O futebol brasileiro é cada vez mais um grande negócio ... para os empresários do ramo e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Aos poucos, a entidade amplia a exploração da marca da equipe pentacampeã mundial e fortalece um filão que se solidificou em 2003: o de promover seleções amadoras ? já existem a sub-20, a sub-18, a sub-17 e a sub-15. Vestem a mesma camisa, a de cinco estrelas, a sub-23 e a principal, dirigida por Carlos Alberto Parreira. As seis seleções só este ano disputaram 13 competições internacionais, com 80 jogos em solo estrangeiro, e levaram o uniforme verde-e-amarelo para 17 países, percorrendo quase 330 mil quilômetros, o equivalente a dez voltas ao redor do planeta. A maioria dos torneios é bancada pelos organizadores ? Confederação Sul-Americana de Futebol e Fifa. Outros só são realizados graças à presença do Brasil. Em geral, as despesas com passagem aérea e hospedagem não recaem sobre a CBF. Esse excesso agrada muito aos atletas e, poucas vezes, aos clubes. Há uma corrente contrária a tantas competições e convocações num período tão curto. Episódios mais recentes expuseram a preocupação do Santos de ter seus dois melhores jogadores, Diego e Robinho, cobiçados ao mesmo tempo pelas seleções sub-20, sub-23 e principal. Nos últimos dias houve várias reuniões entre dirigentes da CBF técnicos de algumas seleções e o coordenador das categorias de base da entidade, o ex-jogador Branco, para definir critérios nas listas. "A gente vê todos os lados para chegar a um acordo", explicou Branco. Para o coordenador- técnico Zagallo, há uma certa incoerência no protesto dos clubes. "Deveriam ser os mais interessados porque a seleção promove e valoriza o jogador", disse. Talvez a questão seja exatamente essa: a da valorização do atleta. E ela traz um paradoxo. De acordo com dois empresários de futebol do Rio, que pediram que seus nomes não fossem revelados, as seleções amadoras são compostas em boa parte por jogadores já compromissados com negócios. Ou seja, estariam atrelados a empresários. Eles não souberam afirmar se isso ocorre antes ou depois da convocação. Disposta a manter boa relação com autoridades estrangeiras, a direção da Fifa e os investidores do futebol, a CBF acolhe sistematicamente convites para levar alguma seleção ao exterior. A sub-23, por exemplo, só disputou a Copa Ouro, em julho, no México e Estados Unidos, para atender a uma solicitação do presidente da Fifa, Joseph Blatter. A proximidade da CBF com os empresários de futebol pode ser atestada também nos jogos da seleção principal, quando é comum a presença de investidores no hotel da delegação, como ocorreu ostensivamente na última partida das eliminatórias do Mundial de 2006, contra o Equador, em Manaus. Em meio a essa sucessão de torneios, viagens e promoções, alguns absurdos são cometidos. O Cruzeiro, ao longo do ano, cedeu 18 atletas para as seleções. Perdeu seis deles. O Corinthians teve 17 nomes relacionados, isto é, um time completo com 11 titulares e seis reservas, parcialmente desfeito pela intromissão dos negociadores. Do clube paulista, quatro dos convocados já tomaram outro rumo: Angelo e Marcinho (sub-23) e Kléber e Fábio Luciano (seleção principal).