Situação das mais desagradáveis é trabalhar com aviso prévio. O sujeito sabe que está fora da empresa - por levar bilhete azul ou por pedir demissão -, e ainda assim tem de cumprir período de presença na firma por exigência legal. Constrangedor, pois com vínculo rompido a motivação despenca e fica clima pesado, angustioso. Por isso, na maioria das vezes o empregador paga multa e libera de vez o profissional que está fora dos planos. No futebol também existe a saída datada. Nem sempre de maneira explícita e formal, mas por meio de indícios, declarações, insinuações, evasivas. Em geral, atinge jogadores dados como descartáveis e candidatos a listas de dispensas ao final de temporada. Agora, se estende para técnicos. Mano é o exemplo recente. Como havia ocorrido com Tite um ano atrás, considera-se inevitável a ruptura com o Corinthians tão logo a equipe dispute a última partida do Brasileiro de 2014, em princípio em 7 de dezembro. No dia seguinte, sai de férias, limpa o armário, pega o boné, recebe agradecimentos formais e de praxe e ganha promoção para o mercado em busca de novos desafios, o eufemismo que corporações usam para dizer passar bem. Até um tempo atrás, a direção disfarçava, negaceava, apesar de alegar que, se se chegasse a tal ponto, seria por causa das eleições para a presidência, no começo de 2015. Aos poucos, relaxou e já não se esconde que a parceria se encaminha para o final. Até Mano, mesmo sem ser incisivo, tem falado em tom de despedida. Principalmente quando diz que o desafio derradeiro é classificar o time para a Libertadores. Mano pertence à elite dos treinadores locais e está no grupo dos profissionais mais bem pagos do País - e não só na função dele. Portanto, tem por que defender a entrada de mais uma boa bolada. Não é tonto de antecipar-se, entregar o cargo e largar, de mão beijada, dinheiro extra ou pagar multa. Mesmo assim, é incômodo, chato, esse período de meio-termo, espécie de purgatório. Fora o jogo de ontem com o Coritiba (e que já foi um sufoco e teve cobranças duras), restam outros seis, em que está em pauta lugar na Libertadores. Se obtiver sucesso, sai com a sensação de que não fez mais do que obrigação. Se falhar, há quem possa soltar a maledicência de que relaxou e os atletas não obedeceram à suas orientações. Sem contar que parte da torcida - a organizada - não lhe esconde rejeição e várias vezes pediu a cabeça dele. Mano vive fase delicada na carreira. Desde a demissão da seleção, dois anos atrás, não retomou o esplendor que alcançou no próprio Corinthians. Passou um tempo à sombra, de molho, a digerir o trauma do cartão vermelho recebido da CBF. Voltou, no Flamengo, e não criou raízes: jogou a toalha ao alegar que não era compreendido pela tropa. Depois, o Fla levantou a Copa do Brasil. Veio o Corinthians e... nada. Alternativas não faltarão para Mano, isso é certo. Nem a maré baixa, em termos de conquistas, durará indefinidamente. A reviravolta virá. Mas, neste momento, o Corinthians teria sido gentil se o liberasse - desde que, de fato, não o tenha nos planos para a próxima temporada. Evitaria desgaste desnecessário. Bom, cada um sabe onde aperta o calo. Perigo em Salvador. O Palmeiras ensaiou reação firme, com três vitórias seguidas, para depois emperrar. Nas últimas rodadas, acumula uma derrota (para o Santos) e dois empates por 1 a 1 (Cruzeiro e Corinthians). O perigo do descenso não virou pó, embora aprumasse o desempenho. Uma das cartadas decisivas para manter-se na elite será jogada hoje, como visitante, diante do Bahia, frequentador da zona da degola. Empate não é para lamentar, ao menos em teoria. O problema de Dorival - e do palmeirense - se concentra no ataque, já que Henrique, o artilheiro, fica fora. Meu amigo, pensa que é pouco? Henrique, mesmo sem ser um craque, um fora de série, fez quase a metade dos gols palestrinos (15 de 31). A noite de domingo promete ter emoções e tanto.