Quando era menino, o esguio Ivan Perisic ajudava na granja da sua família, nas redondezas de Omis, no litoral da Croácia. Essa função valeu a ele o apelido de Koka. Foi na sua casa que, em 1998, viu sua seleção perder para a França na semifinal da Copa do Mundo, de virada.
“Lembro-me muito bem daquele dia: eu vestido com a camisa da Croácia, consolando a minha mãe, que chorou muito, depois que o Thuram marcou dois gols e a França virou aquela partida”. Quatro anos depois de encarar os franceses em Moscou, em uma final de Mundial, na Rússia, Perisic e seus companheiros da seleção croata têm mais uma oportunidade de fazer história: se superarem a Argentina de Lionel Messi, no Estádio Lusail, às 16h (de Brasília), eles levarão a Croácia à segunda final consecutiva em um Mundial.
Envolvido em seis gols e quatro assistências, desde que estreou no Mundial de 2014, no Brasil, ele igualou – e pode superar – o artilheiro Davor Suker, que levou a Croácia ao terceiro lugar mundial, em 1998, na Copa da França. Para dar uma ideia do que significa esta marca de Perisic, entre todos os jogadores que disputam o Mundial do Catar, apenas o argentino Lionel Messi (oito gols e quatro assistências) e o francês Kylian Mbappé, obtiveram marcas melhores do que as dele. Além dos dois foras-de-série, nenhum outro jogador chegou perto do que ele conseguiu.
Isso só aconteceu graças à sua persistência. Em 2006, quanto tinha 17 anos, antes que tivesse assinado o seu primeiro contrato profissional, o Sochaux, da França, decidiu oferecer 360 mil euros para contratá-lo. Era quase quatro vezes mais do que a diretoria do Hadjuk propôs para que assinasse o seu primeiro vínculo: e lá foi ele para longe de Omis, de Split e da Croácia, a bordo do jatinho particular que os franceses mandaram para buscá-lo, assim que o contrato fosse assinado.
Em um tempo em que a Croácia apenas começava a reerguer da guerra que irrompeu em várias partes da Iugoslávia, da qual seu país fazia parte – e se separou – o dinheiro pago pelos franceses para ter Perisic no seu time foi um alívio para a combalida situação financeira da família.
A carreira de Perisic
Quis o destino que apesar do faro de gol precoce do croata, o Sochaux não o utilizasse, exceto em um amistoso. Sem espaço no time francês foi emprestado para o Roselare, da Bélgica, em 2009. E, foi ali, que tudo começou. Em vinte partidas, marcou oito gols, ganhou fama de goleador – e em questão de meses, era uma das estrelas do Brugge, um grande clube da Jupiler League, a liga belga da primeira divisão.
Não deu outra: com um gol ou uma assistência a cada 136 minutos, Perisic foi o destaque durante dois anos seguidos. E foi para o Borussia Dortmund, da Alemanha, na época treinado por Jürgen Klopp, que já era considerado um técnico diferenciado. Mas, que não gostou quando foi cobrado pelo croata, que reivindicava um lugar no time titular. E acabou sendo emprestado ao mais modesto Wolfsburg. Continuou goleador e só jogou em times grandes, desde então: Internazionale de Milão, na Itália, Bayern de Munique, na Alemanha, e, agora, o Tottenham, da Inglaterra.
E, claro, na seleção da Croácia, em que já ajudou a conquistar o vice-campeonato mundial, na Rússia, em 2018. E acredita que pode ir além, agora, no Catar. “Contra a Argentina termos que jogar do primeiro minuto até os acréscimos”, disse Perisic, na entrevista coletiva que concedeu, antes da partida decisiva contra a Argentina, no estádio Lusail, que vale uma vaga na final da Copa do Mundo.
E, para quem ainda ousa duvidar das chances da seleção da Croácia, ele tem um argumento na ponta da língua. “Nós, os croatas, somos um povo que não desiste nunca”, disse. “Poucos apostavam que estaríamos nesta fase da Copa do Mundo, em 2022, mas aqui estamos”.
Filho fã de Neymar
Ivan Perisic escreveu ao jogador da seleção brasileira Neymar agradecendo pelo carinho com seu filho Leo, que recebeu um abraço do camisa 10 após a eliminação na Copa do Mundo. “Obrigado, Neymar. Significou muito para ele”, escreveu o ícone da seleção croata. Vestido com a camisa com o número do pai, Leo Perisic foi consolar Neymar após o jogo. O atacante brasileiro estava com o jogador Daniel Alves no momento e foi até Leo para retribuir o carinho.
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