
Mariana procurou oncologistas e ginecologistas que, em 1997, só podiam aconselhar que ela não fumasse, não bebesse, não tivesse sobrepeso e levasse uma vida saudável. Os exames preventivos, que geralmente começam aos 40 anos, foram antecipados. "Fiz minha primeira mamografia aos 20 anos", lembra. Os médicos também aconselharam Mariana a ter filhos logo. "Ter filhos virou uma angústia. Meus pais queriam que eu engravidasse logo". A atriz só realizou o sonho de ser mãe 13 anos depois.
Quando os filhos nasceram (os gêmeos Mia e Gael têm 4 anos) já existia a opção de retirar ovários, trompas e as mamas de forma preventiva, para diminuir drasticamente as chances de ter a doença. Mariana amamentou os filhos por um ano e dois meses e só depois voltou a pensar no assunto. Com 32 anos retirou por videolaparoscopia ovários, trompas e útero. "Foi super simples", lembra. "Uma semana depois já estava dançando em um ensaio para um musical".
Segundo a médica geneticista Maria Isabel Achatz, Diretora do Departamento de Oncologia do Hospital A.C. Camargo, o câncer de ovário é silencioso e, por isso, a retirada de ovários e trompas é efetiva em casos como o de Mariana. "Esse câncer não é visualizado na ultrassonografia, é assintomático e por isso é difícil um diagnóstico precoce", explica. As chances de ter câncer depois de uma cirurgia de ooforectomia caem 80%, segundo o Journal of Clinical Oncology.
Um ano depois da retirada das trompas, ovários e útero, a atriz fez a chamada mastectomia redutora de risco, que é a retirada da glândula mamária com a preservação da pele. As chances de ter um câncer de mama caíram para 5% por cento. "O risco ainda existe porque não há como retirar todo o tecido", explica Dra. Maria Isabel. As chances de uma mulher que não tem essa herança genética de desenvolver um câncer de mama são de 10 a 14%.
Por causa da cirurgia para a retirada do aparelho reprodutor, Mariana entrou na menopausa e desde então faz reposição hormonal. "Demorei um pouco para me adaptar às doses de hormônio, mas hoje levo uma vida perfeitamente normal", conta.
A ANS, Agência Nacional de Saúde Suplementar, incluiu em 2013 o exame de detecção de mutação genética dos genes BRCA-1 e BRCA-2 na lista de procedimentos com cobertura obrigatória pelos planos de saúde, desde que prescrito por um geneticista. A oncogeneticista Maria Isabel Achatz acha que ter acesso a esse tipo de informação é um avanço. "Quem teve a mutação diagnosticada na família (e que viu a mãe morrer de câncer) pode fazer o exame e tirar um peso das costas ao ver que não herdou o gene com a mutação", afirma. "Quem souber que tem a mutação vai ter opções para lidar com a questão. O exame não cria um um problema. Oferece possibilidades de reduzir o risco que, no caso, já existe", completa.
Além das terapias com hormônios, Mariana fez a reconstrução das mamas com silicone e se sente ótima, inclusive está em cartaz na montagem brasileira do musical "Mudança de Hábito". Depois de assistir à avó perder a batalha para o câncer, ela celebra a vida. "Estou completamente bem resolvida e espantei um fantasma que me perseguia", conta."Estou muito aliviada."
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