Cenas registradas na Vila Belmiro, nesta quarta-feira, no clássico entre Santos e Corinthians, escancaram a questão da segurança nos estádios brasileiros. No segundo tempo, torcedores santistas atiraram bombas e rojões em direção ao gramado. Os protestos visavam a situação do clube, mas quase atingiram atletas, como o goleiro Cássio. O jogo foi paralisado por dois minutos e, depois, encerrado pelo árbitro Leandro Pedro Vuaden. Seguranças tiveram de formar um cordão de isolamento no centro do gramado, onde os jogadores se protegeram.
Esse corpo de profissionais, presente em todos os estádios brasileiros, é de responsabilidade dos clubes. Se no entorno das arenas a polícia civil e militar faz a proteção do local, estes stewards – como são chamados na Europa – fazem a proteção da torcida, e por vezes dos jogadores, em cada partida.
O jogo desta quarta-feira não foi a primeira ocasião em que este corpo de profissionais esteve na mira, após conflitos da torcida. Em 2022, novamente em um Corinthians e Santos na Vila Belmiro, tiveram de intervir após bombas e rojões foram atiradas em direção ao gramado. O estádio, inclusive, será interditado para a torcida nos próximos jogos. Essa função não é primária no trabalho de segurança efetuado durante os jogos, mas é necessária.
Contratados pelo clube mandante ou pela dona do estádio, os stewards são profissionais, geralmente terceirizados, que atuam na orientação, organização e segurança dos torcedores a cada jogo. A torcida é o escopo neste trabalho; aos jogadores, árbitros e comissão técnica, há a presença da polícia militar, que entra em campo em casos de violência.
Em sua atuação, além de orientar os torcedores aos seus devidos setores e assentos nas arquibancadas, os stewards ficam, de costas, em frente ao acesso do campo às arquibancadas, para evitar a invasão da torcida no jogo. Os profissionais da categoria ganharam reconhecimento no País após o Mundial de 2014, quando estiveram presentes em massa nos estádios brasileiros. Em todas as competições internacionais, a Fifa investe a segurança na mãos desses trabalhadores.
Na ocasião, cerca de 50 mil profissionais foram designados para trabalhar nos 64 jogos do torneio. Eles também estão presentes em inúmeras outras competições ao redor do mundo, como as Eliminatórias da Eurocopa, Champions League, entre outras.
Muitos não assistem aos jogos, mas são peças fundamentais para o “bom funcionamento do espetáculo”, conforme afirmam fontes ouvidas pelo Estadão. Na partida entre Santos e Corinthians nesta quarta-feira, é apontado que a “revista simples” dos seguranças permitiu que torcedores entrassem com bombas e fogos de artíficio, presos à perna, na arquibancada.
“O trabalho (de revista) não é feito pela Polícia Militar. O trabalho é feito por empresas de segurança privada. Eles que fazem esse trabalho, a PM fica na retaguarda caso eles tenham algum problema com algum torcedor”, afirmou, nesta quinta-feira, o delegado Cesar Saad, da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE), em entrevista à Band News.
Treinamento dos ‘Stewards’
Apesar de terceirizados, os seguranças passam por rigoroso treinamento de qualificação pelos clubes. “Os seguranças não são responsabilidade das federações”, apontam fontes à reportagem. À CBF, que organiza o Campeonato Brasileiro, cabe garantir o andamento do jogo, por meio dos delegados e oficiais em cada partida. A Confederação não interfere em questões de segurança.
Diferentemente dos corpos da Polícia Militar e Civil, presentes nos arredores dos estádios, os stewards têm, como equipamento, apenas um colete, que os diferencia de torcedores e membros da imprensa. Armas, cassetete e bombas de efeito moral são exclusivas para o efetivo policial. Nesta semana, por exemplo, foram responsáveis por escoltar os jogadores do Santos em direção ao túnel do vestiário.
Na 8ª rodada do Brasileirão deste ano, a média de público nos estádios foi superior a 32 mil. É esse número de torcedores que os seguranças precisam orientar a cada partida.
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