A África do Sul vai receber da Inglaterra 42 milhões de preservativos. Essa quantidade é a contribuição britânica ao pedido de um bilhão de camisinhas adicionais feito pelo governo sul-africano na campanha de prevenção do HIV a ser lançada antes do início da Copa do Mundo.O pedido de auxílio, como estratégia para acumular estoque suficiente de preservativos para atender aos milhares de fãs do futebol que são esperados no país daqui a três meses, foi feito durante a visita do presidente Jacob Zuma à Grã-Bretanha para se encontrar com a rainha."Obviamente, todos estão pensando no grande aumento no número de turistas que visitarão a África do Sul por causa da Copa do Mundo", disse o ministro britânico para o desenvolvimento internacional, Gareth Thomas, que anunciou durante a semana a criação de um fundo de £ 1 milhão (R$ 2,68 milhões) numa reunião de emergência realizada em Londres sobre a prevenção e o tratamento do HIV."Os próprios sul-africanos identificaram a necessidade de aumentar a oferta de preservativos. A África do Sul solicitou especificamente a ajuda da Grã-Bretanha e vamos atender esse pedido." Ele destacou que os fãs do futebol acabarão inevitavelmente visitando países vizinhos, com alta proporção de infectados pelo HIV, e recomendou que esses países adotassem medidas preventivas.O governo sul-africano estima receber até meio milhão de visitantes, o que levou a temores de aumento na prostituição e no tráfico sexual proveniente de vizinhos e da Europa Oriental, criando uma potencial bomba relógio do HIV. Na semana passada, a Autoridade Central Farmacêutica da África do Sul alertou que aproximadamente 40 mil prostitutas devem chegar ao país para o Mundial, que começa em 11 de junho.A África do Sul está envolvida numa luta para combater o maior número de casos de HIV de todo o mundo e convencer a população a respeito da importância do sexo seguro.O ministro da saúde, Aaron Motsoaledi, manifestou preocupação diante da possibilidade de a mensagem ser ignorada, porque muita genta acredita hoje que o HIV já pode ser facilmente tratado. "O presidente (Jacob) Zuma fez dois pronunciamentos de grande repercussão no Dia Mundial da Aids (1.º de dezembro)", disse Motsoaledi. "Ele foi enfático ao falar sobre a prevenção e também sobre as formas de tratamento", ponderou. "Depois do Dia Mundial da Aids, os sul-africanos comentavam apenas um deles. É isto o que me preocupa. Estou dizendo que o tratamento deve vir somente depois da prevenção. Tememos que os sul-africanos pensem que agora o problema foi superado."O Departamento britânico para o Desenvolvimento Internacional (DfID, em inglês) deseja muito apoiar o governo sul-africano por causa da liderança que a entidade demonstrou recentemente no combate ao HIV. Em dezembro de 2008, os sul-africanos anunciaram planos ousados para facilitar o acesso ao tratamento contra o HIV, especialmente para mulheres grávidas e crianças, como parte de uma renovada vontade política de combater o vírus e a Aids. Agora a atenção se volta para a prevenção das infecções.Cerca de 450 milhões de preservativos são distribuídos todos os anos na África do Sul, mas, com uma população sexualmente ativa de 16 milhões de homens e uma das mais altas proporções de infectados pelo HIV de todo o mundo, as camisinhas nunca são suficientes.O DfID realizou na terça-feira reunião emergencial em Londres na tentativa de evitar que a luta contra o HIV e a Aids pare de avançar. Há cinco anos, o G-8 prometeu até 2010 o acesso universal ao tratamento e à prevenção. Cerca de 4 milhões de habitantes de países pobres recebem agora medicamentos retrovirais que os mantêm vivos, mas há mais de 8 milhões de infectados que necessitam urgentemente de remédios. Mais de 33 milhões de pessoas vivem com o HIV em todo o mundo e outras 2,5 milhões são infectadas anualmente.O Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, que canaliza o dinheiro dos países doadores para os programas de combate às doenças criados pelos próprios países em desenvolvimento, disse que aproximadamente 4,9 milhões de vidas foram salvas desde o estabelecimento do fundo, em 2002.A organização previu que, se os esforços prosseguirem, a transmissão do HIV da mãe para o bebê durante o parto pode ser eliminada até 2015, os casos de tuberculose podem ser reduzidos pela metade e a malária poderia ser eliminada em muitos países. Mas os recursos financeiros do fundo estão agora sob ameaça. "Este relatório mostra claramente que o investimento do mundo nesta luta está dando resultados", disse Michel Sidibé, diretor executivo da UNAids. "Entretanto, a Aids não foi erradicada em nenhum lugar do planeta e, na ausência de um Fundo Global dotado de financiamento pleno, nosso sonho comum do acesso universal à prevenção, ao tratamento, ao cuidado e ao apoio para os portadores do HIV pode se transformar em nosso pior pesadelo - pondo em risco a vida de milhões de pessoas atualmente em tratamento e impedindo que milhões de grávidas protejam seus bebês da infecção."País do HIV. Cerca de 5,7 milhões de sul-africanos convivem com o HIV, o equivalente a um quinto da população adulta. Diariamente, o país registra cerca de 1.400 mortes decorrentes da doença e quase mil novos casos de Aids. Anúncios veiculados na televisão pedem aos espectadores que "imaginem a possibilidade de uma geração livre do HIV" e tomem os devidos cuidados. Mas o uso dos preservativos ainda está longe de ser uma norma social.Os críticos acusam os líderes sul-africanos de prejudicar a luta contra a doença por meio da negação e da hipocrisia. A indisposição do ex-presidente Thabo Mbeki em adotar as medidas necessárias para a luta contra a doença é considerada a responsável pela morte prematura de pelo menos 300 mil pessoas em todo o país.Enquanto era julgado pelo estupro de uma portadora do HIV amiga de sua família, o presidente Jacob Zuma foi ridicularizado por afirmar em depoimento que tomava banho depois do sexo para reduzir as chances de infecção. Ele foi absolvido da acusação de estupro. Anteriormente, o presidente não usou preservativo ao manter relações sexuais com uma amiga da família, que subsequentemente deu à luz o 20.º filho do presidente. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL