Chana Franciela Masson, de 25 anos, nascida em Capinzal-SC, é uma espécie de Oliver Kahn do Brasil no torneio olímpico de handebol feminino. Assim como o goleiro levou a limitada Alemanha à final da Copa do Mundo de Futebol em 2002, a catarinense tem possibilidades de colocar a seleção numa posição honrosa em Atenas. O time vem conseguindo bons resultados ultimamente, mas ainda está longe das principais forças do esporte. Depende muito de seu desempenho. No mês passado, ela teve atuação notável na vitória brasileira sobre a Dinamarca, em torneio preparatório para a Olimpíada. Melhor jogadora do País, Chana transferiu-se para a Espanha em 2000, onde ficou por quase quatro anos, e, há poucas semanas, foi contratada pelo FC Copenhague, da Dinamarca. AE - Você não se incomoda com as gozações das pessoas por causa de seu nome? Chana - É uma situação que eu superei. Sei lá de onde meu pai tirou esse nome. Mas lá no Sul tem outras Chanas. No Nordeste e em São Paulo, o pessoal faz gozação. Mas agora dou risada, não ligo mais, levo na brincadeira. AE - Os goleiros no handebol levam muita pancada. Você nunca ficou com medo, nunca se machucou? Para mim, isso não é problema. Já levei bolada em todas as partes do corpo (depois, exibe um piercing no umbigo para mostrar que não tem medo). Nunca tive contusão séria. Uma vez desmaiei, mas logo me recuperei. AE - O handebol não tem divulgação no Brasil. Você chega a ser reconhecida por alguém na rua? Na minha cidade, em Capinzal, e naquela região eu sou bem conhecida. Mas as competições que eu disputo fora não são mostradas aqui. Ninguém me vê. AE - Como você encara o fato de ser a grande jogadora do time? Eu acho que sou importante, mas todas as jogadoras são importantes. Pode ser que muita gente fale isso pelo respeito que tem por mim. Sei lá, fui a primeira jogadora de handebol do Brasil a ir para o exterior, saí com 20 anos. AE - Como foi sua adaptação na Europa? Na Espanha foi muito rápida. Não tive nenhum problema. Mas na Dinamarca está difícil. O idioma é complicado, o clima é frio e a comida é muito ruim. Falta tempero, tudo é cru. Vou ao supermercado, compro os ingredientes e cozinho em casa (mora sozinha num apartamento). Pelo menos meu técnico (Morten Soubak) fala português. Ele foi casado com uma brasileira. AE - E em Atenas, acha que dá para alcançar qual posição? Depois dos últimos resultados, mudei minha cabeça. Acho que dá para ficarmos entre as cinco melhores equipes (o grupo do Brasil na primeira fase tem Hungria, Ucrânia, China e Grécia). Mas continuamos sendo surpresa. Para mim, as favoritas são as coreanas. AE - Você hoje faz parte do primeiro escalão do handebol mundial. Consegue tirar um bom dinheiro por mês? Não ganho tanto, não. O Copenhague paga para jogadoras como eu entre 4 mil euros e 10 mil euros por mês, livres dos impostos. E bancam também todas as despesas. Aluguel de apartamento, transporte. Dá para viver bem.