Aí vão duas passagens sobre a transferência para o Arsenal, logo depois da Copa. Vou contar em primeira pessoa, tentando puxar da memória com o máximo de fidelidade.
Na primeira, algumas semanas depois da negociação ter sido encerrada com o Arsenal, eu como muitos jornalistas, estava incrédula com o fato de Marcos ter se recusado a jogar na Inglaterra alegando não querer ficar longe dos pais. Na primeira entrevista exclusiva após o episódio não resisti à tentação de questioná-lo a respeito. Marcos deu uma explicação mais ou menos assim:
"Meus pais não se acostumariam a morar em outro país, outro clima, gente falando outra língua. Estão bem como estão. Ao mesmo tempo, para morar na Inglaterra teria de ficar longe de meu filho pequeno, que hoje mora com a mãe [atualmente deve ser adolescente]. A questão, para mim, era se o dinheiro que ia ganhar na Europa valeria o sacrifício de ficar distante dos meus pais, que não sei quanto tempo mais de vida terão, e não ver meu filho crescer [o contrato oferecido pelo Arsenal na época era de quatro anos]. Meu salário no Palmeiras é bom e se administrar bem o dinheiro posso ter uma vida tranquila quando parar. Gosto daqui [do Palmeiras], o ambiente de trabalho é bom, e então resolvi ficar."
Em uma outra passagem, esta engraçada, ele contou para um grupo de jornalistas como foram os testes físicos na Inglaterra. Na época ele pediu off da história por causa do seu último comentário mas, como há um consenso de que na época a iluminação do Estádio Palestra Itália era mesmo muito ruim [tanto que foi reformada anos depois], acho hoje que não há problema em contar:
"Eles foram fazer uns exames para testar meu reflexo e para isso a gente ficava ia para uma salinha. Tinha um japonês comandando tudo e ele mandou eu tocar em uma luz na parede sempre que ela acendesse. Uma hora acendia em cima, na outra hora acendia embaixo e eu lá dando tapa na luzinha. Umas horas fiquei meio atrapalhado porque era meio rápido. Quando acabou o teste, o japonês chegou e, meio cheio de pose, disse para o tradutor que eu era lento. Falei: Lento? Vai ficar lá no gol do Palestra Itália à noite, que é uma boate. Posso não ter ido bem mas o goleiro de vocês fez esse teste aí e entregou a rapadura na Copa do Mundo. [David Seaman era goleiro do Arsenal e titular da seleção da Inglaterra quanto tomou o famoso gol defalta de Ronaldinho Gaúcho no Mundial de 2002]. "
Imagine a cena com coreografia e contada em jeito de causo.
Não preciso dizer que a gargalhada foi geral.
Valéria Zukeran