Dez jogos, com nove vitórias e um empate, e quase nenhuma empolgação do torcedor. Esse era o frio resumo da campanha da seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 até esta quinta-feira. Em seu 11.º jogo na corrida rumo ao Catar, o Brasil fez o clássico contra o Uruguai, venceu de forma impiedosa por 4 a 1 e recuperou seu prestígio com propriedade. A vitória apareceu com um futebol coletivo, mas com um destaque para um protagonista diferente - Raphinha, o então desconhecido atacante do Leeds United mostrou suas credenciais de titular da equipe.
Após o jogo, Raphinha falou sobre o seu sentimento após uma partida quase perfeita. “Não tenho como explicar a felicidade que eu estou sentindo, pelo jogo, pelos gols. Estou realizando um sonho de criança de representar toda uma nação, um país”, disse. Ele ainda fez questão de relembrar o local onde foi criado, o bairro de origem humilde da Restinga, em Porto Alegre. “O mais importante é que estou conseguindo representar a comunidade de onde eu vim, meus amigos, meus familiares. Venho da Restinga, em Porto Alegre.”
O atacante também afirmou que deseja manter o foco para ser lembrado novamente por Tite “Vai ser difícil esquecer essa noite, não precisava acabar nunca. Volto para a Inglaterra focado no meu trabalho no Leeds, que me fez chegar aqui na seleção.”
Fazia um bom tempo que a seleção brasileira não jogava tão bem. Calejado com as críticas ao pobre futebol apresentado na vitória sobre a Venezuela e no empate com a Colômbia, Tite resolveu apostar em Raphinha como titular no ataque, ao lado de Neymar e Gabriel Jesus.
Em seu primeiro jogo como titular com a camisa da seleção brasileira, em sua segunda convocação, o atacante do Leeds United, da Premier League, jogou solto e teve uma noite muito inspirada. Apoiado em seu futebol, o Brasil dominou o Uruguai como se a tradicional Celeste Olímpica fosse uma equipe qualquer - apesar de ser um conjunto um tanto envelhecido, definitivamente não se trata de um time ruim.
O jogo começou com a seleção brasileira trocando passes rápidos e sem medo de finalizar na meta do bom goleiro Muslera. Logo aos dois minutos, Neymar recebeu pela esquerda, puxou para o meio e bateu firme para uma defesa firme do arqueiro uruguaio.
Mas aos nove minutos a defesa do Uruguai não conseguiu parar o melhor jogador brasileiro. Fred, que fazia a dupla de volantes com Fabinho, deu um lindo toque por cima da zaga para Neymar já dentro da área. Ele dominou no peito, tirou Muslera da jogada e finalizou com força, sem ângulo, para abrir o placar na Arena Amazônia - 1 a 0 para o Brasil.
Foi o 70.º gol de Neymar em 115 jogos com a camisa da seleção brasileira e assim ele fica a apenas sete gols de se igualar ao Rei Pelé como o maior artilheiro do Brasil na história.
Depois de muita festa da torcida em Manaus, o Brasil não parou de trocar passes em velocidade e nem parou de atacar. Aos 17 minutos, Lucas Paquetá fez boa jogada pela esquerda e cruzou rasteiro para Neymar, dentro da área. O atacante do Paris Saint-Germain dominou e chutou, mas a bola bateu no zagueiro Godín. Muslera tentou afastar o perigo, mas Raphinha apareceu rápido pela direita e só empurrou para marcar o seu primeiro gol pela seleção - 2 a 0 para o Brasil.
Com o seu gol, Raphinha coroava o seu ótimo início de trajetória na seleção. Contra a Venezuela, ele entrou no segundo tempo e deu duas assistências para a virada brasileira na vitória por 3 a 1 em Caracas; no domingo, em Barranquilla, mais uma vez entrou no segundo tempo e deu bom ritmo de jogo para o time de Tite; por fim, nesta quinta apareceu pela primeira vez como titular e tomou conta da posição.
Além de atacar com velocidade e em bloco, a marcação da seleção brasileira foi muito forte e esteve implacável. Zagueiros e volantes não deram quase nenhum espaço para os craques Edinson Cavani e Luís Suárez, estrelas do time do Uruguai. Na frente, os meias e atacantes conseguiam criar e abusavam dos dribles, dando muito trabalho para os experientes Valverde e Betancour na contenção das jogadas pelo lado uruguaio.
Fred e Fabinho se revezavam no desarme das jogadas de ataque do Uruguai e Lucas Paquetá regia o meio-campo com muita categoria, algo que ele demorou a demonstrar com a camisa brasileira.
Aos 33, o lateral-esquerdo Alex Sandro foi para o meio e deu excelente passe para Gabriel Jesus. O atacante do Manchester City dominou, mas Muslera fechou o ângulo na hora do chute. Sem espaço para definir, ele tocou para Raphinha, que devolveu para Jesus, que acabou desarmado.
O Uruguai chegou com perigo pela primeira vez apenas aos 34, quando Betancour bateu firme da entrada da área e a bola passou raspando a trave direita de Ederson.
Quatro minutos depois, mais uma vez Muslera parou o ataque brasileiro. Neymar tabelo com Raphinha dentro da área, dominou e bateu de esquerda, mas o goleiro se esticou todo e conseguiu fazer a defesa. Dois minutos depois, foi a vez de Raphinha receber bom passe de Emerson, passar como quis por Godín e bater firme, para nova intervenção do arqueiro uruguaio.
O Brasil voltou para o segundo tempo com o mesmo ímpeto. A voracidade na hora do ataque deixou, finalmente, o torcedor brasileiro satisfeito. Logo no primeiro minuto, Neymar quase ampliou; aos três minutos, Gabriel Jesus parou em Muslera; aos cinco, mais uma vez o goleiro parou o ex-palmeirense; um minuto depois, Raphinha exigiu nova intervenção do arqueiro - um massacre.
O terceiro gol era questão de tempo e chegou aos 12 minutos. Em rápido contra-ataque, Gabriel Jesus tocou rápido para Neymar, que esticou a bola e tocou para Raphinha na frente dos zagueiros. O atacante gaúcho entrou em velocidade na área e chutou forte no canto esquerdo, sem chances para Muslera - 3 a 0 para o Brasil, fora o baile.
Tite começou a mexer na seleção e mandou Antony e Gabriel Barbosa em campo. Aos 19, em uma ótima tabela entre os dois, Gabigol bateu firme, mas o ‘paredão’ uruguaio conseguiu espalmar para escanteio. A cena se repetiu aos 28, com mais uma vez o atacante do Flamengo sendo parado pelo melhor jogador do Uruguai em campo.
Aos 30, Piquerez, lateral-esquerdo uruguaio que joga no Palmeiras, sofreu falta perigosa na entrada da área brasileira. Na hora da batida, o craque apareceu - Luis Suárez cobrou com perfeição, no canto esquerdo baixo de Ederson, e diminuiu para a Celeste.
Mas o Brasil seguia com sua forma de jogar. Aos 37, Neymar cruzou na cabeça de Gabriel Barbosa, que cabeceou para o gol, mas a jogada foi paralisada por impedimento. Contudo, após análise do VAR (Árbitro de Vídeo), o gol foi validado, para a celebração de Gabigol.
Depois, até o fim do jogo, as duas seleções diminuíram o ritmo. O Brasil chegou aos 31 pontos e segue firme em sua caminhada rumo ao Catar. O próximo jogo da seleção será em 11 de novembro, contra a Colômbia, na Neo Química Arena, em São Paulo.
FICHA TÉCNICA
BRASIL 4x1 URUGUAI
BRASIL - Ederson; Emerson, Lucas Veríssimo, Thiago Silva e Alex Sandro; Fabinho (Douglas Luiz), Fred (Edenílson) e Lucas Paquetá (Antony); Raphinha (Everton Ribeiro), Gabriel Jesus (Gabriel Barbosa) e Neymar. Técnico: Tite.
URUGUAI - Muslera; Nández (Cáceres), Coates, Godín e Viña (Piquerez); Valverde, Bentancur, Vecino (Facundo Torres) e De La Cruz (Torreira); Luis Suárez e Cavani. Técnico: Óscar Tabárez.
GOLS - Neymar, aos 9, Raphinha, aos 17 do 1º Tempo; Raphinha, aos 12, Suárez, aos 31 e Gabigol, aos 37 do 2º Tempo.
JUIZ - Fernando Rapallini (ARG).
CARTÕES AMARELOS - Fabinho, Valverde, Cavani, Cáceres.
PÚBLICO - 12.528 torcedores.
RENDA - R$ 2.943,725,00.
LOCAL - Arena Amazônia, em Manaus.