André Jardine vira lenda no México após ouro olímpico e fala sobre seleção: ‘Sonhos que nos movem’

Em conversa com o ‘Estadão’, técnico comenta especulações no México, diz não ter mágoas por saídas de São Paulo e CBF, avalia reconhecimento e exalta comissão 100% brasileira

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Foto do author Leonardo Catto
Atualização:
Foto: @ClubAmerica via X
Entrevista comAndré Jardinetécnico do América do México

Carlos Reinoso, multicampeão com o América do México como jogador e treinador, cravou que, se André Jardine ganhasse o tricampeonato nacional com a equipe, em 2024, seria o melhor técnico da história do clube. Isso não apenas se cumpriu, como o treinador brasileiro de maior sucesso no exterior agora busca o tetra mexicano e o fim de um jejum na Copa dos Campeões da Concacaf.

Em conversa com o Estadão, Jardine revelou os sonhos de treinar em uma liga europeia e disputar uma Copa do Mundo. Ainda que a seleção brasileira tenha a vaga, o treinador “não se vê” fazendo essa mudança no momento. No México, ele também já foi especulado no time nacional.

“Num futuro, com certeza. A gente tem vivido isso, com o nome exaltado pelo bom momento que estamos vivendo. É super gostoso, mas não me vejo agora em nenhuma seleção”, confessa ao Estadão.

Antes de chegar ao México, Jardine já havia subido ao topo do pódio com a seleção brasileira, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021. Na final, o time superou a Espanha que veio a ser a base da equipe campeã da Eurocopa 2024, incluindo o técnico Luis de la Fuente.

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Jardine considera seu estilo de jogo mais ofensivo e celebra bons números do América na temporada

Equipe tem o segundo melhor ataque e a melhor defesa do Campeonato Mexicano

A continuidade na CBF foi posta em xeque em meio à desorganização da entidade. O México foi a saída – e, para Jardine, um reconhecimento.

“Com o ouro olímpico, a gente sabia que se iam abrir portas, como essa que me coloca no mercado com muita força e com uma experiência bastante aceitável para estar no cargo em que eu estou”, analisa o treinador, que conta com uma comissão 100% brasileira e que, em parte, o acompanha desde Tóquio.

Segundo Jardine, não há mágoa pela saída da CBF. Tampouco em relação ao São Paulo, pelo qual teve grande trabalho na base, mas, ao ser efetivado no profissional, foi demitido precocemente.

O treinador é uma peça importante, mas cada jogador também contribui muito para construção dessa ideia de jogo. E é essa arte de ir cedendo um pouco o jogador, o treinador, o clube e a gente tentando encontrar aquela que é a melhor forma possível de competir e que nos aproxime de ganhar.

André Jardine, sobre metodologias e 'formas de jogar futebol'

O que vale, para ele, é o trabalho em equipe. Há uma compreensão de que tanto ele quanto sua comissão são mais reconhecidos, no Brasil, por quem acompanha o futebol de base. Contudo, eles não tem pressa para buscar esse reconhecimento.

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“De uma forma geral, eu diria que o reconhecimento é menor do que o merecido. Mas faz parte, eu acho que, a cada conquista, a cada tempo que vai passando, a gente vai se consolidando no mercado, vai sendo maior, vai aumentando, o pessoal vai nos conhecendo. Isso é uma questão de tempo para todo mundo se dar conta do potencial que a gente tem aqui como corpo técnico”, avalia.

Entre categoria de base, interino e técnico do profissional, Jardine esteve quatro anos no São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

Enquanto isso, na disputa do Clausura, o América é líder, com três pontos de vantagem para o Toluca, segundo colocado. O clube tem o segundo melhor ataque do torneio, com 29 gols em 13 jogos, ficando atrás apenas do Toluca (33), além de ostentar a melhor defesa, com apenas oito gols sofridos.

A única derrota até o momento na campanha foi para o Necaxa. A equipe de Jardine chegou a sofrer 2 a 0 e buscar o empate. Entretanto, o time teve um jogador expulso e sofreu o 3 a 2. Como destaques positivos, estão a vitória por 3 a 0 sobre o Tigres, no último fim de semana, e a goleada por 4 a 0 sobre o Chivas Guadalajara, na Copa dos Campeões.

É pelo torneio continental que o América entra em campo, nesta terça-feira. O duelo contra o Cruz Azul, às 22h15 (de Brasília) abre as quartas de final. O jogo de volta ocorre dia 9 de abril.

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Torcida do América considera Jardine um ídolo e o colocou ao lado de astros da história do clube em bandeirão. Foto: @feintsoccermx via Instagram

O time do América tem se mostrado mais ofensivo agora em relação ao Apertura e remete aos primeiros times que você montou aí no México. A ideia é fazer uma equipe ‘faceira’?

O DNA do clube é ofensivo. É um time que sempre buscou essa vertente, a torcida gosta disso. Tentamos não fugir muito disso. O torneio passado foi bastante atípico e acabou nos exigindo essa capacidade de adaptação.

O time sofreu com diversos problemas e aí, chegando na na reta decisiva, a gente foi por um caminho de competir muito, ter um sistema defensivo muito sólido para nos aproximar da chance de ser campeão, tricampeão e, graças a Deus, deu tudo certo.

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Já nesse quarto torneio aqui no América, a gente já pôde ter um pouco mais de descanso, depois tivemos uma pré-temporada um pouco maior do que o normal aqui. Não foi nada espetacular, mas foram 15 dias com o grupo todo, o que aqui é raro de conseguir.

Eu também tenho um DNA muito mais ofensivo do que defensivo e sempre que a gente tiver mais tempo para treinar, o time vai recuperar formas mais ofensivas, vai ter uma prioridade de ataque e já está se mostrando nessa primeira parte do torneio. Chegamos a ter o melhor ataque por várias rodadas. Hoje estamos com o segundo melhor ataque. Num equilíbrio muito bom, porque somos a melhor defesa.

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Sem dúvida, se a gente pode, se está com nível de confiança bom, se está podendo treinar, quase sempre a nossa cara vai ser uma cara de um time ofensivo, de um time que vai muito bastante para o ataque.

Vemos o debate sobre tendências de jogo, o que, por vezes, é taxativo, como se uma equipe pudesse atuar apenas de uma forma. Como você avalia essa discussão?

O futebol é um esporte jogado de diversas formas. Eu acho que a visão que o treinador tem do jogo sempre vai ser um ponto bastante importante, que vai acabar indo para dentro do campo. Mas, aqui, no América, a gente procura, e é uma característica minha, ser sempre muito adaptável aos jogadores que a gente tem. Tento me conectar aos principais jogadores e encontrar a forma de extrair o melhor deles.

Então, tem jogadores que se sentem mais à vontade de uma ou de outra forma. E o time acaba sendo esse misto daquilo que a gente enxerga de futebol... um ideal, que todos os treinadores têm na cabeça, mas mesclando com aquilo que ele vê no dia a dia, respeitando também a característica dos seus jogadores e tentando fazer disso uma química que seja maior, inclusive que o ideal.

Não que não seja importante, mas, de fato, aquilo que é mais importante é o que o jogador consegue fazer dentro de campo, é o que a equipe vai se transformando, que é essa soma de pequenas contribuições de todos.

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O treinador é uma peça importante, mas cada jogador também contribui muito para construção dessa ideia de jogo. E é essa arte de ir cedendo um pouco o jogador, o treinador, o clube e a gente tentando encontrar aquela que é a melhor forma possível de competir e que nos aproxime de ganhar.

Você tem grandes trabalhos na base aqui no Brasil. A formação de jogadores no México é semelhante?

É boa. O México também uma boa tradição em Mundiais Sub-17, Sub-20. Eu lembro de algumas finais jogadas por Brasil e México, por exemplo. O México tem uma boa categoria de base, acho que num volume, número de equipes, número de jogadores bem menor que no Brasil.

No Brasil, se vê muito mais clubes, inclusive com um perfil formador, que nem têm equipes tão fortes disputando primeira ou segunda divisão, mas que muitas vezes, na categoria de base, são muito fortes, e que acabam ajudando a revelar jogadores para equipes grandes, num futuro.

Aqui se joga no mesmo dia da categoria principal, o que faz ter uma proximidade interessante. Eu estou sempre assistindo aos jogos. Os jogadores muitas vezes estão assistindo aos nossos jogos também. Então, acho bem ajeitado e com uma margem de crescimento importante a partir do momento em que se investir um pouco mais em nos clubes menores. Esse deveria ser o próximo passo aqui no México.

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No Brasil, os estaduais ajudam a isso, nos clubes menores. É toda uma cadeia de formação que muitas vezes faz o Brasil ter um volume muito grande, um surgimento constante de grandes valores. Mas o México tá muito bem servido também nesse aspecto.

Comissão técnica de André Jardine, no América, é 100% brasileira. Foto: @ClubAmerica via X

Ainda que ‘André Jardine’ seja o nome que estampa o trabalho multicampeão do América, sua equipe técnica o acompanha há tempo e também estava na Olímpiada de Toquio. Como funciona a integração entre vocês?

Acredito muito no trabalho em equipe, na competência de todos que fazem parte desse trabalho. No meu caso aqui, que estou em outro país, são as pessoas que vêm comigo. Todo treinador deveria ser muito criterioso na escolha dos seus profissionais, na montagem da sua comissão técnica. Essa química é muito importante que faça todos crescerem.

E eu tenho tido sorte e competência na eleição dessas pessoas que me acompanham. Hoje são dois assistentes, o Paulo Vítor e o Felipe Leal, que são treinadores reconhecidos no Brasil em categoria de base, em seleção brasileira. Já têm trabalhos importantes prestados, tanto nos seus clubes quanto na seleção. Nos consideramos três treinadores a pensar o jogo, a discutir, a planejar a semana de treino.

Mais o Dudu Brestani, que é um analista vindo da CBF, que teve um trabalho importante, inclusive, com o Tite na conquista da Copa América. Um analista de desempenho de nível seleção, que também já tem um entrosamento comigo muito grande. Já consegue transformar, muitas vezes, em imagem, em vídeos muito educativos,o nosso jeito de pensar e de ver o jogo.

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Agora, a última aquisição, foi o Marquinhos, o Marcos Seixas, que é um preparador físico também de muita experiência, já com passagens importantes em vários clubes, a destacar o Fluminense campeão da América, seleção brasileira com a gente na Olimpíada.

Todo treinador deveria ser muito criterioso na escolha dos seus profissionais, na montagem da sua comissão técnica. Essa química é muito importante que faça todos crescerem. E eu tenho tido sorte e competência na eleição dessas pessoas que me acompanham.

André Jardine, sobre sua comissão técnica

Eu vejo a força que esse grupo tem, a qualidade, competência de cada um, cada uma das partes. E que dá muito mais do que a soma das partes, porque a gente se respeita muito, empurra um ao outro a evoluir, para crescer constantemente. E isso talvez seja o ponto mais forte que a gente tenha conquistado aqui no México.

Você considera que o André Jardine e sua comissão recebem o reconhecimento proporcional ao sucesso que têm?

Ah, depende de que nível a gente está falando. Acho que o reconhecimento pode vir de várias áreas. Eu diria que talvez a imprensa que acompanha as categorias de base, com certeza, sabe exatamente o tamanho dos profissionais. É verdade que não são muitos que acompanham e têm esse entendimento, mas existe uma uma parte importante que sabe exatamente o tamanho da comissão técnica montada aqui.

As torcidas, de forma geral, acho que também é essa parte que acompanha categoria de base, as seleções de base do Brasil e que sabe os curriculos do pessoal que tá aqui.

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Mas diretorias, coordenadores técnicos... esses, com certeza, nos conhecem. Então, por isso que volta e meia o nome realmente vai ter força, porque muitos profissionais acompanharam de perto, jogaram contra, em alguns casos, tiveram do nosso lado em conquistas importantes.

De uma forma geral, eu diria que o reconhecimento é menor do que o merecido. Eu diria assim. Mas faz parte, eu acho que, a cada conquista, a cada tempo que vai passando, a gente vai se consolidando no mercado, o reconhecimento vai sendo maior, vai aumentando, o pessoal vai nos conhecendo. Isso é uma questão de tempo para todo mundo se dar conta do potencial que a gente tem aqui como corpo técnico.

Claro que há a perseguição ao tetra, mas o América também vive um jejum da Copa dos Campeões da Concacaf, mesmo sendo o maior campeão. Tem diferença na forma de jogar a fase em mata-mata dos dois torneiros?

O Campeonato Mexicano fica com um caráter de Copa do Brasil, digamos assim, em fases finais. Tem o tempero da (melhor) campanha valorizar os dois resultados iguais. Dá um pouco de reconhecimento a quem consegue a melhor campanha dentro do da primeira fase.

Mas não é 100% determinante, né? A gente provou isso nesse último título, vindo de uma posição mais baixa e conseguindo se impor na nessa etapa de mata-mata. Já nos dois primeiros títulos, a vantagem da campanha acabou sendo bastante importante em jogos duros que a gente teve a vantagem. Nos protegia em momentos cruciais.

Então, essa é uma característica da “Liguilla” (mata-mata do Mexicano). Já a Concachampions é a Libertadores, ainda naquele momento em que existia o gol fora. Muitas vezes deixa o primeiro jogo um pouco mais travado. O time da casa joga se protegendo um pouco mais para não ceder essa vantagem ao rival.

Dependendo de quem consegue a vantagem, deixa o jogo mais aberto ou não. Eu acho um pouco polêmico até. Acho que acertadamente as federações vão, aos poucos, tirando esse critério de desempate, do gol de visita, mas aqui ainda existe. E torna, sem dúvida, o jogo um pouco um pouco diferente da Liguilla.

Mas são muito similares no quesito de jogos de mata-mata, em que tem 180 minutos para para provar que é melhor que o teu rival no somatório e não vai fugir muito disso de qualquer competição.

Uruguiao Brian Rodriguez é o artilheiro do América na temporada, com 12 gols marcados. Foto: Victor Cruz/AFP

O time da Espanha que a seleção olímpica venceu em Tóquio deu frutos. É a base da equipe campeã da Eurocopa no ano passado e com o mesmo técnico. Mesmo assim, vimos um domínio do Brasil naquele jogo. Qual a diferença do entendimento na época e hoje?

Era um timaço, né?. Quando a gente se classificou para final e passou a olhar para Espanha, nos demos conta do nível de seleção que a Espanha levou para os Jogos Olímpicos. Era uma um misto de seleção principal, com os melhores valores, jovens que eles tinham na época.

Uma cara de jogo de seleções principais. O nosso time também tinha uma base importante de jogadores que tinham um nível para estar na seleção do Tite na época. Hoje, vendo o mesmo treinador e praticamente a base daquela equipe, sendo a base da seleção principal, a gente se dá conta do nível de dificuldade que era aquele jogo. Ainda mais valendo uma uma medalha de ouro.

Foi o trabalho no São Paulo que mais me credenciou para assumir a seleção olímpica e que, aí sim, com o ouro olímpico, a gente sabia que iam se abrir portas, como essa aqui do México.

André Jardine, sobre ser não ter mágoa em trabalhos passados

A Espanha, por exemplo, nunca ganhou um ouro olímpico no futebol. Era uma uma conquista inédita para eles, que tu via o nível de motivação que eles estavam no jogo e o que valia, o que representava. A reação deles quando quando termina o jogo foi de choro de praticamente todos os jogadores.

Foi um jogaço de domínio repartido, digamos assim. A Espanha tem esse DNA de ter a bola, muito forte em qualquer categoria que se jogue. Então, tivemos momentos de sofrimento, de ter de se defender muito mais que a gente gostaria. Mas momentos que a gente empurrou eles para trás e dominamos, criamos chances.

Richarlison foi um dos principais nomes da seleção olímpica ouro em Tóquio. Foto: Júlio César Guimarães/COB

Era um jogo que acabou se transcorrendo muito como a gente imaginava, de alternância de domínio. A gente acreditava que tinha mais condição de, nesses momentos que a gente dominava, ser mais contundente, aproveitar melhor a chance. A gente tinha na equipe principal o Richarlison e o Matheus Cunha, vivendo um grande momento, os dois.

Mais o Claudinho e o Antony, que eram jogadores importantíssimos ali na geração de jogo ofensivo. Mais o Arana, que foi um lateral profundo, mais o Bruno Guimarães e o Douglas Luiz, que são volantes de nível de seleção principal.

Enfim, montamos um um time realmente especial e muito forte e que acabou vencendo a Espanha. Para mim, brindando aquela competição com o melhor jogo possível para ser uma final olímpica. E que, hoje, quem fizer o trabalho de olhar para trás vai valorizar ainda mais na conquista do ouro. A gente sabe a dificuldade e o valor que tem, mas talvez nem todo brasileiro tenha essa noção do que a gente conseguiu conquistar naquele momento.

André Jardine foi eleito treinador do ano no Prêmio Brasil Olímpico em 2021, após o ouro em Tóquio. Foto: @CBF_Futebol via X

A saída da CBF depois foi por acreditar que sua carreira, internamente, poderia ser diferente. Antes, teve a demissão no São Paulo. Em algum desses aspectos há um arrependimento, mágoa ou pensamento de que poderia ter feito algo diferente?

Eu valorizo muito cada etapa da minha vida profissional. Os dez anos de Inter foram importantíssimos, fizeram parte da minha formação, foi praticamente uma faculdade, trabalhando em todas as categorias. conhecendo diversos profissionais, trabalhando com jogadores que, anos depois, viraram jogadores de altíssimo nível.

Depois veio um ano rápido no Grêmio, mas que também foi muito importante, me deu a primeira experiência no profissional. E aí, sim, transcendendo ao São Paulo, que é um gigante, do centro do País. Um profissional vindo do Sul é sempre uma conquista grande, conseguir romper essa barreira.

E ali foi uma consolidação da minha carreira. Trêsanos no Sub-20, com muitas conquistas, com muitos jogadores importantes formados. Isso passou a me tornar um profissional um pouco mais conhecido já a nível de Brasil e que acabou me levando depois para a seleção. A passagem no profissional, apesar de ter sido curta, claro que foi importante, me deu essa experiência.

Jardine substituiu Diego Aguirre, como interino e, posteriormente, efetivado, novembro de 2018, e ficou no cargo até fevereiro de 2019. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Foi o trabalho no São Paulo que mais me credenciou para assumir a seleção olímpica e que, aí sim, com o ouro olímpico, a gente sabia que iam se abrir portas, como essa aqui do México, que hoje me me sustenta e me coloca no mercado já profissional, com muita força e com uma experiência bastante aceitável para estar no cargo em que eu estou, graças a esses clubes todos que eu falei e a esse histórico que eu tenho no Brasil. Sou muito grato a essa trajetória que eu tenho.

Os períodos de questionamento acontecem, logo depois de um fato acontecer, quando tem um momento negativo, dentro da trajetória, que faz parte. No futebol, de tantos profissionais, talvez às vezes tu te questiona alguma escolha que tu poderia ter feito feito diferente, mas, hoje, estando onde eu estou, num clube grande no México, tricampeão, sendo cotado para seleção do México, volta e meia sendo cotado para assumir um time no Brasil, sabendo que tem outras ligas prestando atenção no meu trabalho, seja MLS, seja mercados de Europa, só tenho a agradecer cada uma dessas experiências. Entender que muitas vezes fazem parte do processo, as derrotas, os momentos mais difíceis que a gente passou em cada um desses clubes. Na verdade, só gratidão e olhar para frente com muito orgulho de cada uma dessas experiências e saber que elas são muito importantes porque fazem parte dessa construção do profissional que eu sou hoje.

Você tem o sonho de treinar na Europa?

Tenho sonhos importantes. Acho que uma liga na Europa é algo que poucos treinadores brasileiros conseguiram transcender nesse nível e, sobretudo, fazer um trabalho consistente, que fique alguns anos e que tenha bons resultados. São raríssimos os exemplos que a gente poderia dar. Acho que o treinador brasileiro está precisando desse tipo case para impulsionar outros e abrir um pouco mais o mercado para gente.

Obviamente, alguma seleção em algum momento, vai ser um sonho importante jogar o Mundial, dirigir uma seleção principal. Não me vejo agora mas, num futuro, com certeza. E voltar ao Brasil também. São pequenos sonhos que a gente tem. Ou grandes sonhos que a gente tem.

A gente procura abastecer a nossa vontade de trabalhar. São esses sonhos que nos movem a ser cada vez melhor, a seguir no caminho que a gente está. Acho importante tê-los e mais importante ainda valorizar sempre onde a gente tá e trabalhar muito para que as coisas aconteçam hoje e não só também ficar vivendo do amanhã e do depois e sim do próximo torneio, do próximo jogo. um pouco a forma que tenho de vida.

Como avalia a seleção brasileira hoje?

Tem muitos jogadores que que trabalharam com a gente ali no círculo olímpico e até mesmo na Sub-20, que hoje já são realidade na seleção principal. Um grande objetivo nosso era esse, municiar a seleção principal com jogadores do mais alto nível.

Depende, realmente, de tempo, tem que dar confiança, tem que muitas vezes atravessar momentos difíceis como o que se está atravessando para, ali na frente, se valorizar tudo isso e começar a colher resultados de um trabalho já de um tempo maior.

O México, como uma das sedes da Copa do Mundo de 2026, já vive o clima de Mundial?

Já está vivendo forte a Copa. O assunto de seleção toma conta sempre que tem a Data FIFA. Pega fogo. Aqui a seleção tem um pouco do mesmo tom do Brasil. A pressão é muito grande. Eles querem ver o México jogando bem, rápido.

Eles imaginam o México fazendo um papel muito bom na Copa. Talvez não com condições de ganhar a Copa, o mexicano tem um pouco essa dimensão da dificuldade que é, mas se exige ter uma seleção forte, capaz de competir como um todo e, com certeza, por jogar em casa, se exige o México fazendo um papel muito digno. Tem uma boa geração de jogadores, que realmente tem condições e vem sofrendo nos últimos anos com essa não continuidade dos trabalhos, como no Brasil também. Mas tem tudo para para se ajustar e acredito que o México também vai fazer um um muito bom papel na Copa do Mundo.

Com gol aos 92 minutos de jogo, o México foi campeão da Liga das Nações da Concacaf, superando o Panamá por 2 a 1, na última Data Fifa. Foto: Luiza Moraes/AFP

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Ah, a torcida do América é muito grande. Eu compararia com a torcida do Flamengo no Brasil. Então, obviamente, o treinador do América, quando tem êxito, ganha uma visibilidade muito forte. A gente tem vivido isso, com o nome exaltado pelo bom momento que estamos vivendo. É super gostoso, mas nao me vejo agora em nenhuma seleção. Torço bastante para a seleção mexicana ir bem.

É bom para todo mundo. Eleva o valor da liga mexicana. Estando aqui, eu sei a força que tem, mas é muito importante que a seleção consiga performar para ganhar o respeito das outras seleções, dos outros países. Sempre que a seleção de um país vai bem, todos os profissionais do meio do futebol acabam se fortalecendo, se beneficiando de alguma forma.

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Vamos para um bate bola do André Jardine: uma série, seriado ou novela?

Ozark.

Um filme?

Gladiador.

Uma música?

Supersonic, do Oasis.

Um livro?

Transformando suor em ouro, de Bernardinho.

Um técnico de futebol?

Pep Guardiola.

Um jogador?

Ronaldinho Gaúcho.

“Time que está ganhando, se mexe”.