Atletas sem médicos, obrigados a passar horas na internet comprando passagens aéreas em voos de baixo custo e até casos de despejo por falta de pagamento de aluguel. Atravessando a pior crise econômica de sua história recente, diversos países da periferia da Europa já estão sentindo o peso dos cortes de investimento nos esportes. A Espanha, tradicional potência esportiva, e a Grécia, berço olímpico, somam um número irrisório de pódios e caminham para deixar Londres com desempenhos pífios. A Irlanda só garantiu uma medalha e Portugal sequer ficou entre os três primeiros em algum esporte. A crise se transferiu para o terreno esportivo. Apesar de ainda ser cedo para determinar a posição que cada país ficará no quadro de medalhas, os resultados mostram uma situação complicada para esses países. "O paralelo entre a economia e a performance dos países nessa Olimpíada é claro. Grécia e Espanha tiveram de fazer cortes drásticos nos investimentos e até nos salários de funcionários públicos. É claro que isso impactou também o esporte e já afeta a atuação de seus atletas", disse ao Estado o economista italiano Marco Simoni, professor do Instituto Europeu, da London School of Economics.Na Espanha, o desempenho da delegação virou uma polêmica nacional. A poderosa seleção de futebol, favorita até do presidente da Fifa, Joseph Blatter, para levar o ouro, não passou da primeira fase. O judô fracassou. No tênis, Feliciano López e David Ferrer caíram e as seleções de polo aquático e hóquei também não começaram bem. Grécia. Os gregos também não disfarçam o mal estar com apenas duas medalhas. Em casa, em 2004, saíram com 16 delas. Vassiliki Vougiouka, quinta colocada na esgrima, admitiu que está viajando sem médicos e obrigada a estudar para encontrar um trabalho que a sustente. "Está muito difícil", disse. "Nossa federação não tem dinheiro para quase nada." O problema grego piorou depois que jornais ingleses revelaram como os dirigentes esportivos do país se divertem nas noites londrinas e a fortuna que gastaram para alugar o luxuoso e elitista Carlton Club como sede - só no aluguel foram 230 mil. E a cada noite, políticos, dirigentes e amigos se reúnem para jantares e festas, todas regadas a vinhos caríssimos. Nem a Casa da Grécia sobreviveu. No último fim de semana, os organizadores tiveram de retirar seus móveis e material de promoção do local às pressas, porque não haviam pago a segunda semana de aluguel do local e acabaram sendo despejados.Portugal continua sem medalhas. Em Pequim, foram duas no atletismo e a esperança é de que esse número seja repetido. Os irlandeses, que também foram resgatados financeiramente pela União Europeia, apenas garantiram por enquanto uma medalha no boxe. Em Pequim, foram três. A Itália é o melhor entre os países europeus em crise, com 17 medalhas até agora. Mas, faltando cinco dias, teria de dobrar o número de conquistas para chegar ao mesmo patamar de medalhas de Atenas, em 2004, quando somou 32 medalhas. Na China, em 2008, ficaram com 27. Desta vez, dificilmente repetirão o mesmo número, depois que o Comitê Olímpico Italiano cortou 20% de seu orçamento. "Um dos impactos mais evidentes é o fiasco da natação italiana por problemas na organização da equipe", disse Simoni. "Temos excelentes atletas, mas não estão vencendo porque não se organizam. É um retrato da Itália: temos ótimos economistas, mas não conseguimos sair da crise porque a sociedade mergulhou em um caos."O tamanho das delegações também foi reduzido em comparação a 2008. A da Grécia encolheu 34%; a da Itália, 18%. A delegação dos Estados Unidos também sofreu uma redução de 11%, pequena se comparado a 13,7% na do Japão e 14% na da Alemanha. No Reino Unido, a esperança é de que a enxurrada de medalhas e o evento sejam um incentivo à economia, em recessão, e à moral dos consumidores. Mas nem mesmo os medalhistas de ouro parecem ter ilusão sobre o impacto de suas conquistas. O tenista inglês Andy Murray minimiza o efeito dos Jogos na economia. "Eu não sei o impacto dessa participação popular para a economia e nem se isso vai ajudar uma recuperação (econômica)", disse o vencedor do torneio de tênis. "Sinceramente, duvido que haja um impacto", completou.