Quando o goleiro Sílvio Luiz cobrar o tiro de meta, aos 14 minutos do segundo tempo, será inevitável a lembrança de Serginho caído no gramado do Morumbi, morto, na mesma área, no mesmo lugar, uma semana atrás. Os 31 minutos restantes do confronto entre São Paulo e São Caetano, a partir das 20h30 desta quarta-feira, serão, seguramente, os mais tristes dos últimos tempos no futebol brasileiro. Os clubes reclamaram da CBF de retomar a partida do momento em que havia sido paralisada. A explicação: vai, de forma desnecessária, lembrar, mais uma vez, o desagradável episódio. O melhor, dizem, seria marcar novo jogo, mais para a frente, com nova súmula. A CBF, no entanto, não acatou a idéia e preferiu dar prosseguimento ao duelo do Campeonato Nacional interrompido na segunda etapa, por causa do ataque cardiorrespiratório sofrido pelo zagueiro do São Caetano. A ordem dos dois treinadores, agora, é tentar esquecer o que aconteceu e retomar a briga pelo título ou, pelo menos, por uma vaga na Libertadores de 2005. Se é que isso é possível. "Acho que o São Caetano vai ficar ainda mais forte na competição e o último título que o Serginho pode conquistar é esse, então, vamos atrás dele", declarou o técnico Péricles Chamusca. Se a equipe do ABC for campeã, a família de Serginho receberá, da diretoria, a medalha e o prêmio pela conquista. O atleta teve, sem dúvida, importante participação na campanha. Chamusca comandou, nesta terça-feira, o primeiro treino aberto à imprensa desde a morte de Serginho. O elenco fez questão de mostrar que, apesar de ainda sofrer com a perda do amigo, vem se esforçando para superar o trauma. Após coletivo de pouco mais de 30 minutos, os jogadores participaram de um "rachão" - jogo em que dois times se enfrentam em metade do campo -, no qual fizeram brincadeiras, deram risada e se abraçaram. O médico Paulo Forte, um dos mais abalados com o caso, também participou do bate-bola. "Tive seis anos de convivência com o Serginho, ele era como um irmão para mim, mas deve estar num bom lugar", afirmou o zagueiro Dininho. "A gente vai buscar força para voltar a jogar." Escalação - O treinador do São Caetano elegeu o jovem Jonas, de apenas 17 anos, como o substituto de Serginho para o jogo desta noite. Na opinião de Chamusca, um empate será mais prejudicial ao São Paulo do que ao seu time, mas também não poderá ser considerado bom resultado. A equipe do ABC, apesar de estar 7 pontos atrás dos líderes - soma 65 -, tem uma partida a menos que os adversários, além da desta terça-feira. O São Paulo, também com 65, vem de derrota para o Figueirense e, se tropeçar mais uma vez, fatalmente ficará fora da luta pelo primeiro lugar. Por isso, o técnico Emerson Leão promete pôr o time no ataque durante os 31 minutos, pressionando o rival em busca do gol. "Vamos ter de correr risco, esses 31 minutos serão fundamentais para as nossas pretensões, que são o título." O confronto recomeçará da forma como havia parado, com o placar de 0 a 0, o mesmo juiz, Cléber Wellington Abade, e os mesmos jogadores - Jean já havia entrado no lugar de Nildo no São Paulo e Jonas substituirá Serginho no São Caetano. Rogério Ceni, Fabão, Paulo Miranda e Fabrício Carvalho continuam com o cartão amarelo que haviam recebido.