Felizes, mas equilibrados. A garantia de uma medalha nos Jogos Olímpicos de Londres não tirou a concentração de Adriana Araújo e Esquiva Falcão Florentino. E nem a ambição. "É uma honra ser a primeira boxeadora a subir no pódio, mas estou preparada para mais. A Olimpíada não acabou para mim. Ainda pode vir o ouro", disse a baiana, de 30 anos, depois de vencer a marroquina Mahjouba Oubtil, por 16 a 12, e alcançar a semifinal na categoria leve (até 60 quilos)."Eu vim para o ouro. Se não conseguir, vou festejar, mas não estarei satisfeito. Começa uma nova era no boxe brasileiro", afirmou Esquiva, de 22 anos, que derrotou o húngaro Zoltan Harcsa, por 16 a 10 e vai disputar uma vaga na final da categoria médios (até 75 quilos) contra o britânico Anthony Ogogo na sexta-feira.O boxe só ganhou uma medalha em Olimpíada. Servílio de Oliveira ficou com o bronze na categoria dos moscas, em 1968, na Cidade do México.Adriana volta ao ringue amanhã para enfrentar a russa Sofya Ochigava, vice-campeã do mundo e que derrotou Adriana no Mundial do ano passado, na China, nas quartas de final. "Eu sei que vai ser muito duro, mas pode ter certeza de que vai ser muito duro para ela também", disse a brasileira, única a fazer duas lutas na competição. Tanto a russa como Katie Taylor, da Irlanda, e Mayzuna Chorieva, do Tajiquistão - que farão a outra semifinal -, só lutaram uma vez por terem sido bye na primeira rodada.Ao contrário do outro combate, quando foi intensamente agressiva para vencer Saida Khassenova, do Casaquistão - parecida com seu ídolo Mike Tyson -, Adriana mostrou-se calculista e precisa diante da marroquina. "Cada luta é um adversário diferente e eu também preciso ser diferente", disse. "Como ela (a marroquina) soltava muito golpes, preferi aplicar os meus com certeza de marcar os pontos necessários para a vitória."Outro motivo para Adriana entrar com um ritmo menos intenso foi o fato de ter de perder 1,5 quilo para cravar os 60 da categoria. "Foi um esforço grande, mas valeu a pena", afirmou a pugilista, que prevê mais apoio ao boxe feminino com a medalha. "As coisas ainda estão acontecendo. Algo melhor deve ocorrer ainda."Diante da russa, Adriana promete nova surpresa tática. "Conheço o estilo dela e ela me conhece. O favoritismo é dela, mas eu vou para cima. Meu objetivo é buscar a medalha de ouro."Luta tática. O brasileiro fez uma luta tática diante do húngaro. "A maioria das lutas estão sendo decididas no primeiro round. Entrei com tudo para abrir vantagem e consegui", disse o brasileiro, que fez 6 a 2. No segundo, o brasileiro jogou no contra-ataque e, diante do desespero do rival, abriu 11 a 6. No último, foi preciso apenas administrar para conseguir o feito histórico (perdeu por 4 a 3). Esquiva aposta na vitória do irmão, Yamaguchi, que luta amanhã diante do cubano Julio La Cruz Peraza, pelas quartas de final da categoria até 81 quilos (meio-pesados). "Ele está muito confiante. O adversário é muito forte, mas ele já o venceu uma vez", comentou.Esquiva dedicou a vitória ao pai, Touro Moreno, um ex-lutador. "Vou colocar esta medalha no pescoço dele. Ele sempre confiou em mim e no meu irmão. Dizia que tinha duas cartas na manga. Uma já deu o resultado. Na quarta (amanhã) será a outra."BOXE