Viva, queridas leitoras, como estão?
Tristes com o fim do Carnaval? Indiferentes?
Dependendo de onde você estiver, talvez nem tenha acabado o Carnaval. Tem lugar em que ele mal começa, tem lugar em que ele (quase) não para, estendendo-se no tempo como um gato que se estica todo para ocupar metade da cama, preguiçosamente.
Em Portugal, o Carnaval é curto. Lamentei, mas:
O engraçado é que sempre fui meio alheio à festa.
Achava que não era a minha praia, não era o meu palco. Quer dizer, não é -- se a gente pensa em Carnaval como quem pensa em Sapucaí, axé, suor e purpurina. Essas coisas eu realmente demorei a conhecer, e ainda tateio.
Afinal, nasci em uma cidade fria, fechada e formal: Curitiba, a tal.

Por conta desse acidente geográfico, fui criado sem muito Carnaval. O samba era coisa que a gente via pela TV, pelo noticiário, na transmissão festiva dos desfiles. Era estranho e distante. Era, para ser franco, uma chatice, porque interrompia a programação normal das coisas, os meus desenhos animados, filmes e novelas.
Eu ouvia coisas do tipo: Curitiba é boa no Carnaval porque fica vazia.
Quando meus pais inventavam de descer para o litoral, enfrentávamos horas de congestionamento. O Carnaval era um feriado de estrada cheia e barulho na TV.
Quem diz que São Paulo é o túmulo do samba, não conheceu Curitiba nos anos 1990.
Assim, era natural que para mim o Carnaval fosse um estranho, alguém que eu via de relance, em telas e páginas de jornal. A ignorância andava ao lado do preconceito.
Foi em São Paulo, ironicamente, que fui apreendendo melhor aquele fenômeno. Anos depois, crescido e inserido numa rotina exaustiva de trabalho, fui apresentado ao Carnaval. A um outro Carnaval, que não tinha nada a ver com os desfiles na TV.
Entendi, aos poucos, a festa. Não apesar da minha rotina enlouquecida de trabalho, mas justamente por causa dela.
Meus amigos paulistanos e imigrantes, jornalistas, artistas, professores, eram loucos por Carnaval. Pintavam o rosto, tiravam a roupa, iam para a rua. Balançavam de lá para cá, bebendo, falando alto, flertando e dançando.
Não eram mais funcionários. Eram palhaços, loucas e meretrizes.
No Carnaval a vida é para ser vivida ao contrário. Por três dias invertemos papéis. A vida reservada, regrada, é subvertida.
Se você leu até aqui, meu especial obrigado!
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