Torcedor agredido na saída do Mineirão processa clube

Em 2003, Cléscio Galvão sofreu várias fraturas em um arrastão e decidiu entrar com ação contra o Cruzeiro, pelo qual torce

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Foto do author Almir Leite

SÃO PAULO - No final da noite de 28 de maio de 2003, o advogado Cléscio César Galvão deixava o Mineirão feliz, em companhia de alguns amigos. Seu time, o Cruzeiro, acabara de vencer o Goiás por 2 a 1 e estava na final da Copa do Brasil - viria a conquistar o título. A alegria, porém, logo se transformou em pesadelo. Um violento arrastão na frente do estádio custou-lhe, além dos prejuízos materiais, algumas fraturas no rosto e vários dias de cama.Passado o susto, as dores, a revolta, veio a indignação. Galvão não se conformava com o ocorrido e decidiu buscar reparação legal. O Estatuto do Torcedor estava recém-implantado e foi nele que o advogado se baseou para processar o Cruzeiro, mandante e, portanto, responsável pela organização do jogo, por danos morais e materiais.“Eu achei que iria morrer. Senti o rosto inchar na hora (da agressão). Só quem passa por isso sabe o que é. Foi uma comoção na época e, como o Estatuto era um fato novo, isso ajudou", recorda Galvão sobre a decisão de acionar o Cruzeiro. O advogado recorreu ao artigo 14 do Estatuto, que diz que cabe ao clube mandante garantir a segurança dos espectadores.Como quase todos os processos judiciais, a ação impetrada por Cléscio Galvão se arrasta nos tribunais. Recentemente, uma decisão de segunda instância, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, condenou o Cruzeiro a indenizar o advogado/torcedor em R$ 6 mil, por anos morais e materiais. Segundo Galvão, o clube entrou com recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).Galvão também reagiu e acionou a Justiça contestando o valor determinado. “Achei irrisório. Entendo que deve-se recorrer a algum parâmetro para se calcular a indenização. Por exemplo: quanto ganhava o craque do time (o meia Alex, hoje no Fenerbahçe turco) ou o Vanderlei Luxemburgo (o treinador daquele time) na época? A indenização é para compensar, não para reparar o dano."O torcedor diz que em nenhum momento o Cruzeiro entrou em contato com ele, propondo algum tipo de ajuda ou mesmo para um simples gesto de solidariedade. “E não é só o Cruzeiro que age assim em casos semelhantes. Pelo que vejo, há uma tentativa dos clubes de não deixar o Estatuto pegar. Pelo menos, tenho essa impressão", complementa Galvão.Questionado sobre o por que de não ter acionado a Polícia Militar, responsável pela segurança pública - a agressão ocorreu fora do Mineirão -, o advogado argumentou: “O Estatuto prevê que a responsabilidade objetiva é do clube mandante do espetáculo. Depois, o clube pode entrar com uma ação de regresso (contra a PM) se quiser".Apesar do sufoco por que passou naquela noite, Cléscio Galvão diz que poderia ter sido ainda pior. Isso porque o caçula de seus três filhos, na época com cinco anos, queria porque queria ir ao jogo. “Pensei em levá-lo, pois seria tranquilo. Mas acabei deixando-o em casa, aos berros. Depois do que aconteceu, fiquei quase sete anos sem ir a um estádio. E só o levei para ver o Cruzeiro jogar recentemente."