Que não se sinta aviltada a memória de Sua Majestade Imperial, D. Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Mas tomo por empréstimo a célebre frase emitida por ele, em 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, e a adapto à situação do São Paulo. Uma licença poética nessa ligação de História e Futebol domésticos.
Pois o Tricolor embicou num dilema sem escapatória, mais ou menos como a situação do Brasil no dia da Independência: ou bate o Palmeiras, no clássico de hoje à noite, e respira com alívio no campeonato, ou tropeça e se aproxima do abismo do descenso. Empate é meio-termo também muito arriscado, a depender de combinação de outros resultados da rodada.
A turma são-paulina perdeu a mão – ou o pé – da situação desde as semifinais da Taça Libertadores. Como estava com atenção toda voltada para a competição sul-americana, deixou a Série A em segundo plano, na base do “depois a gente vê o que faz e recupera o terreno perdido”. Não foi o que ocorreu. Nesse entretempo saíram alguns jogadores importantes, como Ganso e Calleri, além do técnico Edgardo Bauza, que se escafedeu de mala e cuia para dirigir a seleção da Argentina.
Os resultados ficaram num patamar modesto, aquém do necessário para recolocar a equipe na briga por vaga no bloco principal. Antes, fizeram com que descesse alguns degraus na tabela. De quebra veio derrota para o Juventude, no Morumbi, na estreia na Copa do Brasil. O tempo fechou, torcedores agrediram jogadores no CT e todo mundo tomou um susto daqueles. A temperatura baixou um pouco por obra dos dez dias só de treinos, vários deles fechados até para a imprensa.
O teste vem diante do líder – e no Allianz Parque, onde o São Paulo não tem retrospecto dos mais entusiasmantes – lá perdeu por 4 a 0 e por 3 a 0. Para aumentar a pressão sobre Ricardo Gomes e rapazes, a diretoria palestrina montou esquema para trazer Gabriel Jesus de Manaus em jatinho particular. Se o moço entrará em campo, é outra história. Mas a manobra serve para colocar sobrecarga de preocupação em cima dos adversários.
Ricardo Gomes percebeu logo o tamanho da enrascada ao aceitar proposta que o tirou do Botafogo. O elenco que encontrou à disposição não é dos mais variados e versáteis, e de qualidade mediana. Nem houve investimento de peso para compensar saídas. Se bem que Chavez tem dado conta do recado no comando do ataque.
Mas defesa e meio-campo são setores que provocam dores de cabeça para o treinador e calafrios para a torcida. As mudanças têm sido constantes, sejam por opção tática, por contusões, por suspensões ou mesmo por convocações. Não há definição nem regularidade no desempenho. Desta vez, por exemplo, Wesley deve ser improvisado na direita, com Maicon e Lyanco a forma dupla de zaga (Lugano corre por fora) e Carlinhos, o contestado, na esquerda. O meio não tem muito como fugir de João Schmidt, Kelvin, Hudson, Thiago Mendes e Luiz Araújo, um bloco de “formiguinhas” sem nenhum fora de série.
O São Paulo voltou a ostentar o incômodo ponto de interrogação em torno do futuro, nas duas frentes de que participa. Ficou tão imprevisível, que pode surpreender e ter reviravolta. Na atualidade, isso significa passar pelo Palmeiras e livrar-se do Juventude, na partida de volta, no Sul. Complicado e tenso? Certamente. Não impossível.
Os palmeirenses não topam com desafio semelhante ao do rival. Com três pontos de vantagem sobre o Flamengo, na pior das hipóteses podem ver a diferença anulada. O empecilho está na sequência que o calendário lhe reserva: visita ao Grêmio, recepção ao Flamengo e o dérbi com o Corinthians em Itaquera. Choques com bloco de pretendentes ao título. Se acumular ao menos 8 pontos, não será presunção elaborar projeção otimista para o restante da temporada. Por isso, se justifica o esforço por Gabriel Jesus.
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