O Botafogo estreia na Copa Intercontinental nesta quarta-feira, contra o Pachuca, do México, alimentando o sonho do inédito título mundial. No que depender do clube, e de alguns ídolos históricos, o torcedor já pode se sentir campeão do mundo. Isso porque os cariocas consideram a conquista do Triangular de Caracas, popularmente conhecido como Torneio de Caracas, como uma competição do primeiro escalão do futebol internacional.
O time alvinegro levou a melhor nas edições de 1967, 1968 e 1970. O Botafogo chegou a pleitear na Fifa a oficialização dos títulos como status de Mundial, mas teve o pedido negado pela entidade máxima do futebol.
Na era de ouro do futebol, uma maneira encontrada pelos clubes para ganhar dinheiro foi a realização de excursões, especialmente pela Europa, onde Santos e Botafogo gozavam de prestígio por selo sucesso de jogadores na seleção brasileira, como Pelé e Garrincha. Os convites para torneios amistosos rendiam um cachê suficiente para fazer as equipes preterirem disputas locais para viajar. À época, não havia geração de receitas por venda de camisas, tampouco pela comercialização de direitos de televisão. A principal fonte de recursos era a arrecadação com bilheterias.
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Foi no contexto do crescimento da indústria petrolífera na Venezuela que surgiu o Torneio de Caracas. Em um primeiro momento, a competição nasceu com o nome Troféu Marcos Pérez Jiménez, em referência ao presidente venezuelano da época, mas ficou conhecida como a Pequena Taça do Mundo. Era organizada por Damián Gaubeka, empresário espanhol que vivia no país sul-americano e um dos principais entusiastas do projeto que visava popularizar o futebol no local. A competição foi disputada de 1952 a 1957, com Corinthians e São Paulo se sagrando campeões em 1953 e 1955, respectivamente. Botafogo, vice em 1952 e 1957, e Vasco, segundo em 1956, também participaram.
A partir de 1958, o torneio passou a se chamar Triangular de Caracas, disputado em um formato com três clubes. O Bangu, vence a primeira edição, superando o Malmo, da Suécia. A competição voltaria a ser disputada somente em 1967, quando o Botafogo ergueu o troféu. O alvinegro carioca se classificou por ter conquistado a Rio-São Paulo de 1966 — por falta de calendário, Santos, Corinthians e Vasco também foram declarados campeões do regional.
Na semifinal, o time botafoguense derrotou o Peñarol, campeão da Libertadores, por 1 a 0. Já na finalíssima, bateu o Barcelona, campeão da Taça das Cidades com Feiras, competição precursora da Liga Europa, por 3 a 2, com direito a um gol de bicicleta marcado por Gerson.
Em 1968, mesmo ano em que conquistou a Taça Brasil, o Botafogo voltou a vencer o Triangular de Caracas, batendo Benfica, vice-campeã da Copa dos Campeões, atual Champions League, e a seleção argentina. Dois anos depois, em 1970, o alvinegro carioca voltou a ficar com o título ao bater o forte time da Checoslováquia. À época, era comuns seleções e combinados de cidades importantes, como São Paulo, Rio e Londres, formarem equipes para a disputa de torneios amistosos.
“O Silva, ponta de lança do Flamengo, foi para o Barcelona na época. O Benfica tinha Eusébio, meio e ataque inteiro da seleção de Portugal que foi vice-campeã do mundo em 1966″, comentou Gerson, em seu canal no YouTube. “Fifa não reconhecia, mas era um torneio internacional. Tinham todos esses campeonatos antigamente quando não existia Mundial de Clubes. Vale a pena (pleitear na Fifa). O Flamengo não brigou anos e anos com o Sport pelo título de 1987?”
Outros clubes que conquistaram o Triangular de Caracas foram Cruzeiro (segunda edição de 1970 e 1977), Deportivo La Conruña (1976), Real Madrid (1980) e Sporting Lisboa (1981). O Botafogo se apega ao alto nível técnico da competição para valorizar o tricampeonato. Jornais da época também destacaram o título com caráter mundial. “Fogo em Caracas! Glorioso carioca é campeão do mundo”, destacou o Correio da Manhã.
Em 2020, o Botafogo incluiu em seu site oficial uma linha do tempo mencionando o tri do Triangular de Caracas como títulos mundiais. O clube não recebeu as taças na época da conquista, mas o Centro de Memória do clube solicitou a reprodução das réplicas, na estão na sala de honrarias desde 2021.