit.
