PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

(Viramundo) Esportes daqui e dali

Meu time...

Claro que tenho um time, como qualquer um que se ligue em futebol. Amo esse time desde garoto e jamais me passou pela cabeça virar casaca. Deus me livre de tamanha heresia e falta de caráter! Na verdade, antes mesmo de ter consciência do mundo e da vida já o amava, gritava só gol dele em minhas peladas imaginárias, cantarolava o hino, desfilava com a camisa gloriosa, recitava os nomes dos principais astros. Para mim, eram craques, os maiorais, apesar de não ter a mínima ideia do que isso significasse. Eu mal aguentava dar um chute numa bola de matéria plástica...

PUBLICIDADE

Atualização:

Cresci idolatrando aquelas cores simples, básicas e que formavam combinação fantástica. Jamais esqueci a emoção da primeira vez em que pisei num estádio - o Pacaembu. O sóbrio e quase abandonado estádio que, para mim e para milhões da minha geração, ainda é o símbolo supremo de campo de futebol, de templo da bola, de palco de alegrias e tristezas inigualáveis. Não há lugar com tanta história e que tenha visto mais lágrimas do que o "Paulo Machado de Carvalho".

PUBLICIDADE

Pois naquele estádio vi meu time ser campeão pela primeira vez. E outras, outras, outras... Assisti a vitórias memoráveis, jogos fantásticos, clássicos de arrepiar. Acompanhei tudo das arquibancadas, da concha acústica e do tobogã. Das numeradas, não, porque eram caras e eu não tinha dinheiro para tanto. Os tostões eram contadinhos. Se comprasse um sorvete de palito ou bebesse um guaraná, teria de voltar a pé pro Bom Retiro. Eram bem uns sete, oito quilômetros até a rua Tenente Pena, 85. Moleza pra um molecote...

Ir ao Pacaembu foi um dos primeiros passeios com a namoradinha que, quase 40 anos depois, ainda divide a vida comigo. No Pacaembu, e mais tarde em outros campos, vi meu time protagonizar viradas inacreditáveis! Normal, pois ele sempre foi o máximo! E amarguei derrotas de cortar o coração... Xinguei muito juiz, bandeirinha, treinador, jogador perna de pau, cartola... Chorei pra burro. Várias vezes voltei pro Bom Retiro sob toró de lascar, morrendo de raiva e ouvindo a farra "deles". E sempre mais convencido daquele amor, eterno e inabalável.

Mais pra frente, já como profissional, tive de mudar de comportamento. Era necessário e foi ótimo, pois passei a admirar os "inimigos", inimaginável nos meus tempos de amador. Mas paguei o preço de nunca mais vibrar em público com gol do meu time. A isenção me cobrou postura equidistante, contida, altiva. São décadas de treinamento e autocontrole. Chato? Nem tanto. Isso me abriu um panorama esplêndido e me permitiu curtir o futebol de maneira ampla. Aguçou o senso crítico. Hoje percebo como é confortável elogiar e criticar quem quer que seja, o meu time e os demais. É uma liberdade que poucos alcançam... Nem por isso deixei de amaro bendito, o maldito, do meu time.

A independência incomoda - não a mim, mas aos outros. Notava isso antigamente, no corpo a corpo, quando ia ao clube do meu coração para exercer o jornalismo e me cobravam por críticas publicadas no Estadão. "Puxa, você é nosso, não devia ter dito isso...", alegavam. Nosso vírgula, nosso coisa nenhuma! Estava lá a trabalho, meu compromisso era com o jornal que me pagava, com as pessoas que me liam, com gente que confiava em minha capacidade. Até tranquei matrícula de sócio, nunca mais frequentei as piscinas e quadras. Tudo em nome da isenção.

Publicidade

Mais recentemente, descobri o patrulhamento nas redes sociais. Gente que xinga porque não "defendo" meu time. Pessoas que agridem porque elogio o meu time. Indivíduos que lançam as mais calhordas insinuações porque critico esta ou aquela agremiação. Gente que a obsessão (e não o amor) transtornou, que não consegue conviver com a diversidade, a autonomia, a liberdade de expressão.

Pois esse distanciamento me proporciona um sentimento magnífico: enxergo virtudes e defeitos do meu time com mais clareza do que os que se deixaram dominar pela cegueira do fanatismo. Sou até mais ligado ao meu time (uma linda herança paterna) do que muitos que batem no peito e arrotam suposto amor pelo mesmo clube. Esses exalam ódio e no fundo amam a si próprios e não ao time.

Meu time é o melhor e o maior campeão - ontem, hoje e sempre. É o mais forte do mundo, mesmo que não o seja. É o que tem mais craques, mesmo que contrate só cabeças de bagre. É o que conquista mais taças, mesmo que nunca tenha visto a cor de nenhuma em suas prateleiras vazias. Nunca o abandonei, nem vou cometer tamanha desfaçatez.

Meu time é o máximo e único... porque é meu time. Isso vale pra mim, pra você, pra qualquer um que ame o futebol de verdade.

Feliz Natal, um lindo 2013. Faço uma pausa e nos vemos no início de janeiro.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.