Este é um encontro em que os tradicionais adversários se apresentam com as características invertidas. Conhecido historicamente por sua opção de sempre buscar o gol, correndo riscos, o Brasil chega a essa quarta rodada das Eliminatórias com apenas quatro gols marcados. O mesmo número conseguido por Javier Chevantón, o principal atacante uruguaio. Sim, o Uruguai que nos últimos 30 anos tem se caracterizado por um jogo defensivo e violento, já marcou oito vezes, o dobro que o Brasil. E sofreu cinco gols, 150% a mais do que o Brasil, que levou apenas um gol da Colômbia, outro do Peru e saiu incólume diante do Equador. Essa inversão de valores tem muito a ver com o perfil de cada treinador. Parreira, campeão mundial, é conservador. Suas substituições são previsíveis e sua ideologia é buscar sempre um time equilibrado em suas linhas. Carrasco, ao contrário, veio para mudar. Ele sonha em ficar marcado como alguém que fez o Uruguai voltar aos tempos em que era uma potência. Por isso, quer atacar sempre. Se Parreira acredita que a formação de um time passa pela repetição constante da formação - quando não está dando certo, não tem medo de mudar - Carrasco muda o time conforme o adversário. E muda de esquema quando joga em casa ou fora. O Brasil tem jogado sempre no esquema 4-3-2-1, com quatro zagueiros, três volantes, dois armadores e um atacante. Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, os armadores, unem-se constantemente a Ronaldinho. E Roberto Carlos, quem há de negar, muitas vezes é ponta-esquerda. Cafu, pela direita também apóia. O que tem deixado a Seleção muito lenta é a pouca mobilidade de Gilberto Silva e Zé Roberto, que, mais auxiliam Emerson do que se aventuram ao ataque. A entrada de Renato pode começar a mudar tudo. Carrasco, fora de Motevidéu, tem jogado no esquema 4-3-1-2, com Chevantón e Forlán no ataque, sempre recebendo o auxílio de Recoba. A maior diferença, em relação ao Brasil é a mobilidade dos três volantes. Apenas um deles, a revelação Marcelo Sosa, é especialista em marcação. O volante de contenção. Os outros dois saem muito. Pela esquerda, joga Nuñez, que joga na Suiça como centroavante e na direita, joga Liguera, que atua no Mallorca da Espanha, como meia. Os laterais, ao contrário do Brasil, atacam pouco. Bem, mas Brasil é Brasil e Carrasco sabe disso. Ele já acena com a escalação de Nelson Abeijón, um duro volante de marcação, que faria dupla com Sosa, marcando mais atrás. E, como Renato dá mais mobilidade ao meio-campo, Brasil e Uruguai terão menos diferenças do que o previsto. A ironia é que, para isso, o Uruguai tenha de abdicar da volúpia ofensiva e o Brasil dos cuidados defensivos. Há muito tempo as coisas são diferentes.