ENTREVISTA-Menos badalado, Zanetti pode chegar onde Daiane e Hypólitos não foram

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Por PEDRO FONSECA

Daiane dos Santos e os irmãos Daniele e Diego Hypólito são os nomes que levaram a ginástica artística brasileira a um novo patamar de reconhecimento, mas falharam em momentos decisivos e não conseguiram dar ao país uma medalha olímpica. Praticamente um desconhecido, Arthur Zanetti está a caminho de chegar lá. O ginasta classificou-se para a final da prova de argolas, da qual é o atual vice-campeão mundial, com a 4a melhor nota e, por ser um estreante em Olimpíadas, se vê livre da pressão por resultados, ao contrário de seus adversários mais experientes e que chegaram a Londres com o peso de comprovar o favoritismo. A final será na segunda-feira. "Esta é minha primeira Olimpíada, me sinto bem preparado e acredito que a pressão maior está sobre aqueles ginastas que vão defender seus títulos aqui em Londres", disse Zanetti, de 22 anos, em entrevista à Reuters por email da Vila Olímpica, onde está hospedado aguardando a final. "Vou fazer meu melhor para repetir os bons resultados dos últimos anos, mas sei que eles são consequência da minha prova no dia da competição, e é nela que vou me concentrar agora", acrescentou o ginasta paulista, que além do vice-campeonato mundial em 2011 ainda conquistou a medalha de ouro no evento-teste realizado em Londres antes da Olimpíada. Desde que Daiane dos Santos conquistou o título mundial do solo em 2003, a ginástica artística do Brasil vive a expectativa de levar sua primeira medalha em uma Olimpíada. Em Atenas-2004, Daiane frustrou um grande número de torcedores que passou a acompanhar o esporte ao pisar fora do tablado em sua apresentação do solo e terminar em 5o lugar. Diego Hypólito foi o responsável pela maior frustração de quatro anos atrás, em Pequim, quando também falhou no solo na Olimpíada depois de ter conquistado dois títulos mundiais. O ginasta caiu na final e terminou em 6o. Em Londres, ele repetiu a dose, com mais um tombo, deixando Zanetti como única esperança do país de finalmente subir ao pódio, uma vez que a equipe feminina sofreu diversos problemas em sua preparação --incluindo o corte às vésperas dos Jogos de Jade Barbosa, a melhor ginasta do país, por questões contratuais-- e não se classificou para nenhuma final. SÉRIE MAIS DIFÍCIL NA FINAL Se foram as mulheres que abriram as portas para o esporte no Brasil --antes de Daiane e Daniele, Luisa Parente foi finalista olímpica em Seul-1988--, atualmente são os homens que carregam a bandeira da ginástica artística brasileira. Sérgio Sasaki terminou em 10o na final do individual geral em Londres, melhor resultado da história para o Brasil, e Zanetti vive a expectativa de uma medalha que possa repercutir no país e aumentar o apoio ao esporte. "A ginástica masculina vem ganhando seu espaço de maneira contínua e, o que é mais importante, sólida e consistente. Chegamos muito perto de classificar uma equipe completa para Londres. Conseguimos classificar, pela primeira vez na história, três atletas para os Jogos. Acredito que o reconhecimento do masculino tem crescido bastante, mas que ainda temos muito potencial para evoluir", disse o ginasta. "Esta medalha pode abrir muitas portas para a ginástica do Brasil. Espero que com isto melhore os incentivos feitos diretamente nos atletas para 2016." Zanetti teve nas eliminatórias a melhor nota de execução, 9.116, mas ficou em 4o porque não forçou tanto no grau de dificuldade (6.500). Para a final olímpica, sua apresentação terá um grau mais complicado para partir do mesmo nível de pontuação que os adversários. O principal deles é o chinês Cheng Ybing, atual campeão olímpico. "Os dois primeiros elementos que eu faço são os de grande dificuldade, por isto começo com eles e também faço duas maltezas (ficar com o corpo na horizontal com os braços esticados segurando as argolas) que tem o valor F, que é o grau de maior dificuldade nas argolas", explicou. "O diferencial não está na dificuldade da série pois quase todos tem a mesma nota de partida, o diferencial será a execução dos movimentos." (Reportagem de Pedro Fonseca; Edição de Tatiana Ramil)

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