Tite vive seus últimos dias à frente do Brasil. Na iminência de se tornar o único treinador da história a comandar a seleção brasileira em duas Copas do Mundo seguidas sem ter vencido a primeira delas, o técnico disse estar em paz, relaxado e “um pouco mais Adenor”.
O frio na barriga ele ainda sente na véspera da estreia da seleção diante da Sérvia, no Estádio Lusail, mas é menor do que sentiu na Rússia há quatro anos, quando estreou em Mundiais depois de iniciar o trabalho na metade do clico para aquela Copa em solo russo. O Brasil estreia nesta quinta, contra a Sérvia.
Agora, teve a oportunidade de estar à frente do time em um período inteiro, calma para passar as suas ideias e ver a equipe evoluir e se classificar ao Mundial do Catar com muita facilidade nas Eliminatórias Sul-Americanas.

“O aprendizado é teórico, mas é fundamentalmente prático. Estou um pouco mais leve, em paz, um pouco mais Adenor”, contou o treinador na principal sala de coletivas em Doha. O espaço esteve lotado como se viu apenas quando Lionel Messi apareceu no local no último domingo.
O gaúcho de 61 anos se sente privilegiado, sobretudo porque a decisão da CBF de mantê-lo no cargo mesmo sem o título em 2018, quando o time foi eliminado pela Bélgica nas quartas de final, representa uma quebra de paradigma. Nunca antes um treinador que não ganhou um Mundial comandou a seleção na Copa seguinte.
Apenas Zagallo havia sido o treinador em duas Copas consecutivas, mas ele seguiu no comando depois de ter vencido a primeira delas. O Velho Lobo conquistou o tri em 1970 e foi mantido para 1974, edição em que o Brasil terminou em quarto lugar. Cabe lembrar que Telê Santana também dirigiu a seleção em duas Copas seguidas, em 1982 e 1986, mas não de forma ininterrupta, uma vez que ele deixou o cargo e retornou mais tarde.
“Não é usual. O Brasil tem uma tradição muito forte, o gosto e a paixão pelo futebol (são enormes). Essa quebra me dá paz para fazer um trabalho com início meio e fim e me dá também uma chance maior de sucesso porque me dá tempo (de trabalho)”, afirmou Tite.
“A possibilidade de sucesso é maior, diferentemente do outro estágio, que foi de recuperação, completou, em referência ao trabalho que terminou na Copa da Rússia. “Eu recebi mensagem do Abel Braga, campeão do mundo, do Paulo Autuori, e de tantos outros técnicos. Sou privilegiado”.

O nervosismo no Catar é menor para Tite, mas 16 dos 26 atletas convocados jogarão seu primeiro Mundial, o que, naturalmente, provoca ansiedade. “Temos o maior torneio do mundo, os maiores atletas do mundo, talvez a maior visibilidade de um esporte do mundo. Mas temos de ser o que somos na nossa essência”, pediu o técnico equiparando seu discurso com o do torcedor brasileiro.
Cléber Xavier, auxiliar de Tite há duas décadas, também respondeu a perguntas na coletiva. “Vou deixar o Cléber responder porque daqui não aguentamos mais a pressão, daqui a pouco eu largo o time”, brincou Tite em dado momento. Ele já definiu desde o início deste ano que não continuará no cargo depois do Mundial.
No fim da entrevista, Tite foi cercado por jornalistas para responder a mais questionamentos. Chegou também até a ser tietado por repórteres estrangeiros e tratou todos com cordialidade. Informalmente, explicou por que deu a Thiago Silva a braçadeira de capitão e contou que o rodízio de capitães implementado na Rússia não seguirá no Catar. Será o defensor o único a usar a faixa durante todo o torneio.