A transferência para Belo Horizonte não fazia parte da estratégia de relançar o astro no mercado, desgastado pela forma como deixara Barcelona e Milan. A ideia era vingar no Rio - e isso ficou claro, no ano passado, quando a proposta do Flamengo foi mais sedutora do que as de Palmeiras (tímida) e de Grêmio (agressiva). Pesaram em favor do rubro-negro torcida e visibilidade, além da grana alta.
Após o fiasco na aventura carioca e a ruptura abrupta, os responsáveis pela imagem de Ronaldinho trataram logo de recolocá-lo no mercado, que aparentemente lhe era ainda muito favorável. Não foi. O ídolo de ontem não tem espaço mais em grandes centros europeus e, pelo menos no momento, não se tornou possível passagem para países emergentes do Leste da Europa nem da Ásia.
A alternativa foi ficar em casa mesmo. O Palmeiras se assustou com a reação do Flamengo e abortou a intenção de dar-lhe uma oportunidade. Corinthians, São Paulo e Santos não mostraram interesse. Já o Galo topou ver que bicho vai dar - não é a primeira vez que terá, em seu elenco, jogador com vida tumultuada. Mas é o de nome mais famoso, e há muito luta por mais títulos nacionais. Quem sabe...?
Se souber aproveitar o ambiente ameno de BH, Ronaldinho produzirá bem, dará a volta por cima, como avisou. Mas o torcedor do Galo precisa ter consciência de que ele provavelmente jamais será de novo o mágico da bola do início dos anos 2000. De qualquer forma boa vontade encontrará. Mas a recíproca terá de ser verdadeira, pois também precisa mostrar disposição, entrega para dedicar-se ao futebol um pouco do que vem fazendo nos últimos tempos.
E, acima de tudo, que trate o Atlético-MG com deferência e reconheça o gesto que lhe foi feito neste momento. Os mineiros lhe estendem a mão; tomara mostre grandeza semelhante. Ambos só terão a ganhar. Mas, desconfio que, neste momento, o lucro pende mais para o jogador do que para o clube.