Cartolas, reflitam!

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Última coluna do ano, hora de fazer balanços, retrospectivas, reflexões, certo? Errado! O presidente em exercício do Corinthians, Roberto de Andrade, e o presidente do Palmeiras, Arnaldo Tirone, obrigaram-me a mudar de ideia. Cada um a sua maneira, os dirigentes mostraram que a forma como se pensa a administração do futebol não evolui na mesma velocidade com que o dinheiro entra nos cofres dos clubes.Pela ordem de citação, vamos primeiro ao caso do corintiano. Ao comentar a confusão na qual o atacante Adriano se envolveu no dia 24, quando um tiro disparado dentro de seu carro atingiu uma das quatro mulheres que estava no banco de trás, Andrade afirmou que lamentava o ocorrido e que não poderia fazer nada, afinal o jogador estava de folga.Será mesmo que os jogadores podem fazer o que quiser quando estão de folga? Não é bem assim. Quando precisam justificar a inclusão de boa parte do salário dos jogadores no "direito de imagem", os cartolas costumam justificar que jogador de futebol é uma categoria especial, que, portanto, deveria ter uma legislação especial. E usam dois argumentos para tal: os horários alternativos de trabalho e, principalmente, a faixa salarial que, no caso dos atletas de grandes clubes, põe no chinelo até a média de grandes executivos de multinacionais.Só que não são apenas os horários ou salários astronômicos que fazem a classe dos atletas profissionais de futebol ser especial. Só para ficar no tal "direito de imagem", Adriano continua associado à imagem, ou seja, à marca do Corinthians mesmo quando está de férias, folga ou em tratamento.Isto posto, o clube não só teria direito, mas o dever de cobrar e exigir de seus atletas, além do profissionalismo, maiores cuidados no comportamento extracampo. Dizer que nada tem a ver com isso é omissão, uma vez que desvaloriza atleta, dirigente e marca. Pior, fortalece a nefasta figura do bibelô, que se sente protegido mesmo quando erra. "Mudar para quê?" perguntam eles.Pelos lados do Palestra, Tirone pediu paciência aos torcedores porque, além de pagar as dívidas, tem encontrado dificuldade para contratar jogadores, que pedem o dobro para assinar com o Palmeiras.Está claro que o principal problema não é financeiro, mas sim resgatar a credibilidade. Tirone precisaria dar ao clube um choque de gestão e mostrar que o poder tem dono e está fortalecido. Mas não é isso o que se vê. E quando o poder fraqueja, passa a perigosa sensação de que qualquer um pode mandar. Foi o que se viu no jantar de terça-feira, interrompido por grupo que tentava impedir a contratação de Richarlyson.Enquanto isso, jogadores medianos dizem "não" ao Palmeiras, patrocinadores se mostram desinteressados e a torcida, descrente. Tirone se esforça tanto para agradar a todos que corre o risco de ficar sozinho.Em tempo: o ex-presidente, Mustafá Contursi, garante que não é candidato. "Isso (o boato) é algo plantado pela situação para desviar o foco do fracasso da atual gestão. Não sou candidato", disse à coluna.

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