Lugar-comum ouvir técnicos e jogadores de times no topo de classificação afirmarem que “não há nada ganho ainda” e que, portanto, “é preciso manter o foco”. Muitas vezes, a humildade geral soa falsa e leva a relaxamento. Não raro a soberba dissimulada é punida com a perda da taça.
Os corintianos não fogem à regra do discurso dos pés no chão. A puxar a fila da conversa está Tite. Mas, até prova em contrário, no seu caso, a postura comedida faz parte do método de trabalho, estratégia de jogo.
Na prática, se tem visto o Corinthians aplicar-se mais à medida que a competição avança e o sexto título se torna menos distante. Ao invés de arrefecer e controlar a vantagem, se percebe time empenhado em aprimorar-se e a melhorar o desempenho.
O resultado aparece em campo, onde de fato interessa. Até um tempo atrás, o Corinthians gabava-se – com razão – de ter recuperado sistema defensivo sólido, segredo de outras glórias sob o comando de Tite. Essa característica permanece, a ponto de fazer com que seja a equipe menos vazada, com 19 gols sofridos em 25 rodadas.
Até aí, nenhuma novidade. O notável vai para a força do ataque. Desde a virada de turno, tomou gosto também por mandar mais bolas nas redes dos rivais. A sovinice ofensiva deu lugar a esbanjamento. Consequência disso? Com 42 gols, tem a melhor artilharia, ao lado do Atlético-MG. E, para quem aprecia números, acrescentem-se outros dois: o Corinthians venceu mais do que todo mundo (16 vezes) e perdeu menos do que os outros (três).
Não se trata de obra do acaso, nem se alegue participação de arbitragem, tema surrado e que fica até chato para os que a ele recorrem. O segredo se chama competência. Tite e colaboradores reergueram elenco abalado com a saída de diversos jogadores – Sheik e Guerrero os principais – e conseguiram fortalecê-lo com ensaios, repetição, variação tática e fôlego. Poderiam colocar a placa: Homens trabalhando.
O preparo acarreta autocontrole e confiança. Os jogadores sabem o que querem e como atingir metas. Por isso, tem sido comum vê-los manter a calma nos raros momentos adversos. Como nos clássicos com Palmeiras e Grêmio. Nas duas ocasiões, o Corinthians esteve em desvantagem (contra o Palmeiras, ficou atrás três vezes) e buscou ânimo para o empate. É muito.
Daí você pode perguntar: essa prosopopeia toda é para dizer que o Brasileiro de 2015 já tem dono? Não. Só registro de fatos, análise dos motivos que levam o Corinthians a manter-se há tantas rodadas no cume da tabela. A tendência indica o rumo de outra conquista. No entanto, há 39 pontos em disputa, com diversos obstáculos a superar. Um deles marcado para a noite de hoje, em Porto Alegre, que atende pelo nome de Internacional.
Os gaúchos tentam sair do limbo em que se meteram desde a Libertadores, acordaram recentemente, têm 37 pontos e voltaram a flertar com o G-4. Para eles, é imprescindível ganhar. Em seguida, o Corinthians terá o Santos, outro que pôs as mangas de fora. Mais dois testes delicados, em que não se deve afastar a hipótese de perda de pontos.
Com atenuantes a favor dele: 1 – o Corinthians tem estofo técnico suficiente para ultrapassar os desafios; 2 – os outros também terão dificuldades semelhantes, ou maiores. O Atlético-MG, em segundo, visita o Santos, também hoje. Resumo da ópera: tem emoção por aí, mas inegável que o líder seja o favorito.FUTURO VERDE O Palmeiras virou incógnita, não sabe direito se ainda luta pelo G-4 ou se joga a toalha e concentra forças na Copa do Brasil. Poderá ter caminho mais claro nesta noite, após o clássico com um Flu, em queda livre e pressionado. MEDO DE VOAR A polícia dos EUA e a da Suíça prometem novas prisões por causa de corrupção na Fifa. Tem cartolagem que tão cedo não viajará para o exterior. As reuniões da entidade serão só por WhatsApp.