No meu tempo (arrepios por usar essa frase). No meu tempo, as crianças iam para a escolinha aos 4, 5 anos. Hoje vão muito mais cedo. As mulheres trabalham mais do que antes, claro, mas o Samuca entrou na escola com 1 ano e 11 meses por parecer que a casa era pequena demais para ele, que as brincadeiras propostas por mim e pela babá fossem todas muito cansativas e ele tivesse uma urgência de conhecer outras crianças e o mundo muito mais cedo do que a minha geração. E com pouco mais de 2 anos, sem nem saber falar mais do que algumas palavras soltas, ele fez o seu primeiro passeio com a "turma". Ontem, com pouco mais de 3 anos, fez o segundo. Ao entrar no ônibus com aquela empolgação histérica de quem está prestes a fazer algo muito legal, despediu-se com um engraçado: "Boa viagem, mamãe!". Sabia ele que minha cabeça, durante toda a tarde, estaria "viajando" com ele e também em direção ao futuro dele? (Minha mãe me contou uma vez que no meu primeiro dia de escola me deixou com o perueiro, correu, pegou o ônibus e ficou escondida atrás de uma árvore na porta da escola para ver minha chegada.) Não cheguei a esse ponto, é claro, mas não faltou vontade.
Uma amiga, mãe de um colega do Samuca, me contou antes de ontem - entre assustada e culpada -que não ia deixar o filho ir ao tal passeio: "Ele é muito pequeno, muito imaturo", disse-me. Tentei convencê-la do contrário, em vão. Mas depois fiquei pensando, cá com meus botões, em como é difícil deixar que nossos filhos saiam cada vez mais cedo de casa. Eu também estava com o coração apertado ao imaginar o meu dentro de um ônibus escolar atravessando a cidade, mas ela e o marido simplesmente não conseguiram lidar com essa sensação.
Será que adiar a saída deles pela primeira vez traz um sentimento de conseguir controlar o que, na verdade, é meio que incontrolável? Porque o dia do primeiro acampamento vai chegar. O do intercâmbio. O do primeiro emprego talvez em outra cidade. E eles vão com certeza ficar ocupados demais para telefonar todos os dias e pior para nós se demonstrarmos carência: "Pára com isso, mãe! Que coisa chata!" Sim. Não adianta cobrar.
Mas logo o relógio marcou 17:15. Eu, claro, na porta da escola de prontidão para buscá-lo, ouvir suas histórias durante a volta para casa, durante o banho e o jantar. Ele estava inteiro: Dois braços, duas pernas e um sorriso largo, de orelha a orelha. Ufa! A viagem acabou.
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