Se com o grupo unido já é difícil vencer o campeonato mundial, com ele dividido e trocando acusações, a missão se torna bem mais complexa. É o caso da Red Bull, dona do melhor carro da temporada. Mark Webber desagradou muita gente no time ao, de novo, afirmar para a imprensa ser preterido na escuderia em favor do companheiro, Sebastian Vettel. Ontem, o piloto alemão e o diretor da equipe, Christin Horner, negaram que exista preferência na Red Bull."Não sei o que ele falou agora", disse Vettel, referindo-se a Webber. O australiano, vice-líder do campeonato, afirmou quinta-feira que o time não esconde sua torcida por Vettel. E ontem precisou voltar ao assunto diante do desgaste gerado pela declaração. "O que disse ontem não é surpresa para muita gente, mas garanto que está tudo bem na Red Bull." Na sequência, Webber afirmou algo que atesta a divisão na escuderia: "Tenho ótima relação com as pessoas certas, capazes de me permitir realizar um grande trabalho, que é o mais importante." Não é de hoje que se fala que se Webber for campeão do mundo este ano, vai parar de correr. No GP de Mônaco, afirmou com exclusividade ao Estado: "Se não renovarem meu contrato, abandono as pistas." A Red Bull estendeu seu compromisso apenas para o campeonato de 2011 e Horner disse: "Webber tem 34 anos, vamos renovar com ele ano a ano." Se perder a disputa para Fernando Alonso, líder na classificação, ou mesmo para Vettel, é provável que Webber cumpra o seu contrato. Desde que a equipe não se sinta atingida demais e o dispense, o que não é impossível. "Se eu não esquecer como se pilota nos próximos meses, vou estar na Red Bull em 2011", garante Webber. Mas é a palavra dele.O australiano quer que Horner o priorize na luta pelo título por estar a 11 pontos de Alonso (231 a 220), enquanto Vettel está a 25 (206). Restam apenas a prova de Interlagos, amanhã, e a de Abu Dabi, no domingo seguinte. Horner até adiantou que poderia concentrar os interesses em Webber, depois do GP da Coreia, quando Alonso assumiu a liderança do Mundial, mas depois de o proprietário da Red Bull, o austríaco Dietrich Mateschitz, afirmar ser contrário a essa política, Horner foi obrigado a dizer: "A luta entre Webber e Vettel está aberta." O problema é que Webber insiste em dizer que as regras desta luta são desiguais. Em Silverstone, depois de vencer brilhantemente, afirmou no rádio do carro, para o mundo esportivo ouvir: "Nada mau para um segundo piloto, não?". Após ter de se redimir, publicamente, pela declaração, pensava-se que não haveria mais atritos. Webber, no entanto, não para, por se sentir atingido.Em Interlagos deu início a outro capítulo da história que gera enorme desgaste. Webber está afrontando, agora, a orientação do próprio dono da Red Bull, o que pode lhe custar caro. O preço, no entanto, pode não se limitar a Webber perder o emprego e ter de se entender com o próprio grupo, que investirá até o fim da temporada mais de US$ 250 milhões (R$ 420 milhões) para produzir o carro mais eficiente do ano. Perder o título não está difícil para a Red Bull. Em Istambul, quando Vettel tocou em Webber e jogou fora uma dobradinha da escuderia, Horner afirmou: "Não é sempre que uma equipe se coloca tão bem na temporada quanto nós. Sabemos o quanto isso é difícil. Precisamos, agora, sentar e conversar", afirmou o dirigente. Pelo que se está assistindo em Interlagos, a conversa não deu certo. O diagnóstico parece ser o que historicamente gera a perda de conquista que parecia inevitável: liderança fraca.SEM MEIAS PALAVRASMARK WEBBERPiloto da Red Bull"Tenho ótima relação com as pessoas certas. É o mais importante"