Kanye West voltou voltando bagunçando a zorra toda. Desde a semana passada, no Twitter e em entrevistas, vem disparando afirmações polêmicas (pra dizer o mínimo). Defendeu Trump, afirmou que "a escravidão é uma escolha", alfinetou a Nike e disse que a Yeezy (linha da Adidas assinada por ele) vai se tornar a maior empresa de vestuário da história da humanidade. Causou nas redes, entre fãs e, claro, na Adidas, que veio prontamente se posicionar a respeito de suas declarações.
Nesta quinta, 3, Kasper Rorsted, CEO da empresa, afirmou em entrevista à Bloomberg TV que "não concordamos" com as declarações de West - como a de que a escravidão é uma escolha -, mas que o músico é um "criador fantástico e grande contribuinte para promover a linha casual da Adidas nos Estados Unidos."
A associação com Kanye, que começou em 2013, ajudou a marca a tomar fôlego no mercado em uma época em que estava perdendo muito espaço para a sua maior concorrente, a Nike. A Adidas recebeu os louros de trabalhar com um artista disruptivo como West, mas agora tem que assumir o fardo. (A empresa nunca divulgou o quanto paga a Kanye, mas não é barato. No ano de 2017, os gastos com marketing subiram em 13%).
Os tênis Yeezy Boost criaram um bochicho em torno da marca, mas sua linha de roupas para a Adidas Originals, embora sejam uma ferramenta de marketing poderosa, tem um apelo de nicho. Em termos gerais, as vendas da linha casual da empresa aumentaram dois dígitos no último ano - mas não é tudo responsabilidade de Kanye. Outros braços do império Adidas foram tão bem quanto, ou até melhores.
Não vamos esquecer que boa parte da ressurreição da marca se deu por causa da vontade da geração millenial de usar estilos de décadas passadas - não a moda futurista de West. E não foi Kanye que colocou o Stan Smith nos pés de fashionistas de todo o mundo, apesar de ele ter aderido à tendência, mas sim a ex-estilista da Céline, Phoebe Philo, que lançou a moda ao usar o calçado durante uma temporada.
Existe sempre um risco em trabalhar com celebridade. Pode ser que Rorsted seja mais bem sucedido redirecionando o dinheiro gasto com o músico para colaborações de ponta com a Reebok (além de West, Kendrick Lamar e o fotógrafo russo Gosha Rubchinskiy já assinaram coleções para a etiqueta do grupo Adidas). Aliás, assim como ocorreu o fenômeno Stan Smith, agora os millenials de todos os cantos do mundo estão obcecados com os "tênis de tiozão", como o Reebok Classic. Talvez, com mais colaborações inteligentes, a Reebok consiga suprir a ausência de coolness (agora aparentemente) abandonada por Kanye West.
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