MOSCOU - “Os senhores terão de se afastar. Um convidado muito importante está por chegar”. Foi assim que a gerência de um hotel de luxo de Moscou avisou a imprensa sobre a iminente chegada de Joseph Blatter, ex-presidente da Fifa, para acompanhar de perto da Copa do Mundo da Rússia.
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Desafiando sua suspensão do futebol, o suíço está na Copa. Ocupando a presidência da Fifa entre 1998 e 2015, ele foi convidado pessoalmente pelo presidente Vladimir Putin para o torneio e garante que irá ver o jogo do Brasil, contra a Costa Rica, em São Petersburgo.
Blatter foi obrigado a renunciar de seu cargo depois que sua entidade foi assolada por um escândalo de corrupção sem precedentes. Cartolas foram presos em Zurique, enquanto a entidade foi obrigada a destinar mais de US$ 60 milhões em honorários para que fosse defendida por advogados. Em 2015, ele foi suspenso por seis anos do futebol, depois que sua pena foi reduzida em dois anos por conta dos “serviços ao futebol” que ele havia prestado. Sua punição não o impede de entrar num estádio de futebol. Mas não entre os dirigentes e a Fifa esperava que ele nunca mais aparecesse em um evento oficial.
Símbolo de uma entidade corrupta, Blatter passou a ser evitado pela nova geração de dirigentes, enquanto o novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, usa cada discurso para insistir que já “virou a página” e que hoje sua entidade não tem relação com o passado.
Por alguns instantes, porém, tudo parecia como se ele jamais tivesse deixado o futebol, ainda que a viagem seja a primeira para compromissos oficiais desde sua queda, em 2015.
Sua recepção para sua 11a Copa do Mundo foi como nos velhos dias da Fifa: ampla segurança, carros negros de luxo, homens que lhe abriam portas, câmeras de foto, jornalistas e até torcedores que queriam tirar fotos com o ex-comandante do futebol mundial. Como sempre fazia quando era presidente da entidade, ele fez questão de apertar a mão de todos os jornalistas e perguntar: "como vão todos?". Até o velho terno azul, sem gravata, parecia ser o mesmo, enquanto ele percorria um salão de piso de mármore e lustres de cristal. Só uma coisa ele não tem mais: o poder sobre o esporte mais popular do planeta. Num acordo de cavalheiros, Blatter e Infantino não irão se cruzar, não ficarão no mesmo hotel e nem estarão nos mesmos jogos nos próximos dias. Assim, o suíço deve assistir nesta quarta-feira a partida entre Portugal e Marrocos. Ao Estado, ele confirmou com exclusividade há dois dias que um dos jogos que iria seria do Brasil. Sorridente, mas visivelmente cansado, Blatter não quis responder ao Estado se achava que o gol de empate da Suíça havia sido legal ou não contra o Brasil. Mas apenas brincou: “não vim aqui analisar jogos. Vim apenas desfrutar da Copa do Mundo”, disse. Mas sua presença continua sendo a imagem da Fifa para o público. Os torcedores Adriano Ricou e Maximiliano Vasques explicaram que pediram para tirar uma foto com Blatter “por ele representar” a entidade. “Ele é corrupto, mas ele é a Fifa”, disse Vasques, embrulhado desde domingo numa bandeira do México. Questionados sobre quem seria o atual presidente da Fifa, nenhum dos dois sabia dizer o nome. “Qual era mesmo o nome dele?”, se esforçavam para lembrar, envergonhados de não saber quem havia substituído “a imagem da Fifa”.
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