Qual será a motivação para encarar um IronMan? Se o triatlo já é mega difícil - esporte que reúne natação, ciclismo e corrida - imagina terminar com uma maratona (42km), que é o que exige essa prova. O negócio é tão hard, que até a exigência olímpica é mais branda. Com o tempo foram surgindo distâncias menores também, para incluir os amadores, como o Ironman 70.3 São Paulo, que vai ocorrer este domingo, 22 de setembro, com a natação na Raia Olímpica da Cidade Universitária. É uma etapa de triatlo de meia distância organizada pela World Triathlon Corporation, e os atletas vão percorrer pontos famosos da capital paulista como a Ponte Estaiada e o Parque Ibirapuera. E uma das convidadas pra lá de especiais é a triatleta da elite brasileira Pamella Oliveira, que está se preparando para ser guia da triatleta invisual Leticia de Oliveira Freitas no mundial paralímpico, em outubro, na Espanha.
A Pamella Oliveira, atleta FILA, é Top 10 Ironman Pro Series Les Sables, Ironman 70.3 World Championship Qualified, tricampeã do Ironman Brasil (melhor tempo de uma sul-americana na distância), e campeã Sesc Olimpico Caiobá (melhor corrida da prova, 10k em 37'17"), entre diversos outros títulos. Pamella é capixaba de Vila Velha em mora em Balneário Camboriú (SC). Começou a nadar aos 5 anos, por orientação médica, e aos 8 anos já era federada. Foi cair na água e se destacar de toda a turma. Por conta do ótimo desempenho, o esporte a proporcionou escolas melhores e um belo upgrade no orçamento da família. As 14 anos já era ela quem sustentava a família. Foi de pódio em pódio, principalmente no nado borboleta, até os 20 anos, quando ela achou que estava tudo muito chato, e resolveu migrar para o triatlo.
"Encontrava o pessoal do triatlo na piscina do centro de treinamento e ficava ouvindo as histórias, era uma uma vida muito diferente da minha que era um peixinho de aquário, que ia lá na piscina e dava mil voltas. Não tinha muita emoção e a vida deles era cheia de histórias", conta a triatleta, que acabou por se apaixonar por aquela dinâmica outdoor cheia de aventuras e desafios.
No domingo ela vai estar torcendo no Itaú BBA IRONMAN 70.3 São Paulo. A competição classificará 45 atletas, entre homens e mulheres da Faixa Etária, para o IRONMAN 70.3 World Championship 2025, a ser realizado em Marbella, na Espanha, nos dias 8 e 9 de novembro de 2025. A estreia de Sampa no calendário de provas do Circuito IRONMAN 70.3 no país foi em 2019. Retornou em 2022, em razão das restrições impostas pela pandemia. Nas três edições realizadas, os brasileiros não deram chances aos estrangeiros, vencendo todas. No masculino, José Belarmino venceu duas vezes, 2019 e 2023, enquanto Felipe Bergamini ganhou em 2021. Já no feminino, Patrícia Franco foi a melhor em 2019 e 2021, e Carolina Carvalho levou a melhor no ano passado.
A prova contará com cerca de 2 mil triatletas amadores, repetindo o número do ano passado, representando 21 países de quatro continentes. Do total de participantes, o Brasil tem a maior delegação, com 1729 inscritos de diversos estados. O segundo país em número de atletas é o Uruguai, com 15, seguido por Estados Unidos e Argentina, ambos com 12.
A programação começará no dia 19 de setembro, com a abertura do IRONMAN Village e o começo da entrega de kits na Cepeusp. No sábado, dia 21, a partir das 8h, será a vez do Itaú BBA IRONKIDS, na pista de atletismo do Cepeusp. No domingo, a largada será a partir das 6h, na Raia Olímpica, com pódio com os top 3 por volta das 10h30, na arena montada na Pista de Atletismo. O Itaú BBA IRONMAN 70.3 São Paulo é organizado pela Unlimited Sports, com Title Sponsor Itaú BBA, patrocínio Track Field, Omint, Heineken 0.0, Avenue, copatrocínio de Dux, Nespresso, Felt, Pacco,Oakberry, Technogym, Doozy Sports, Boali e apoio de Paçoquita, Sococo, Clinica Vitta e Prefeitura de São Paulo.
Você aprendeu a nadar no mar, já que você morava na praia? Pamella Oliveira - Eu sou de Vila Velha, morava ali perto da praia. E passei a minha infância numa praia "quebra coco", que é aquela que logo no início vem a onda super forte e ninguém consegue entrar ou sair facilmente. Eu cresci numa praia dessa, e toda vez que tinha competição lá em Vila Velha, eu fazia a entrada na água com tranquilidade e a galera ficava desesperada, eu falava: gente, é só mergulhar. Mas aprendi na piscina a nada. Comecei a fazer aula de natação aos 5 anos, o pediatra que aconselhou porque eu tinha problemas respiratórios. E aí eu comecei numa escolinha de natação pequenininha do bairro, que estava começando. Os níveis eram por toucas, em dois anos já tinha zerado todas as toucas. E descobri que gostava mesmo é de competir, sempre tive a veia da competição. Fui seguindo um fluxo, entrei por orientação médica, gostei de nadar e as minhas brincadeiras na piscina eram disputar que era o mais rápido. E logo um clube maior já me chamou e assim foi indo. Então as coisas foram sempre fluindo para o lado bem do profissionalismo.
Depois que o bichinho do triatlo te mordeu, como você fez para se aprimorar na bike e na corrida? Pamella Oliveira - Como eu já nadava direitinho tive que tentar pedalar, mas o pior foi correr, foram dois anos de perrengue para evoluir nessas duas novas modalidades. O mais difícil na bike é essa questão de você sair e ir pra rua, isso era uma coisa muito diferente para mim, mas foi um esporte que eu me adaptei muito rápido, é porque eu tinha muita força, eu já era uma atleta que tinha muita força da natação. Eu nadei durante muito tempo borboleta, que é uma modalidade que exige muita força. Eu me adaptei fácil, diria assim, para fazer força na bike, mas a corrida foi um caminho mais longo. Sabemos que nadadores correndo são estranhos e eu não fugia a regra. Agora, às vezes ouço até elogios a minha técnica de corrida.
Qual foi sua primeira competição de triatlo? Pamella Oliveira - Como eu não tinha bicicleta, comecei com Aquathlon (1km de natação e 5km de corrida). Fui fazendo as provas dessa modalidade no meu estado, fui entrando nas provinhas curtas que tinham. Desde o início fiz um teste para um treino de triatlo no centro de treinamento feminino da Confederação Brasileira. Passei no teste e já fui mirando em competir na elite. Por causa da idade, tinha que começar na distância olímpica (1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida). Eu não tive a vivência do Sprint(750 m de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de corrida). Eu ia bem no início, na natação, na bike eu segurava e na corrida era um desastre, todo mundo me buscava. Mas fui evoluindo rápido. Fiquei vários anos competindo nessa distância e depois fui para o circuito Mundial; fui para dois jogos Pan-Americanos; os Jogos Sul-Americanos, e dois Jogos Olímpicos. Mas como não tive um bom resultado na Rio2016 perdi todos os patrocínios. E resolvi partir para as provas de longa distância por conta da premiação, por necessidade. E migrei para as longas e depois para o Ironman (3.800 m de natação, 180 km de ciclismo e 42 quilômetros de corrida).
Como foi conquistar uma vaga para o mundial do Ironman em Kona (Havaí)? Pamella Oliveira - Na primeira tentativa para Kona só havia uma vaga, e fiquei em segundo, finalizei perto das nove horas. Mesmo assim fiquei muito feliz. Depois veio a pandemia, e tentei depois pela segunda vez, e conquistei a vaga pelo Brasil pela primeira vez. Depois conquistei no ano seguinte também, 2023. Na primeira vez em Kona não me senti muito bem, aconteceu algum problema cardíaco, e me mandaram para o hospital. Era o dia do meu aniversário - 6 de outubro de 2022. Passei o aniversário no no hospital, fiz o exame e estava tudo certo. Voltei a treinar e fui de novo e, dessa vez, só passei mal de de cansaço mesmo. Foi muito duro, sofri mas terminei. Fiquei feliz de ter terminado. É uma prova em um local muito bonito, mas é uma prova desafiadora - pela percurso, pela distância, pelo calor, pelo local. Enfim por tudo, mas é uma festa que vale muito a pena.
Qual foi seu momento mais marcante no triatlo? Pamella Oliveira - Um momento que me marcou muito foi o primeiro Jogos Pan-Americanos que eu fui pelo triatlo e fui medalha de bronze! Foi uma coisa assim surreal, porque nós brasileiros valorizamos muito o Pan. Na natação tinha tentado ser convocada em 2007 para o Pan do Rio e não consegui, e quatro anos depois estava no Pan do México, uma novata ainda no triatlo e conquistei uma medalha para o Brasil. As favoritas para medalha eram duas americanas, que nadavam e pedalavam forte. Então tentei uma fuga na natação e deu certo, nadei junto com elas. Então quando a gente começou a correr, uma das meninas que puxou na natação ficou para trás, fiquei quase a corrida inteira em segundo lugar e fui ultrapassada no último quilômetro por uma chilena. Fiquei em terceiro. Cheguei exausta, acho que foi mais coração do que condições mesmos para podiar. Segurei a posição muito na marra, e essa prova abriu as portas do esporte a nível mundial e fui melhorando cada vez mais.
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