CPB vê País evoluir após Rio-2016, mas teme estagnação como potência paralímpica

Presidente da entidade, Mizael Conrado não quer que o Brasil se acomode com as conquistas recentes

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Por Rafael Franco
Atualização:

Presidente do Comitê Paralimpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado acaba de completar oito meses à frente da entidade. E embora este tempo ainda seja pequeno para uma avaliação de sua gestão, o dirigente enumera com entusiasmo os projetos, iniciativas colocadas em prática e vitórias que já conquistou neste seu início de gestão. Porém, ele admite que é preciso seguir evoluindo e destaca que o Brasil não pode se acomodar como potência nos esportes adaptados de alto rendimento e vê a necessidade de o País dar um passo à frente como potência paralímpica como um dos maiores desafios neste ciclo que visa os Jogos de Tóquio-2020 e nos próximos que virão até Paris-2024 e Los Angeles-2028.

Com a experiência de quem já estava há muito tempo como vice-presidente do CPB antes de ser eleito mandatário maior do órgão, no qual sucedeu Andrew Parson, novo presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), o consagrado ex-jogador da seleção brasileira de futebol de cinco para cegos concedeu entrevista exclusiva ao Estado antes de embarcar de São Paulo rumo à Cidade do México para acompanhar os primeiros dias de disputa do Mundial Paralímpico de Natação, que começou no último sábado e vai até esta quinta-feira.

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Mizael Conrado, presidente do CPB Foto: Nilton Fukuda|Estadão

Embora admita que o investimento nos atletas com deficiência que competem no esporte de alto rendimento tenha sofrido uma queda natural e já esperada em relação ao que foi visto antes da Paralimpíada do Rio, no ano passado, o bicampeão paralímpico com os ouros de Atenas-2004 e Pequim-2008 crê que é justamente por meio do legado histórico deixado pelo grande evento que o País está no caminho certo para uma evolução contínua.

"Foram oito meses desafiadores para mim como presidente. Além de todo cenário esportivo, a gente viveu uma expectativa focando uma grande participação nos Jogos do Rio e para conhecer um legado importante para depois dos Jogos", disse Mizael Conrado, para pouco depois ressaltar: "O grande desafio agora é continuar cada dia avançando. A gente (Brasil) vem numa ascendente muito grande. Chegamos a uma posição que junto da gente e à frente só existem grandes países com uma cultura paralímpica consolidada. E o nosso grande desafio é nos mantermos entre as grandes potências paralímpicas do mundo".

Mizael Conrado reconhece que suas ousadas metas, esportivas e sociais como líder do CPB, só poderão ser atingidas dentro do médio a longo prazo, mas ele vê a grande vitrine proporcionada pelos Jogos do Rio-2016 aos atletas com deficiência trazer uma nova conotação ao paradesporto nacional e agora destaca que o Brasil tem a sua maior chance de "resignificar" a sua importância dentro esporte paralímpico. Neste caso, ele se refere a conquistar um maior poder para atrair investimento de empresas que ainda não apostaram nos atletas com deficiência.

"A gente tem esse grande desafio de consolidar o movimento paralímpico, assim como resignificar a importância do esporte paralímpico, para que seja visto como um produto, para que a gente tenha uma maior participação do financiamento privado", destacou Misael Conrado, para quem o preconceito em relação aos paratletas também já é muito menor do que foi no passado e hoje, para ele, não é visto como uma grande barreira para atrair investidores. "Temos uma mudança de percepção da sociedade, que reconhece o atleta paralímpico", disse.

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Conforme disse quando foi eleito presidente do CPB no início de abril, Mizael Conrado segue apostando que a capacitação de professores de educação física nas escolas com o foco na preparação de atletas paralímpicos também pode se tornar o grande trunfo para que o Brasil continue sendo uma potência paralímpica e até concorra de forma equilibrada com os países mais fortes do mundo, como por exemplo os Estados Unidos, que têm como enraizado em sua cultura esportiva o desenvolvimento dos atletas e paratletas por meio das escolas e universidades, assim como conta com apoio importante da iniciativa privada.

"Temos a meta de capacitar 100 mil professores da rede pública com especialização em preparação de atletas com deficiência até 2025. Tentaremos capacitar aproximadamente 50% dos professores da rede pública do Brasil. Ainda hoje, a pessoa com deficiência é dispensada da prática da educação física nas escolas", ressaltou.

A JOIA DOS JOGOS

O crescimento do esportistas com deficiência que defendem o País hoje está agora inevitavelmente ligado ao Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, inaugurado às vésperas dos Jogos do Rio-2016 e que é, de forma unânime entre atletas e dirigentes, o principal legado físico que a Olimpíada no Brasil deixou para a atual e para as próximas gerações de competidores no esporte adaptado de alto rendimento.

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Com a sua gestão 100% nas mãos do CPB, que recentemente venceu a licitação para administrá-lo por no mínimo cinco anos, o CT se tornou a grande "joia" da entidade e celeiro para a formação de atletas que poderão brilhar já a partir deste ciclo paralímpico que visa principalmente os Jogos de Tóquio-2020. Mas, com seus 96 mil metros quadrados e estrutura que não fica devendo aos maiores centros da elite paralímpica mundial, o CT custa muito caro para ser mantido e precisará ser gerido de forma eficiente para não se tornar um "elefante branco", como tantas estruturas construídas para os Jogos do Rio-2016 viraram após o término do grande evento.

Mizael Conrado, entretanto, já traçou planos e vem liderando a montagem de um novo organograma de gestão conjunta que, entre muitas outras metas, mira deixar o CT sustentável e também atrair novas receitas. Hoje, além de contar com apoio de verbas que vêm dos governos federal, estadual e da Prefeitura de São Paulo, o CPB tem parceiros importantes, como por exemplo a Caixa Econômica Federal, e segue tentando atrair outras empresas para garantir a longevidade do novíssimo local.

"O CT tem um custo importante, mas apresenta muitas oportunidades. Aqui tem escolinhas de esporte, para formação de crianças com deficiências, mas vamos conseguir atender às demandas das seleções brasileiras, com a realização de eventos nacionais e internacionais. Teremos academia, departamento de ciência do esporte. O atleta vai poder chegar no CT de manhã, fazer parte das suas refeições no local, e ter acesso a tudo o que ele precisa para se desenvolver como atleta", disse Mizael Conrado, confirmando que o custo anual médio de manutenção do CT é de R$ 30 milhões, mas isso não o assusta. "O CT está dentro do orçamento do CPB, com as suas despesas dentro do orçamento. A gente sempre busca patrocinadores, mas o programa de desenvolvimento está garantido", assegurou.

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