Depois do que se viu no ano passado, não dá pra descartar zebras, mas arrisco dizer que agora o Mundial caminha para uma briga entre Hamilton e Massa até o final. Só falta a Ferrari reconhecer isso de uma vez e dedicar a Massa o foco principal, situação que Hamilton desfruta na McLaren. Nunca fui a favor da hierarquia pré-definida como acontecia na Ferrari de Schumacher e acontece hoje na McLaren de Hamilton, mas, nessa altura do campeonato, uma escolha é essencial para não ficar em inferioridade de condições perante o adversário. Quem tiver menos pontos passa a correr pelo time. Não é o que Felipe teve de fazer na hora da decisão em pleno Interlagos? Claro que ainda não chegou a hora da decisão, mas a briga neste ano é diferente do ano passado e a McLaren conta com um piloto que, além do grande talento, aprendeu a jogar o jogo, com a experiência vivida no último campeonato. O desempenho de Felipe nas duas últimas corridas impressionou até a própria Ferrari. Tanto na Hungria como agora, em Valência, ele não deixou o mínimo espaço para pressão, mostrando que as coisas já se inverteram de novo. O domínio da McLaren em Silverstone e Hockenheim é passado. A Ferrari voltou a ser melhor em classificação e corrida. Na classificação, a McLaren ainda consegue ameaçar, mas, em condições de corrida, a Ferrari dispara. E é aí que entra a estratégia de Hamilton. Ele passou a correr pra chegar em segundo, enquanto espera uma oportunidade de dar um bote e ficar à frente de Massa em qualquer posição. Com a vantagem que tem (6 pontos), cada vez que Hamilton perder menos de 2 pontos em relação ao brasileiro, o saldo ainda será positivo para ele. Pelo menos, enquanto espera uma nova reação da McLaren para recuperar o terreno perdido para a Ferrari, o que é perfeitamente possível em um ano equilibrado. Se isso não acontecer, ele vai tentando empurrar a briga para jogar tudo numa corrida final em Interlagos. A pressão é grande dos dois lados. Sobre a Ferrari paira o medo de novas quebras de motor, depois das duas consecutivas, embora em ambos os casos as bielas quebradas (do Felipe na Hungria e do Kimi em Valência) tenham vindo de um mesmo lote de peças que já foi abandonado (o fabricante é a Pankl, empresa austríaca). Sobre a McLaren paira a síndrome da derrota de 2007, quando Hamilton tinha o campeonato na mão. Um indício de que a Ferrari parece ter entendido que Felipe merece todo o apoio é que ele foi o piloto a treinar mais tempo nos testes de Monza, que terminam hoje. Resta desfazer qualquer dúvida a respeito da confiabilidade do motor. Os dois próximos circuitos são os que mais exigem do motor - 70% de aceleração plena durante uma volta em Spa e 76% em Monza. O motor estourado a duas voltas e meia de uma vitória certa na Hungria acabou não sendo a catástrofe que parecia ser. Felipe levantou a cabeça e viu que, depois daquilo, sobrou apenas um caminho - correr pela vitória em todas as seis corridas que faltam. Como até hoje sempre que se viu obrigado a isso o resultado foi bom, vale a torcida de quem espera ver uma decisão de título em Interlagos com Felipe liberado pra fazer a sua corrida. Quem sabe até coincidindo com a 100ª vitória brasileira na F1. Só faltam 3.
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