Foi usando da mesma calma inabalável para marcar os dois gols da vitória do São Paulo sobre o Botafogo, por 2 a 1, na decisão do Torneio Rio-São Paulo, que o atacante Ricardo Izecson Santos Leite, o Cacá, de apenas 18 anos, passou o dia desta quinta-feira tentando se adaptar à nova condição de astro. A maratona começou cedo. Segundo ele, quando acordou, vários jornalistas já o esperavam na porta da sua casa, no Morumbi, em busca de uma entrevista. "Apesar da adrenalina, consegui dormir", conta o novo xodó da torcida tricolor que, na madrugada desta quinta-feira comemorava, eufórico, com a torcida gritando seu nome, o bom desempenho na final do Rio-São Paulo. A agenda foi apertada, com entrevistas e compromissos durante todo o dia. Andando pela cidade, o jogador já sentiu o gosto da fama. "Me reconheceram na rua, é uma sensação gostosa", admitiu o atacante, que, evangélico, dedicou o título a Deus e a sua família. Cacá foi decisivo na vitória são-paulina. O jogador substituiu o volante Fabiano no segundo tempo, quando a equipe perdia por 1 a 0. Com a ajuda de França, que fez dois lançamentos precisos, o jogador conseguiu, em três minutos, marcar dois gols e levar o Tricolor à virada e a torcida ao delírio. Após a partida, comemorou percorrendo o gramado agitando uma bandeira do clube. "Nunca sonhei, dormindo, com algo como o que me aconteceu, mas sem dúvida realizei um dos meus sonhos como jogador." Apesar de toda festa a sua volta, Cacá tentava não se deslumbrar. A partir do fim do jogo, o atacante, pacientemente, atendeu a todos que o procuravam. Segundo o atacante, a família, que sempre o apoiou, nunca o deixou esquecer que basta uma partida infeliz para começarem as cobranças e as críticas. Por isso, vai procurar manter a rotina. A próxima meta, diz o jogador, é conseguir um lugar no time titular do São Paulo. "Vou continuar me esforçando para ganhar uma oportunidade. O importante é estar jogando e mostrar meu trabalho." Mas Cacá não quer parar por aí. "Tenho outras metas, como a seleção brasileira e jogar em um time no exterior." Kaká - Os fãs estranharam. Ao pedir um autógrafo para Cacá, o jogador assinava diferente. "Sempre escrevi o meu nome com K", conta. Segundo ele, por um erro no momento de sua inscrição, o apelido passou a ser escrito com C. "No campeonato não dava para mudar, mas, se puder, depois pretendo trocar." A trajetória de Cacá foge do estereótipo típico do jogador de futebol, que faz da profissão um meio de fugir da pobreza. Filho de pai engenheiro, Ricardo Izecson Santos Leite sempre teve boas condições de vida e o futebol foi uma opção. "Meus pais sempre me apoiaram", conta. Sócio do São Paulo, o atacante começou nas categorias inferiores aos 12 anos. "Nunca fui discriminado por ser rico, eles sempre vinham na minha casa." Mas nem tudo foi fácil. Em setembro de 2000, o jogador fraturou uma vértebra ao mergulhar em uma piscina. Por pouco escapou de ficar paraplégico. De jeito simples, o jogador diz que seu passatempo preferido são os passeios no parque. Tímido, diz que não tem namorada, só a bola.