"Nossa, ficou lindo seu 'cabelo Melina'". Essa frase me fez lembrar outra, que ouvi alguns anos atrás. Um menino descreveu o cabelo de uma menina como "clássico" e emendou: "bem Victoria Beckham". O que essas duas frases têm em comum? Ambas se referiam a um corte Chanel. O corte Chanel é, de fato, um clássico, como bem definiu o menino do parágrafo acima. E, sim, costuma deixar as mulheres lindas. Mas, ao ouvir as duas frases, eu fiquei de cabelo em pé por um momento. "Como assim 'Melina'? Isso é Chanel, poxa!".
A foto clássica de Chanel, cabelo Chanel, tailleur Chanel, colar Chanel (Foto: Reprodução) Chanel não inventou o Chanel. Porque nada se cria, já dizia a biologia. O corte na altura do pescoço virou moda quando foram desobertas as primeiras tumbas egípcias. As egípcias raspavam todos os pelos do corpo, inclusive os cabelos. E cobriam o cocoruto com perucas com o tal penteado que ficaria conhecido para sempre como Chanel. Não é à toa. As tumbas ficaram populares nos anos 1920, coincidentemente quando Chanel começou a ficar muito famosa.
Esta é a verdadeira pioneira, a rainha Ankhesenamen (Foto: Reprodução)
Na verdade, se os meus resmungos fossem levados a sério, o corte Chanel passaria a ser chamado de corte Ankhesenamen. E ninguém ia entender do que se trata. Chamar o corte Chanel de Melinda ou Victoria Beckham é igual a chamá-lo de Chanel. E querer proteger os termos mais tradicionais é, por um lado, uma forma de preservar uma história tão maltratada (faltam bons livros de história da moda, há poucos bons professores de história da moda, faz pouco tempo que essas peças passaram a frequentar espaços de museu), por outro, é também uma forma de restringir os termos da moda a um grupinho. E grupinho nunca é bom.