Até quando vai morrer torcedor?

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Por Antero Greco e antero.greco@grupoestado.com.br

Já me passou pela cabeça, algumas vezes, que torcedores violentos só seriam amansados na base da chibatada - no tradicional estilo olho por olho, dente por dente. Também considerei, com mais frequência, que atitudes insensatas de integrantes de organizadas deveriam ser entendidas sob ótica psicológica e sociológica e que mereciam atitudes inteligentes e firmes de autoridades. Admito que as duas reações me deixam confuso, porque há o risco de cair na pregação da truculência para conter a truculência ou no paternalismo besta de passar a mão no cocuruto de quem vai pra rua pra bater nos outros, arrasar patrimônio, matar. Só sei que, depois de ver mais um caso de assassinato praticado sob a desculpa esfarrapada de paixão clubística, ainda me vêm sentimentos de revolta, de tristeza e de medo. Apesar de a notícia da emboscada que resultou na morte de um corintiano ter contornos de coisa velha, repetida, não pode cair no vazio, na banalização. Muito menos na conversa fiada de discursos pretensamente enérgicos que não dão em nada. Morte provocada por violência não pode passar em branco nem ser aceita como fatalidade. Ao ver nos jornais e na tevê as imagens de ônibus e carros queimados e torcedores enfileirados a caminho da delegacia, me questiono se algum dia teremos ações coordenadas que incluam prevenção, educação - ou repressão e punição, quando for o caso - para extirpar esse mal. Não engulo mais sugestões de ocasião e inócuas, que dois dias depois caem no esquecimento. Para serem ressuscitadas na próxima morte, com o perdão do trocadilho. Ou se parte para a ação ou seremos engolidos pelo terror. Não aceito que restrinjam minha liberdade - por exemplo, a de ir a um estádio torcer pelo meu time, a de tomar ônibus e metrô sem risco de ser agredido. Quero ter o direito de comprar ingresso e vibrar no campo, independentemente de quem seja o mandante. Destinar estádios para uma torcida só é jogar a toalha e admitir a impotência oficial de garantir a segurança do sujeito pacato. Seria o mesmo que recomendar às pessoas ficarem em casa, se uma facção criminosa ameaçá-las com atentados. Então, melhor fechar o barraco, dar a chave para o ladrão e imigrar. Menos para a Europa, porque o povo da parte rica de lá anda com ojeriza de estrangeiros e esqueceu dos tempos em que exportava bocas e mão de obra. Assunto para outra oportunidade. AMORES ETERNOS Há imigrantes recebidos com tapete vermelho, tratados a pão de ló e contratados a peso de ouro. Caso mais recente é o de Kaká, a joia que o Real anuncia na segunda-feira. Há tempos se transformara em objeto de desejo dos espanhóis - e acho adequada a escolha. Jogadores da qualidade de Kaká devem desfilar em equipes de peso e tradição, como Real, Barça, Inter, Milan, Juventus, Manchester United e poucas mais. Mas me chamou a atenção no episódio a duração do amor eterno entre craque e Milan. Lembram que em janeiro ele esteve com um pé no Manchester City? Depois de dias de incerteza e comoção, se optou pelo fico, com direito a recíprocas juras de amor. O clube dizia que Kaká ficaria lá o tempo que quisesse. O craque se mostrava comovido com o carinho. Alguns e-mails e telefonemas desmancharam o encanto. Diria um cínico: "Acabou um amor, vem outro. A fila tem de andar." Isso se aplica ao futebol; à vida, não.

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