O Red Bull Bragantino abriu as portas de seu centro de treinamento e dos vestiários, ao longo de 2024, para uma equipe de filmagem que registrou todos os aspectos do drama da briga contra o rebaixamento no Brasileirão. As imagens, entre elas brigas internas e reuniões, podem ser vistas na série documental A Próxima Jogada, coprodução da Beyond Films, produtora da qual Ronaldo Fenômeno é sócio, com a SporTV, que exibe os três primeiros episódios, do total de seis, a partir das 20h30 desta sexta-feira. Os outros três passam dia 17, segunda-feira, e todos ficarão disponíveis na Globoplay.
O documentário segue os moldes de sucessos como a franquia All or Nothing, que já acompanhou temporadas de Manchester City, Tottenham e até da seleção brasileira. Outro exemplo bem sucedido deste tipo de produção é Drive to Survive, série de bastidores da Fórmula 1, além do Acesso Total, da própria SporTV.

“A popularidade dessas séries pode ser explicada porque o futebol foi se fechando cada vez mais para o público. Esses bastidores, essas coisas que acontecem no dia a dia, pouquíssima gente tem aceso. Esse tipo de material atraí até quem não é fã fervoroso de futebol. É um bastidor que não é oferecido na grande mídia”, opina Marcelo Pizzi, diretor de A Próxima Jogada e de outras séries esportivas, como A Virada, sobre a chegada de Ronaldo ao Cruzeiro e a volta do time à Série A, e a Reinvenção do Flamengo.
De acordo com Pizzi, a escolha por fazer uma série sobre o Bragantino passa por dois principais motivos. O primeiro é o interesse em mostrar a aplicação da mentalidade europeia da Red Bull dentro do Brasil. Ao longo da série, é mostrado como filosofia de gestão da empresa austríaca entra em conflito, a todo momento, com as particularidades do futebol brasileiro.
“Para gente, estava muito claro que existe um conflito muito interessante. O Bragantino é um clube empresa, e não é qualquer clube empresa. É um clube empresa que traz uma mentalidade da Red Bull Europa. Então, existe sim um modelo de gestão Red Bull. E esse modelo bem rígido em relação a investimento, a tetos salariais, é um modelo muito ponderado de ação. Não tem rompantes de falta de profissionalismo, tipo demitir técnico o tempo inteiro, é mais a longo prazo”, diz o diretor..
“Mas esse modelo foi inserido no Brasil, que tem um contexto esportivo que pode ser enlouquecedor. Acontece de tudo no futebol brasileiro. Nem sempre a torcida vai ter essa paciência de esperar um tempo para ganhar um título. Esse conflito é tão forte que ele é quase um personagem da série. Ela é analítica em relação a esse conflito. A mentalidade europeia dentro de um país em que o futebol costuma ser uma zona”, conclui.

Outro ponto que levou os caminhos da produtora à Bragança Paulista foi a maior liberdade de acesso dentro do clube, diferentemente do que seria em clubes de massa. O Bragantino não se fechou nem mesmo depois de começar a brigar contra o rebaixamento. Quando o documentário começou a ser produzido, a expectativa era de fazer uma temporada tão boa ou melhor do que a de 2023, ano em que o time do interior paulista foi sexto lugar no Brasileirão.
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“Percebem que não era Libertadores, muito menos título, e sim rebaixamento. A partir daí, a série ganha um caráter dramático porque cada jogo passa a ser um desafio de vida ou morte para não cair. Por não ser um clube de massa, a gente teria maior facilidade de acesso, e realmente a gente teve. A gente teve acesso a tudo, vestiário, reuniões. Tudo que tem de melhor está lá na série”, diz Pizzi.
“Não houve mudança de atitude. Em clubes de massa, um Flamengo, um Corinthians, eu não me surpreenderia se o clube começasse a se fechar num momento desse. Lá não aconteceu. Graças a isso, a gente tem bastidores dos últimos jogos, em que, a partir de um determinado ponto da série, a gente começa a fazer meio que uma contagem regressiva. Faltam sete jogos, faltam seis. A curva de emoção dentro do vestiário é exponencial, vai aumentando”, conclui.
No início, as gravações não captaram momentos muito fortes, até porque levou algum tempo para que os jogadores ficassem completamente à vontade com as câmera. Em certo ponto, contudo, eles já agiam como se a equipe de filmagem não estivesse ali.
“A gente trás todos esses registros de tensão. Esse tipo de produção tem uma coisa interessante, um fenômeno que se repete. No primeiro dia que a equipe de filmagem está no vestiário, os caras se comportam de um jeito diferente. O cara não se sente livre para se comportar da maneira que ele se comporta. Só que o tempo vai passando, e tem uma hora, que não é uma fórmula matemática, que a equipe vira ladrilho do vestiário. Eles se sentem à vontade para ser como realmente são. É a partir deste momento que a gente começar a coletar o melhor material”, explica o diretor.
Muitos dos momentos de tensão são protagonizados pelo treinador Pedro Caixinha, responsável pela grande campanha de 2023 e hoje no Santos. O português chega a dizer aos jogadores que o Red Bull tem “o pior elenco do campeonato” e não economiza nos palavrões e xingamentos. Até que ele é demitido, ponto a partir do qual o documentário mostra de dentro como funciona a tal “mudança de ambiente” que sempre se fala no jargão futebolístico. Fernando Seabra chega, com perfil apaziguador, e controla a situação.
“Havia pressão para que o Caixinha fosse demitido, mas o clube segurou até onde deu. Quando a chance de rebaixamento virou uma realidade, eles optaram por demitir o Caixinha e trazer o Fernando Seabra, que tem métodos bem diferentes do Caixinha. Não vou entrar no método quem é melhor, mas o Caixinha é um técnico muito enérgico dentro do vestiário, embora fora ele seja completamente diferente, é um cara divertido”, afirma Pizzi.
“Dentro do vestiário ele se transforma, verbaliza, fala palavrão, grita com os caras. E o Seabra talvez fosse o homem certo na hora certo, porque ele é conciliador, ele tem o perfil de unir os caras. Não foram poucas vezes, isso a gente tem as imagens, em que ele intervém em brigas de jogadores para parar a briga e promover união. Ele foi determinante nessa reta final.”