Nem mesmo o empate contra o Botafogo-SP foi capaz de barrar o entusiasmo santista com um dos maiores acontecimentos de sua história mais recente: o retorno de um dos ídolos do clube à sua equipe de origem. Ainda que decepcionados com a atuação do time, os cerca de 15 mil torcedores que presenciaram a memorável partida do Santos nesta quarta-feira, 5, conversavam entre si: “O jogo foi ruim. Ah, mas o Neymar...”
Depois de um ano desesperançoso na Série B, o pior já vivido pelo clube, os alvinegros praianos receberam aquilo pelo que vem pedindo já há anos. Um dos mais famosos Meninos da Vila ressurgiu sob nova alcunha — “príncipe da Vila”, aquele que carregará o legado e a camisa 10 de Pelé —, com a função de liderar o elenco em tempos de reconstrução.

Não era preciso ser um frequentador assíduo da Vila Belmiro para saber que algo estava diferente. As ruas em torno do local, mais cheias do que de costume, receberam multidões de santistas. Acompanhando-os, os mais diversos veículos de imprensa — o Estadão entre eles —, prontos para registrar um dos retornos mais aguardados do futebol brasileiro.
E não há palavra mais certeira para descrever o sentimento dos torcedores que horas antes já esperavam a abertura dos portões: é euforia. Entoavam o cântico “olê, olá, Neymar” aficionados de todas as idades: dos que viram Pelé aos que sequer se recordam de Neymar. Em um bar ao lado da Vila, uma TV não passava qualquer jogo recente. Era Santos e Peñarol, pela final da Libertadores de 2011, que era transmitido. O Menino da Vila marcou um gol na ocasião.
Uma hora antes da partida começar, as arquibancadas já estavam cheias. “Eu nunca entrei tão cedo em um estádio”, comentou um torcedor. A ansiedade era esperada: no domingo, dia da venda dos ingressos para o confronto, o site do Sócio Rei, programa de associados do Santos, não suportou a quantidade de acessos e caiu. Os bilhetes esgotaram no mesmo dia. Tão rapidamente eram vendidos também os copos especiais da partida: um deles no mesmo tom da reconhecida camisa azul consagrada pelo jogador, acompanhado de seu novo número.

Logo antes do início do jogo, uma grande empolgação veio com o aquecimento das equipes. Foi a primeira vez que, diante de sua torcida, Neymar reapareceu como atleta do Santos. O ídolo foi recebido por gritos e por um caloroso “Parabéns pra você” — era seu aniversário de 33 anos. Depois, houve mais expectativa, dessa vez com o anúncio da escalação. O nome do craque, é claro, foi deixado por último na lista e mais uma vez gerou comoção. Torcedores gritaram no apagar dos refletores, com as luzes de suas lanternas acesas.
Já era óbvio para os santistas que Neymar não seria titular na partida. Recém-recuperado de uma grave lesão, o jogador ainda está se habituando aos campos. Ainda assim, o Santos saiu na frente no placar. Tiquinho Soares, outro nome que tem ganhado elogios da torcida, fez o primeiro e único gol da equipe no jogo em uma cobrança de pênalti aos 38′.
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O ídolo santista só entrou mesmo no início da segunda etapa. Ovacionado, fez os santistas cantarem ainda mais alto. Após o apito do juiz, foi ao chão em poucos minutos e, em vez de reclamações, gerou risadas. O bom humor causado pela sua volta fazia ser quase impossível ouvir qualquer ofensa direcionada a ele. “Se esse cara jogar dez minutos por jogo, já está bom”, disse um dos que estavam no estádio.

Aos que puderam ouvir os gritos das arquibancadas, ficou claro que a torcida alvinegra possui um novo protegido. Neymar foi ovacionado sempre que tocou na bola e, nas mutas vezes em que foi derrubado pelos adversários, foi defendido por seus fãs, que logo começaram a gritar “uh, vai morrer” aos ribeirão-pretanos. Cada passe do ídolo causou encantamento nos santistas, impressionados toda vez que ele fazia um chute chegar a qualquer um de seus companheiros.
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A sensação geral é de que a habilidade do “príncipe da Vila” está acima da dos demais jogadores do próprio elenco. Até por isso, Neymar foi considerado o craque da partida mesmo jogando somente 45 minutos. “Viajou não sei quantas horas e jogou mais do que todos eles”, disse um torcedor sobre o reestreante na saída do estádio. “Os caras não telegrafam o que ele faz”.
Neymar pode até ter saído de sua primeira partida sem um gol ou uma assistência, como era a expectativa de muitos dos torcedores que rodeavam a Vila durante a tarde. O resultado do NeyDay foi positivo da mesma maneira: o dia da volta em definitivo do ídolo, tida como um gesto de amor e gratidão, tornou-se o marco de uma nova era para o clube. E ficou o sentimento de que, ainda que tenha sido ele o aniversariante, foi cada um dos aficionados pelo Santos quem ganhou um grande presente.