Kremlin manipulou doping em praticamente todos os esportes

Países pedem exclusão completa de Moscou da Olimpíada do Rio

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Por Jamil Chade - Correspondente em Genebra
Atualização:

Uma investigação independente liderada pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelou que o governo russo de Vladimir Putin fraudou os testes de laboratório antes e durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, para beneficiar seus atletas. A revelação está sendo seguida por um apelo de dez países para que o Comitê Olímpico Internacional agora exclua a Rússia dos Jogos do Rio em todas as modalidades, e não apenas no atletismo. Imediatamente após a publicação do informe, o COI se disse "chocado" e já admite medidas que poderão ser tomadas para impedir russos de estarem no Rio. Mas não esclarece se isso significaria toda a delegação de Moscou ou apenas parte dela. Uma reunião de emergência será realizada nesta terça em Lausanne para Tomar as primeiras medidas. "Vamos estudar cuidadosamente as alegações", disse a entidade. "As descobertas mostram um ataque chocante e sem precedentes contra a integridade do esporte e dos Jogos olímpicos", alertou Thomas Bach, presidente do COI e que há um mês insistia em elogiar os russos. "O COI não hesitará em tomar as sanções mais duras contra qualquer indivíduo ou organizações implicadas", disse. Nesta terça, após o encontro, a entidade poderá tomar "as primeiras decisões e sanções provisórias com relação aos Jogos de 2016".

Presidente russo Vladimir Putin foi considerado culpado por doping de atletas Foto: VASILY MAXIMOV|AP

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As acusações são sérias. "O Ministério dos Esportes dirigiu, controlou e coordenou a manipulação dos resultados de atletas, ajudados pelo FSB (o serviço secreto russo)", declarou a investigação. O levantamento também concluiu que o serviço secreto mantinha um freezer clandestino para ajudar na operação para trocar as amostras dos resultados. A metodologia passou a ser conhecida como a de "fazer desaparecer testes positivos". "Todos os esportes foram afetados", alertou a investigação. Entre as modalidades identificadas estão atletismo, esportes de inverno e a maioria dos esportes da olimpíada de verão.

Mergulhado em sua pior crise de doping, o esporte russo já foi alvo de um abalo ao ter o seu atletismo impedido de competir na Olimpíada - apenas aqueles que conseguirem provar que passaram em controles de doping fora de país é que poderão competir. Mas, por enquanto, essa lista se limita a apenas duas atletas e ambas terão de atuar sob um bandeira "neutra" no Rio. Uma delas, Yuliya Stepanova, deixou a Rússia em 2014 e Putin a chamou de "Judas" por denunciar o esquema de doping do país. A equipe de levantamento de peso também pode ficar de fora em razão de suspeitas de doping generalizado.

Mas, agora, o informe produzido pelo advogado canadense, Richard McLaren, à pedido da Wada revela que a operação de doping foi conduzida pelo próprio governo. A investigação foi feita depois que o ex-diretor do laboratório russo, Grigory Rodchenkov, revelou ao New York Times que, durante os Jogos de Sochi, recebeu ordens para trocar as amostras de sangue e urina de dezenas de atletas. Pelo menos 15 deles ganharam medalhas.

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Segundo Rodchenkov, isso ocorreu "em cooperação com o Ministério dos Esportes" e que a mesma prática foi realizada antes de Londres, em 2012, e do Mundial de Atletismo de Moscou, em 2013. Em 2015, a troca de amostras também ocorreu no Mundial de Esportes Aquáticos, em Kazan. McLaren, em seu informe, confirmou a suspeita. "Acima de qualquer dúvida, chegamos à constatação de que o laboratório de Sochi criou um sistema de doping direcionado pelo Estado" disse. "Isso não é apenas para atletismo, mas para muitos esportes", insistiu.

Segundo ele, a metodologia consistia "em trocar amostras e permitir que atletas pudessem competir, mesmo dopados".

A investigação ainda aponta que o governo de Putin "dirigiu e controlou" o esquema de doping, usando até mesmo os serviços de inteligência da ex-KGB. O especialista indicou que chegou a isso por meio de entrevistas, revisão de milhares de páginas, análises laboratoriais e testes forenses. A ordem vinha do Ministério dos Esportes, trocando as amostras de atletas indicados pelo governo. "O governo estava envolvido nesse esquema", confirmou.

Em Sochi, a manipulação também ocorreu. Mas, com a vistoria internacional, os russos tiveram de se adaptar para fazer desaparecer as amostras. O FSB foi acionado e nenhum teste positivo para atletas russos era feito sem o serviço secreto. Os testes eram colhidos regularmente. Mas pela noite era passado para um prédio ao lado, onde ficava uma operação ilegal fora da sala. Ali,as amostras eram trocadas. 

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"Assim, os atletas podiam competir sabendo que não seriam pegos", disse McLaren. Segundo ele, Vitaly Mutko, ministro dos Esportes, não tinha como não saber.Mas o centro da operaçäo também foi liderado pelo serviço secreto russo. O Comitê Olímpico Russo também foi implicado. Isso porque alguns dos membros do Ministério do Esporte e presidentes de federações esportivas também faziam parte do Conselho do Comitê Olímpico. 

EXCLUSÃO As revelações prometem colocar uma pressão extra sobre o COI para que tome uma decisão se deve barrar toda a delegação russa do Brasil ou apenas os atletas envolvidos. Nos últimos meses, o presidente do comitê, Thomas Bach, indicou que precisaria encontrar "um equilíbrio entre responsabilidade coletiva e justiça individual". Mas agências antidoping de dez países e mais de 20 grupos de atletas prometem pedir que o COI suspenda a delegação russa completa dos Jogos do Rio, e não apenas os atletas identificados. O argumento é de que o doping era generalizado e que, hoje, não há como saber quem está limpo. Os países incluem Alemanha, Espanha, Japão, Suíça, Estados Unidos e Canadá.

Para a Associação de Agências Antidoping, a constatação da Wada é um "divisor de águas" na história do esporte. "A medida apropriada seria a de suspender a Rússia dos Jogos", disse Paul Melia, representante do Canadá. O governo russo admitiu que seu esporte tem problemas com o doping. Mas, nos últimos meses, insiste que jamais tratou o doping como política de estado.PUNIÇÃO Diante dos resultados, a WADA recomendou que o COI considere negar a entrada aos Jogos do Rio de todos os atletas russos, assim como o de impedir que dirigentes de Moscou tenham acessos aos locais dos eventos no Brasil. Isso incluiria o próprio presidente Vladimir Putin.

Para completar, a WADA ainda sugere a Fifa que abra investigações contra Vitaly Mutko, o ministro de esporte na Rússia, suposto organizador do esquema e também coordenador da Copa de 2018. Na Fifa, ele ê um dos membros do Conselho da entidade.

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