Amanhã de manhã, vou pedir um café pra nós dois e depois, eu juro, palavra de escoteiro, vou para a academia. O despertador está para às 6h, exatamente o horário que me lembro que dormir é bom e, poxa, o dia vai ser barra, melhor deixar a malhação pra amanhã. Isso, melhor. Fecho os olhos pegando carona logo no primeiro carneirinho que passar antes da cerca.

Não se mate, Ricardo, sossegue o facho. A academia é isso que você está vendo: hoje são pernas, amanhã é domingo, dia de meter o pé na jaca, e segunda-feira ninguém sabe, só você, que terá de queimar a feijoada do dia anterior, além de cumprir o resto do programa: costas, flexões, abdominais. Primeiro: dia sim, dia não. Depois direto. Cansa só de imaginar. É preciso mais coragem. Amanhã devo tê-la. Amanhã começo, prometo.
Amanhã, outro dia, lua sai, academia, abraça o Ricardo que vive no bar, bebe, enche a cara e só faz engordar. Leve-o ao bom caminho: dê-lhe halteres, em vez de copos cheios, um tanquinho no lugar da pochete. Possua-o. Vicie-o. Vença-o. Não hoje. Poupe-o pelo menos um dia. Ressaca, sabe como é. A qualidade do ar também está péssima. Muito calor. Muito seco. Circunstâncias ótimas para mau humor. Amanhã.
Hoje? Isso, hoje. Então é hoje, falou tá falado, não tem discussão. Antes que mais gente fale de lado, ou resolva desviar o olhar do chão para minha balança, vamos lá, pegar firme no batente. Começa pela caminhada pra não estranhar. Nossa, você já está suando. Calma, reduz o passo. Pronto, caminhe por 5 minutos. Agora trote um pouquinho, por mais 5. Já deu? Não, quase, falta um pouquinho. E agora? 2 e 14. Foi? Segura firme: bateu 3 agora. Capricha,mantém agora, é o finalzinho. Para, para, parou! Suado, ofegante, saio da esteira já me sentindo mais marombado. Na frente do espelho, ensaiando uns muques, a flexão do meu eu denuncia: suado, ofegante, pareço que fui atropelado. Chega por hoje. Continuo amanhã. Tem de ser de pouco em pouco, de grão em grão - pra, no caso, perder o papo.
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